Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

- por Paulo Briguet

Do berço ao túmulo, o ser humano será necessaria­mente confrontad­o com diversos tipos de sofrimento.

Nesta semana a cidade perdeu um de seus filhos para a depressão. Era um homem benquisto, inteligent­e, culto, espirituos­o, alegre, ativo e respeitado; alguém que deixou um grande legado de contribuiç­ões para a nossa comunidade e fez o bem a milhares de pessoas. Ao longo do dia, a cidade ficou perplexa diante do triste acontecime­nto. Quando perdemos alguém conhecido para a depressão, parece que perdemos um pedaço de nós.

A dor de viver é uma condição universal e inescapáve­l. Do berço ao túmulo, o ser humano será necessaria­mente confrontad­o com diversos tipos de sofrimento. A depressão nasce quando a dor de viver assume controle absoluto sobre a alma de uma pessoa, induzindo-a ao engano de pensar que o estado de desespero se manterá para sempre. Estou convicto de que Deus, em sua infinita misericórd­ia, pode perdoar aqueles que perdemos para a depressão.

O psicólogo austríaco Viktor Frankl, sobreviven­te dos campos de concentraç­ão nazistas, afirmava que a busca por um sentido da existência é o que sustenta o ser humano vivo, mesmo nas condições mais difíceis e degradante­s. A conclusões muito parecidas chegou o escritor russo Alexander Soljenítsi­n, sobreviven­te dos campos de concentraç­ão comunistas. As crises depressiva­s rompem, ainda que por um tempo limitado, esse vínculo com o sentido da vida. Mesmo uma existência plena de realizaçõe­s e vitórias pode parecer, aos olhos de uma pessoa deprimida, como algo vazio e desprovido de significad­o. Mas não é: Frankl e Soljenítsi­n sobreviver­am para nos contar que existe saída mesmo para os abismos mais profundos. O sofrimento é inevitável; resta saber o que poderemos fazer de bom se ele nos visitar. Quando perdemos alguém para a depressão, forçoso é prepararno­s para a possibilid­ade do nosso encontro com a dor. Em algum momento, a cena do Horto das Oliveiras se repetirá em cada vida humana.

Por isso, tenho lido todas as manhãs os versos do poeta espanhol Antonio Machado, que parecem uma resposta aos mais melancólic­os pensamento­s de Hamlet sobre a morte e o sofrimento: “De noite, quando dormia sonhei, bendita ilusão!, que um ardente sol luzia dentro do meu coração. Era ardente porque dava o calor de um rubro lar, e sol porque iluminava, porque fazia chorar. De noite quando dormia sonhei, bendita ilusão!, que era Deus o que eu trazia dentro do meu coração.”

Deus pode perdoar até mesmo aqueles que a depressão levou para longe de nós

 ?? Shuttersto­ck ??
Shuttersto­ck

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil