Folha de Londrina

'Batalha do Centro Cívico' é lembrada por esquerdist­as

- Rafael Costa Reportagem Local Rafael Costa Reportagem Local

Curitiba -

“Confortáve­is” na dianteira da última pesquisa eleitoral, o deputado estadual licenciado Ratinho Jr. (PSD) e a governador­a Cida Borghetti (PP) fugiram do confronto direto e desviaram das perguntas dos adversário­s que os associaram ao governo de Beto Richa (PSDB) no primeiro debate entre os candidatos ao governo do Paraná, na última quinta-fei-

As discussões do primeiro debate televisivo na eleição para o governo do Paraná, escolhidas pelos próprios candidatos no formato da Band, orbitaram em torno da educação, saúde, segurança pública e agronegóci­o.

Um dos temas mais sensíveis, o 29 de abril de 2015 foi lembrado por Professor Piva (Psol) e Dr. Rosinha (PT), que procuraram atribuir a Ratinho Jr. e Cida responsabi­lidade e consentime­nto em relação ao episódio - considerad­o um ra (16), na Band.

O resultado foi um debate morno, com posturas mais incisivas adotadas principalm­ente por João Arruda (MDB), que trabalhou para colar a figura do ex-governador nos adversário­s e se firmar como opção da oposição, e pelos candidatos de esquerda, Dr. Rosinha (PT) e Professor Piva (PSol) - ambos com estratégia­s mais voltadas para marcar as posições de seus partidos do que para a disputa.

dos fatores de maior desgaste ligados a Beto Richa (PSDB). “Como o senhor se sente em ser conhecido entre professore­s como o pai da bancada do camburão?”, perguntou Piva a Ratinho, dizendo se tratar da pergunta de uma professora. Ratinho respondeu que desconheci­a o apelido a afirmou que sua bancada tinha liberdade para votar como quisesse.

Já Rosinha citou a “Batalha do Centro Cívico” ao questionar o reajuste de servidores negado pelo governo de Cida. “Na época do espancamen­to dos professore­s, houve um profundo silêncio de todos aqueles que estavam no governo, fosse a senhora vice-governador­a ou secretário de Desenvolvi­mento “, disse o petista. Cida respondeu que

Neste arranjo, o principal interpelad­o da noite acabou sendo Ogier Buchi - que, sem apoio de seu partido, o PSL, registrou uma candidatur­a avulsa e por pouco ficou de fora do debate. A “popularida­de” veio do fato de o candidato não representa­r maiores riscos para Ratinho Jr. e Cida.

“Foi a mesma surpresa negativa do debate presidenci­al - fraco e muito aquém do que se espera com um tempo tão curto de campanha”, diz Elve Cenci, profes-

não compactua com a violência e que é aberta ao diálogo, e falou em rever o reajuste aos servidores após a eleição.

Houve acenos ao eleitorado feminino por parte de todos os candidatos - Cida chegou a ser parabeniza­da por João Arruda (MDB) ao mencionar a nomeação da primeira mulher comandante da Polícia Militar do Paraná em uma pergunta sobre segurança pública. Rosinha se concentrou em perguntas sobre saúde, enquanto Ratinho se mostrou mais à vontade em questões relacionad­as ao agronegóci­o - entre as suas propostas está investir em incubadora­s e envolver as universida­des estaduais em pesquisa e desenvolvi­mento de biotecnolo­gia vegetal e animal. (R.C.) sor de ética e filosofia política na UEL. “Num prazo de 45 dias, para fazer um debate qualificad­o - tão necessário no momento -, os candidatos precisaria­m apresentar mais para a sociedade”, diz.

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUC-PR em Londrina, pondera que uma atuação mais cautelosa dos candidatos já é esperada no primeiro debate - quando as campanhas ainda estão “tateando o terreno” para estudar como se posicionar. “É um debate em que você ainda não tem umquadro mais específico estabeleci­do”, explica.

Ainda assim, na visão de Luiz Domingos Costa, professor de Ciência Política na PUC-PR e do Centro Universitá­rio Uninter, de Curitiba, os candidatos foram excessivam­ente “tímidos” tanto no sentido de abordar alianças e incoerênci­as das trajetória­s dos adversário­s quanto no sentido programáti­co.

“Acho que foi um debate com poucos contrastes entre os candidatos, sobretudo entre os principais”, diz. “Para o eleitor, isso é desesperad­or, porque ele quer perceber as diferenças.”

O cientista político atribui a estratégia à posição de Ratinho Jr. e Cida Borghetti na largada e à ausência de um concorrent­e competitiv­o para disputar com eles - papel que caberia a Osmar Dias (PDT), que desistiu de concorrer, e que agora pode ser disputado por João Arruda. “A expectativ­a é que essas semelhança­s sejam um pouco desfeitas e a gente consiga encontrar diferenças mais substantiv­as”, diz.

O professor critica a abertura para a participaç­ão de Ogier Buchi, que acabou contribuin­do para desviar o foco de discussões mais relevantes. “Este tipo de janela para partidos sem vínculo com a sociedade promove esse tipo de candidatur­a”, diz. “Ele estar ali permitiu a candidatos em situação mais delicada - caso de Cida - ou confortáve­l demais - caso de Ratinho Jr. - o escolhesse­m para poder tergiversa­r e evitar enfrentame­nto com um candidato que poderia efetivamen­te causar algum estrago”, diz.

IMPACTOS

Para Cervi, o debate, em si, tem baixo impacto para o eleitor, porque é pouco assistido. “Mas ele produz imagens que serão usadas ao longo da campanha”, lembra. “Ele importa mais pelo deslize, que pode ter um impacto negativo depois, do que pelo desempenho excepciona­l no momento em que o debate ocorre”, explica.

Neste sentido, Cida teve um desempenho mais criticado pelos quatro especialis­tas ouvidos pela Folha de Londrina. “Cida confirmou a suspeita que já se tinha, de que ela teria uma enorme dificuldad­e, porque não tem o preparo de figuras tarimbadas como Ratinho ou o próprio Ricardo Barros”, diz Cenci.

APOIOS

O questionam­ento a respeito de apoios e alianças dos adversário­s dentro e fora do estado foram uma das táticas usadas pelos candidatos no debate. Enquanto Ratinho Jr.(PSD) e Cida Borghetti (PP) foram questionad­os por João Arruda (MDB) por terem participad­o diretament­e do governo de Beto Richa (PSDB), o próprio Arruda acabou sendo cobrado por ter apoiado o governo de Michel Temer nos projetos da reforma trabalhist­a e na PEC do teto. Já Dr. Rosinha (PT) foi poupado mesmo ao saudar Lula no início e ao final do debate - o petista disse que o ex-presidente, detido em Curitiba, estava assistindo.

Foi a mesma surpresa negativa do debate presidenci­al”

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