Folha de Londrina

Semana nacional sem famílias

- José Rafael Solano Duran JOSÉ RAFAEL SOLANO DURAN é sacerdote e teólogo da Arquidioce­se de Londrina

Uma semana atrás, concluí a leitura de uma obra muito exigente em toda a extensão da palavra: “Meu Deus é um Deus ferido”. O autor é um jesuíta natural da República Tcheca: Thomas Halik. A figura de Tomé no Evangelho de São João é sempre enigmática. Tomé nos representa a todos num certo sentido. Todos os que insistimos em ver as feridas do passado e acreditar que elas não trazem curas para o presente. Por que tentar saber se as coisas seriam diferentes se não tivéssemos passado pela dor da ferida? Por que voltar ao que aconteceu na sexta-feira se Ele está vivo?

O Brasil, como já aconteceu na Irlanda, em Portugal e não pouco tempo atrás na nossa vizinha Argentina, vem se degradando diante de uma situação que só fere cada vez mais a inocência do coração humano. Estamos ferindo a vida humana, as pessoas, os embriões, as mulheres e os homens; como se ainda tivéssemos que enxergar algo que não conseguimo­s enxergar.

Falamos em família como se não existisse, falamos em matrimônio como se não tivesse sentido. Queremos ver algumas feridas que na verdade já foram superadas e restaurada­s no amor de Deus. Proponho-lhes olhar para as feridas de uma outra forma.

Uma semana da família sem famílias que insistam em ver realidades do passado como algo insuperáve­l sem antes tentar resolvê-las através do diálogo, da aproximaçã­o, do abraço e da ternura. Uma semana sem famílias que se detenham a pensar no que poderia ter sido e não foi; dando espaço à criativida­de do acolher o outro tal e como ele é. Uma semana da família sem famílias que só pensam naquilo que perderam ou que simplesmen­te não foi planejado. Famílias que se aceitem tal e como elas são. Famílias nas quais a filiação seja sustentada na paternidad­e e na maternidad­e responsáve­l, nas quais a fraternida­de seja garantida pela caridade, nas quais ela possa ser alargada para os vizinhos e a sociedade.

Uma semana sem famílias que pensem que quando se defende a vida é questão meramente religiosa. Famílias que, independen­temente do seu credo ou da fé que professam, promovam o direito à vida, que é inviolável. Uma semana sem famílias que virem as costas para Deus, fazendo de conta que quem deve decidir o futuro da família pode ser uma ONG, uma instituiçã­o ou o governo. Esquecendo que no projeto Divino a família tem raízes eternas.

Uma semana sem famílias nas quais cônjuges pratiquem violência, nas quais a mulher tenha que se esconder do seu marido ou o marido tenha que fugir da agressão da sua mulher. Uma semana da família em que sejam respeitado­s os direitos dos mais vulnerávei­s, em que a palavra “casa” não tenha nada a ver nem com hotel, nem com pensão ou com república. Em que a privacidad­e da família seja respeitada e o pudor seja favorecido.

Uma semana da família sem famílias nas quais não possamos celebrar o dom da vida, a dor da partida, a crueldade da doença ou a penalidade do desemprego. Uma família de verdade passa por tudo isto e muito mais.

Minha e a sua família têm de tudo um pouco, por isso quero lhe convidar a nesta semana viver intensamen­te sua vida familiar; ali não somos estranhos, somos o que somos pois em casa formamos a família real que temos. Ame sua família!

Proponho-lhes olhar para as feridas de uma outra forma

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