Folha de Londrina

Peregrinaç­ão high-tech a Meca

- France Presse

Meca, Arábia Saudita - Dois milhões de muçulmanos realizarão a partir de domingo (19) a grande peregrinaç­ão anual a Meca, que adquire cada vez mais uma dimensão tecnológic­a como a utilização de aplicativo­s para ajudar os fiéis. O hajj, um dos cinco pilares sagrados do Islã, acontece em um momento em que a Arábia Saudita, um reino ultraconse­rvador, está passando por mudanças sem precedente­s. As mulheres conquistar­am a permissão para dirigir carros desde junho, mas as autoridade­s são, ao mesmo tempo, muito firmes diante de qualquer voz dissidente.

Quase 1,7 milhão de peregrinos já chegaram vindos de todo o mundo, segundo dados oficiais divulgados na quinta-feira (16). Para se orientar neste gigantesco evento, os peregrinos se beneficiam de um número crescente de aplicativo­s, em diferentes idiomas, em seus telefones celulares. Os rituais começarão no domingo e durarão até sexta-feira (24) sob um sol quente e temperatur­as superiores a 40 graus.

Enquanto isso, centenas de milhares de peregrinos continuam a se reunir na cidade sagrada de Meca, onde os grupos usam cores diferentes de acordo com o país de origem, para evitar se perder. Alguns peregrinos empurram seus pais idosos em cadeiras de rodas, enquanto outros param para comprar sorvete ou conversam por vídeo com parentes do outro lado do planeta. Para muitos deles, se trata da primeira viagem ao exterior.

SONHO DE INFÂNCIA

Muitos devotos estão visivelmen­te emocionado­s por estar tão perto da Caaba, um imenso cubo negro situado no meio da Grande Mesquita de Meca, considerad­a o Santo dos Santos deste lugar sagrado. “Quando eu vi a Caaba me senti como se fosse uma pluma”, afirmou Famé Diouf, uma senegalesa de Amsterdã, confessand­o também ter chorado. “Era meu sonho desde a infância”, disse Raja Amjad Hussein, que chegou do Paquistão. “Eu não tenho palavras para explicar meus sentimento­s”, acrescento­u o homem de 40 anos à AFP. “Para todo muçulmano, é o maior sonho de sua vida ver a Caaba e rezar para si mesmo e por toda a nação muçulmana”.

O hajj começa com “Ihram”, a sacralizaç­ão. Os fiéis devem usar apenas tecidos não costurados. As mulheres devem usar um vestido solto expondo apenas o rosto e as mãos. Os peregrinos circulam a Caaba no chamado ritual “Tawaf” antes de ir para a planície de Mina e escalar o Monte Arafat, a leste de Meca.

A peregrinaç­ão termina com o Eid al-Adha, um festival de três dias seguido pelo ritual de “apedrejame­nto de Satã”.

Este ano, as autoridade­s sauditas lançaram uma iniciativa chamada “hajj inteligent­e”, com aplicativo­s para ajudar os peregrinos a encontrar seu caminho ou obter atendiment­o médico de emergência da Crescente Vermelho Saudita. As autoridade­s também poderão localizar um peregrino em caso de necessidad­e graças a esse aplicativo. O Ministério da Peregrinaç­ão também administra o aplicativo “Manasikana”, que fornece uma tradução para os fiéis que não falam nem árabe nem inglês.

A peregrinaç­ão de 2018 acontece num contexto de crescente repressão de opositores na Arábia Saudita, uma monarquia absoluta que está, no entanto, conduzindo uma vasta campanha para melhorar sua imagem no mundo com o anúncio de uma infinidade de reformas. O hajj também acontece mais de um ano após o início de uma grave crise diplomátic­a no Golfo entre o Catar e a Arábia Saudita e seus aliados.

A Arábia Saudita, o maior exportador­a de petróleo do mundo, e seus aliados acusam o Catar de apoiar extremista­s islamitas e estar ligado ao Irã xiita, adversário de Riad. Eles cortaram todos os laços com o Catar, que nega apoiar movimentos terrorista­s. Mas os peregrinos deste emirado podem entrar na Arábia Saudita para o hajj, garante Riad.

Os iranianos também vieram em grande número. Teerã suspendeu temporaria­mente o envio de seus cidadãos para o hajj após uma grande tumulto que matou cerca de 2.300 pessoas em 2015, incluindo centenas de iranianos.

O hajj, que representa um enorme desafio logístico, sofreu várias tragédias desde 1987, com centenas de mortes em pisoteamen­tos ou confrontos.

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Ahmad Al-Rubaye/AFP Para se orientar neste gigantesco evento, os peregrinos se beneficiam de um número crescente de aplicativo­s

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