A dor da despedida
Em seus 65 anos, Virgílio Tomasetti Júnior foi um estudioso nato. Mestre na educação por 45 anos na cidade, foi sócio, diretor e professor do colégio Maxi. Ele faleceu nesta semana, em Londrina. Era uma liderança terna e “de uma gentileza extrema”, como definiu o atual diretor do colégio, Ubiracy D’Andrea.
Nascido e criado na cidade junto de dois irmãos e uma irmã, Virgílio era o primogênito. “Todos nascemos na casa da avó, na rua Goiás”, lembrou Eduardo Tomasetti, 59, irmão do educador. Seu pai veio do interior de São Paulo para Londrina na década de 1950. Foi de sua mãe, professora, de quem Virgílio herdou o dom do ensino. “Nossa família é grande e ele era muito presente nas nossas vidas. Tinha um carinho muito grande por todos”, relembra Tomasetti.
“Ele tinha uma cultura muito grande, que veio do meu pai. Trabalhou na biblioteca municipal e lia muitos livros. Sabia qualquer autor do mundo”, contou o irmão. Apegado à política, Tomasetti lembrou dos debates que Virgílio tinha com o vizinho “comunista”. “Falavam de Lênin, falavam da Rússia. A cultura dele impressionava os alunos e amigos que conviviam com ele”, comentou.
De elegância professoral, Tomasetti era um educador atencioso e preocupado com a saúde emocional dos alunos. Foi autor do livro “Educando Nossos Filhos: o que fazer em cada fase do desenvolvimento”, no qual mostrava aos pais a necessidade da atenção quanto à ansiedade familiar, que poderia ser transferida para o emocional das crianças. “Precisa ter interesse pela dor deles com amor e afeto, o que provoca essa identificação com a pessoa que sofre. Além disso, eles precisam descobrir que existe alguém para ouvi-los”, contava, em 2015, durante uma entrevista para a FOLHA. “Esse livro já ajudou muitos pais do Brasil inteiro”, relatou o irmão do professor.
O educador se enveredou também pelas linhas psicopedagógicas ao tratar da automutilação de crianças e adolescentes em seus estudos. “Algumas famílias são carentes em oferecer equilíbrio e afetividade. Dependendo da fragilidade emocional do jovem, temos o desespero instalado em sua vida. Nem todos os pais percebem o que está acontecendo em casa.” Para o conselheiro familiar, cabia à escola essa função de perceber o que aflige os alunos. “Quando isso ocorre, elas se afastam da sociedade, dos colegas e não fazem questão de ter contato social. Nesta hora, a escola precisa ir ao encontro desse jovem e trazê-lo para um contato mais íntimo”, explicava.
A gentileza e o carinho de Virgílio com os alunos o levou também a acompanhar crianças e adolescentes e entendêlos. “O desamparo e a impressão de que ninguém conhecia a dor deles eram presentes em todos os casos que acompanhei”, tinha dito, à época.
O professor alegava que empurrar medicamentos para as crianças pela agitação era uma maneira errônea de lidar com as aflições dos pequenos. “Pelo menos metade das crianças são erroneamente diagnosticadas porque há pressa dos pais e dos médicos em colocar o paciente nesse ou naquele diagnóstico. Se muitos pais se propuserem ir ao psicólogo não haveria necessidade de tanta medicação. Tem que ser humilde e pedir ajuda e admitir que o problema está na família e não na criança e no adolescente”.
Na juventude, morou um ano na Jamaica, onde pegou grande gosto pela língua inglesa, sendo idealizador de uma academia do idioma pioneira na cidade. Especializou-se em inglês também na Suíça e nos Estados Unidos. “Ele virou um exímio professor de inglês. Não só na gramática mas também no falar, um inglês britânico muito bonito”, completou o irmão.
Ternura para ouvir o que os pequenos tinham a dizer. Liderança para ensinar. A notícia da morte do docente na quinta-feira (16) causou comoção. “Um professor que tinha o dom da palavra”, definiu um admirador no Facebook, entre tantos outros, já que Virgílio tinha um alto convívio social.
Professor Virgílio Tomasetti se despede e deixa uma formação humanista grande a todos que por ele foram lecionados. “Uma pessoa extremamente culta. Ele foi um constante estudioso de todas as áreas possíveis do conhecimento”, disse D’Andrea.
Virgílio foi velado e sepultado na tarde de quinta-feira (16) no Cemitério Parque das Allamandas.
“Amanhã há de ser um novo dia”, afirmou Virgílio em um informe publicitário publicado pela FOLHA em janeiro de 2016.
Deixa uma filha e um neto.