Semana nacional sem famílias
Uma semana atrás, concluí a leitura de uma obra muito exigente em toda a extensão da palavra: “Meu Deus é um Deus ferido”. O autor é um jesuíta natural da República Tcheca: Thomas Halik. A figura de Tomé no Evangelho de São João é sempre enigmática. Tomé nos representa a todos num certo sentido. Todos os que insistimos em ver as feridas do passado e acreditar que elas não trazem curas para o presente. Por que tentar saber se as coisas seriam diferentes se não tivéssemos passado pela dor da ferida? Por que voltar ao que aconteceu na sexta-feira se Ele está vivo?
O Brasil, como já aconteceu na Irlanda, em Portugal e não pouco tempo atrás na nossa vizinha Argentina, vem se degradando diante de uma situação que só fere cada vez mais a inocência do coração humano. Estamos ferindo a vida humana, as pessoas, os embriões, as mulheres e os homens; como se ainda tivéssemos que enxergar algo que não conseguimos enxergar.
Falamos em família como se não existisse, falamos em matrimônio como se não tivesse sentido. Queremos ver algumas feridas que na verdade já foram superadas e restauradas no amor de Deus. Proponho-lhes olhar para as feridas de uma outra forma.
Uma semana da família sem famílias que insistam em ver realidades do passado como algo insuperável sem antes tentar resolvê-las através do diálogo, da aproximação, do abraço e da ternura. Uma semana sem famílias que se detenham a pensar no que poderia ter sido e não foi; dando espaço à criatividade do acolher o outro tal e como ele é. Uma semana da família sem famílias que só pensam naquilo que perderam ou que simplesmente não foi planejado. Famílias que se aceitem tal e como elas são. Famílias nas quais a filiação seja sustentada na paternidade e na maternidade responsável, nas quais a fraternidade seja garantida pela caridade, nas quais ela possa ser alargada para os vizinhos e a sociedade.
Uma semana sem famílias que pensem que quando se defende a vida é questão meramente religiosa. Famílias que, independentemente do seu credo ou da fé que professam, promovam o direito à vida, que é inviolável. Uma semana sem famílias que virem as costas para Deus, fazendo de conta que quem deve decidir o futuro da família pode ser uma ONG, uma instituição ou o governo. Esquecendo que no projeto Divino a família tem raízes eternas.
Uma semana sem famílias nas quais cônjuges pratiquem violência, nas quais a mulher tenha que se esconder do seu marido ou o marido tenha que fugir da agressão da sua mulher. Uma semana da família em que sejam respeitados os direitos dos mais vulneráveis, em que a palavra “casa” não tenha nada a ver nem com hotel, nem com pensão ou com república. Em que a privacidade da família seja respeitada e o pudor seja favorecido.
Uma semana da família sem famílias nas quais não possamos celebrar o dom da vida, a dor da partida, a crueldade da doença ou a penalidade do desemprego. Uma família de verdade passa por tudo isto e muito mais.
Minha e a sua família têm de tudo um pouco, por isso quero lhe convidar a nesta semana viver intensamente sua vida familiar; ali não somos estranhos, somos o que somos pois em casa formamos a família real que temos. Ame sua família!
Proponho-lhes olhar para as feridas de uma outra forma