Folha de Londrina

AOS DOMINGOS PELLEGRINI

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Além de cumpriment­ar, tratando as pessoas pelo nome se consegue mais atenção e respeito.

Luís Fernando Veríssimo quem me contou esta. Quando seu pai Érico Veríssimo morreu, a família estranhou tanta gente desconheci­da chorando diante do caixão. Descobrira­m que, como Érico tinha o costume de andar à tarde, pensando no que ia escrever no dia seguinte e cumpriment­ando todo mundo que via, aquelas pessoas, quando viram na tevê que tinha morrido quem as cumpriment­ava, foram ao velório do homem que só agora sabiam famoso e que entretanto todo dia, com seu cumpriment­o, as reconhecia e valorizava.

Por isso as palavras deste haicaipira começam com maiúscula, como os nomes das pessoas:

A Todos Cumpriment­o Nada Me Custa

Só Me Aumenta

A vida me mostrou também que, além de cumpriment­ar, tratando as pessoas pelo nome se consegue mais atenção e respeito. Sempre que me vejo diante de um guichê, olho se quem atende tem crachá com nome. Se não tem, pergunto, e só peço o que quero ali tratando a pessoa pelo seu nome (ou seja, reconhecen­do uma pessoa, não uma peça da máquina burocrátic­a). E passo a ser também tratado como pessoa.

Aprendi isso ainda rapazola, viajando em ônibus pinga-pinga em estrada de terra. Num atoleiro, todos desceram para aliviar o peso, enquanto o motorista e o cobrador lidavam com enxadões nas rodas encalhadas, colocavam correntes, e o ônibus roncava tão furioso quanto impotente, continuand­o encalhado. No cafezal ao lado, peão batia enxada. O motorista perguntou se ele sabia de algum trator para ajudar, sabia não. E vai de cá, vai de lá, o motorista desanimand­o, o cobrador foi falar com o peão, fui junto.

O cobrador perguntou o nome; Benedito dos Santos, respondeu o peão se aprumando. Seo Benedito, perguntou o cobrador, o senhor não sabe de quem possa nos ajudar? O peão foi ali perto, voltou com dois bois numa canga com corda grossa, amarrou no parachoque e, com os homens também ajudando a empurrar, o ônibus saiu da valeta e voltou para a estrada. O cobrador perguntou o preço do serviço, seo Benedito falou nem pensar, não senhor. O cobrador estendeu a mão, que aquele homem rude e seco apertou e então, só então, sorriu.

Ninguém não tem mas Todo Mundo tem seu nome neste mundo

E no grupo escolar um colega se chamava Epitácio, logo apelidado de Pipi. Ele ruborizava, baixava a cabeça, até o dia em que professora contou ter sido Epitácio Pessoa um dos presidente­s do Brasil. Ele então passou a ser chamado de Presidente, levantando a cabeça e sorrindo. Tinha passado a ser uma pessoa.

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Reprodução Epitácio Pessoa

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