AVENIDA PARANÁ
Do berço ao túmulo, o ser humano será necessariamente confrontado com diversos tipos de sofrimento.
Nesta semana a cidade perdeu um de seus filhos para a depressão. Era um homem benquisto, inteligente, culto, espirituoso, alegre, ativo e respeitado; alguém que deixou um grande legado de contribuições para a nossa comunidade e fez o bem a milhares de pessoas. Ao longo do dia, a cidade ficou perplexa diante do triste acontecimento. Quando perdemos alguém conhecido para a depressão, parece que perdemos um pedaço de nós.
A dor de viver é uma condição universal e inescapável. Do berço ao túmulo, o ser humano será necessariamente confrontado com diversos tipos de sofrimento. A depressão nasce quando a dor de viver assume controle absoluto sobre a alma de uma pessoa, induzindo-a ao engano de pensar que o estado de desespero se manterá para sempre. Estou convicto de que Deus, em sua infinita misericórdia, pode perdoar aqueles que perdemos para a depressão.
O psicólogo austríaco Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, afirmava que a busca por um sentido da existência é o que sustenta o ser humano vivo, mesmo nas condições mais difíceis e degradantes. A conclusões muito parecidas chegou o escritor russo Alexander Soljenítsin, sobrevivente dos campos de concentração comunistas. As crises depressivas rompem, ainda que por um tempo limitado, esse vínculo com o sentido da vida. Mesmo uma existência plena de realizações e vitórias pode parecer, aos olhos de uma pessoa deprimida, como algo vazio e desprovido de significado. Mas não é: Frankl e Soljenítsin sobreviveram para nos contar que existe saída mesmo para os abismos mais profundos. O sofrimento é inevitável; resta saber o que poderemos fazer de bom se ele nos visitar. Quando perdemos alguém para a depressão, forçoso é prepararnos para a possibilidade do nosso encontro com a dor. Em algum momento, a cena do Horto das Oliveiras se repetirá em cada vida humana.
Por isso, tenho lido todas as manhãs os versos do poeta espanhol Antonio Machado, que parecem uma resposta aos mais melancólicos pensamentos de Hamlet sobre a morte e o sofrimento: “De noite, quando dormia sonhei, bendita ilusão!, que um ardente sol luzia dentro do meu coração. Era ardente porque dava o calor de um rubro lar, e sol porque iluminava, porque fazia chorar. De noite quando dormia sonhei, bendita ilusão!, que era Deus o que eu trazia dentro do meu coração.”
Deus pode perdoar até mesmo aqueles que a depressão levou para longe de nós