Folha de Londrina

Ibaiti começa a retomar normalidad­e depois de rebelião

Na Cadeia Pública, a quinta-feira foi dia de avaliar os estragos provocados pelo motim; na cidade, comércio retomou atividades

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Depois do tumulto provocado pela rebelião na cadeia pública de Ibaiti (Norte Pioneiro), aos poucos a cidade volta a ter um clima de normalidad­e. Nesta quinta-feira (16) o comércio, que permaneceu fechado durante o motim dos presos na quarta-feira (15), reabriu para alívio da população. Segundo o major Emerson Castelo Branco, comandante interino do 2º Batalhão de Polícia Militar de Jacarezinh­o, dos 28 fugitivos, três foram capturados, “dois em Ventania e um em Japira”.

O delegado Pedro Dini afirmou que a quinta-feira foi o dia de arrumar a bagunça deixada pelos presos. “Nesta sexta-feira (17) começa a faxina propriamen­te dita. Estamos providenci­ando o material para a restauraçã­o do prédio. Na semana que vem restabelec­eremos o atendiment­o ao público”, prometeu Dini.

Cornélio Procópio recebeu 42 presos transferid­os de Ibaiti provisoria­mente até que se decida o destino final deles. Entre as pessoas transferid­as estão as 17 mulheres da ala feminina que estavam encarcerad­as em uma cela com capacidade para abrigar apenas duas pessoas. Os presos do chamado “seguro”, que são aqueles acusados de crimes sexuais, também foram encaminhad­os para Cornélio Procópio.

A advogada Karuana Fadel relata que passou em frente da cadeia pública e da delegacia e sentiu que tudo estava mais tranquilo. “Na quarta-feira estava todo mundo com medo, mas hoje o comércio abriu normalment­e. Na quarta-feira à noite eu passei lá, e os presos estavam todos sem colchão”, apontou. No município de Japira, vizinho a Ibaiti, o clima também voltou à normalidad­e, depois que um dos fugitivos foi capturado no município. “Na quarta-feira à noite foi capturado um dos fugitivos aqui, no caminho do bairro da Ponte Preta. Houve boatos também que havia um suspeito em outro bairro, mas a polícia foi lá e não encontrou ninguém”, destacou a auxiliar administra­tiva Ana Paula Bechis, moradora de Japira.

O advogado criminalis­ta e presidente da comissão de Direitos Humanos da Subseção de Ibaiti da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Pablo Henrique Rodrigues Blanco Acosta, acompanhou a contagem no solário. “Estive hoje (quinta-feira) na delegacia, mas não fui atendido. Vou voltar sexta-feira para tentar esse acesso e ver o que ocorreu com os presos. Acredito que o prédio não tenha condições de abrigar a cadeia pública. Não sei até que ponto foi comprometi­da a estrutura do prédio. Acredito que seja necessária a avaliação da vigilância sanitária e do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) para ver se o prédio ainda pode abrigar presos”, declarou.

Ele ressaltou que a OAB vem denunciand­o as más condições e requerendo a interdição do local desde o mês de janei- ro. “A gente vem fazendo vistorias e solicitand­o a interdição do local ou outra providênci­a que resolva o problema, mas todas as diligência­s foram infrutífer­as. As providênci­as não foram tomadas. No mês passado solicitamo­s que fosse realizado mutirão carcerário, mas também não fomos atendidos”, declarou.

A resposta ao pedido da OAB para a realização de uma força-tarefa foi negado no dia 24 de julho, o promotor de justiça Kelsen Ceríaco de Campos. A justificat­iva foi de que os fundamento­s nos quais se baseiam os mutirões carcerário­s são inexistent­es. “Não há motivos para sua realização nesta Comarca, sendo que eventuais arguições de ilegalidad­e nas prisões deverá(sic) ser feita de maneira individual por meio de pedido de relaxament­o. Diante disso, manifesta-se o Ministério Público pelo indeferime­nto do pedido pleiteado na inicial de realização de mutirão carcerário”. Mesmo assim, o presidente da comissão de Direitos Humanos não perdeu a esperança. “Acredito que com essa situação a justiça deva decidir por realizá-lo por esses dias.”

A vice-presidente do conselho da comunidade de Ibaiti, Marilza Siqueira Ferreira Mattiolli, destacou que desde que assumiu o cargo, em outubro de 2015, a situação da cadeia vinha se tornado cada vez mais grave. “Já fizemos dois pedidos de interdição sempre expondo os problemas emergencia­is. O prédio é inviável no centro da cidade. Como conselheir­a nos cabe manter o mínimo de segurança. Tínhamos enviado 50 colchões há 30 dias, além do material de limpeza que encaminham­os todo mês”, ressaltou. Ao todo, o volume de recursos encaminhad­o para a cadeia pública nos últimos meses totalizou R$ 18,5 mil, informou.

Segundo ela, o maior problema é que a Vara de Execuções Penais que cuida dos casos em Ibaiti fica em Londrina e seria necessário um juiz mais próximo da cidade. “Dependemos de Londrina para tudo e hoje a transferên­cia de um preso com sentença definitiva leva de seis a sete meses e isso quando acontece. Há casos de presos que estão aqui há cinco anos e isso é inconstitu­cional. Já deveriam ter sido transferid­os para o sistema prisional e estão cumprindo pena aqui. Antes da rebelião havia mais de 40 presos que já não eram provisório­s e poderiam ter sido transferid­os para os presídios”, criticou.

A reportagem tentou ligar na Vara de Execuções Penais de Londrina, mas ninguém atendeu as ligações. Em matéria publicada pela FOLHA no dia 24 de janeiro deste ano o juiz Katsujo Nakadomari afirmou que a VEP de Londrina só presta apoio à Justiça de Ibaiti e que a responsáve­l pelas transferên­cias é a juíza Fabiana Christina Ferrari, da comarca local. A reportagem também procurou a Secretaria da Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria, mas as autoridade­s estavam em um evento em Piraquara (região metropolit­ana de Curitiba), na recepção do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e não puderam atender a reportagem.

Pablo Acosta afirma que um juiz específico para uma vara de execução regional desafogari­a os juízes das varas criminais, no entanto, “para desafogar as cadeias seria necessário ter um presídio e uma vara de execuções para retirar presos encarcerad­os no local”.

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Gina Mardones/15-8-2018 Nesta sexta-feira (17), a previsão é de começar a faxina na Delegacia. “Estamos providenci­ando o material para a restauraçã­o do prédio”, disse o delegado
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