Rede Agropesquisa e Solo Vivo apontam perdas de produtores
Colocar os produtores em contato com as pesquisas relacionadas ao solo é um dos desafios para que eles de fato entendam o nível de degradação e perdas que está acontecendo em cada propriedade. Por isso, nada melhor que universidades e institutos de pesquisa que atuam com o tema realizem o monitoramento das áreas do produtor. É justamente dessa forma que a Rede Agropesquisa Paraná - encabeçada pela Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) em parceria com a Seab e diversas entidades - atua com a pesquisa em manejo e conservação de solo e água. Já a Embrapa encabeça um outro programa, chamado Solo Vivo, iniciado em 2014 e irá finalizar este ano (veja texto na página 7). Aliás, Iapar e Embrapa Soja atuam em sinergia em ambos os projetos.
A Rede Agropesquisa Paraná acontece em sete mesorregiões do Estado com uma diversidade de temas enorme para enfrentar gargalos como: carência de informações sistematizadas e atualizadas sobre conservação do solo, dimensões de máquinas incompatíveis com o sistema de terraceamento, problemas de infiltração e erosão, gestão das águas, mudanças climáticas, entre diversos outros cenários.
Na mesorregião Norte, um dos trabalhos é encabeçado pela pesquisadora da Área Técnica de Solos do Iapar, Graziela Moraes de Cesare Barbosa, com o tema “monitoramento hidrossedimentologicos em microbacias hidrograficas”, realizado numa grande parcela de terra dentro da propriedade do produtor de grãos, Antônio Aparecido Casarotto, em Cambé. “É a primeira vez que estamos realizando um trabalho em áreas de produtor. Queremos que ele realmente enxergue a quantidade de solo, água e nutrientes que está perdendo.”
O projeto do Iapar funciona da seguinte forma. Na microbacia do município de Cambé estão sendo montadas três seções de monitoramento na propriedade de Casaroto numa parcela de dois hectares. Ali existe uma calha de coleta onde é possível monitorar a quantidade de água, solo e nutrientes que está se perdendo a cada safra. Assim, o produtor entende na prática quais manejos errados está realizando. “Estamos terminando de fazer as construções para iniciar os monitoramentos, que começarão na próxima safra de verão. Ele saberá que com determinado manejo ele está perdendo ‘x’ de solo e também de fósforo, potássio e todo o adubo que está colocando na propriedade.”
Casarotto possui uma área total de 220 alqueires e trabalha geralmente com soja e milho safrinha. Ele comenta que sempre se preocupou com o solo da propriedade e há qua- tro anos vem fazendo adubação de precisão. “É preciso corrigir o solo para assim aumentar a nossa produtividade”. Ele relembra que há muito tempo, quando teve problemas de erosão, focou numa rotação de culturas mais efetiva para solucionar a situação.
“Acho que de 0 a 10, hoje meu solo está nota 7. Ainda preciso fazer mais rotação de cultura e adubação verde. Os trabalhos que tenho feito com a Embrapa e o Iapar na propriedade tem tudo para melhorar meu solo.”
Com o Solo Vivo, a Embrapa Soja está no local levantando dados desde 2015 justamente medindo a quantidade de água que o solo de Casarotto tem capacidade de infiltração. Segundo o pesquisador da instituição, Henrique Debiase, isso é fundamental para dimensionar melhor o sistema de terraços no Estado. “A área do produtor tem obtido altas produtividades e tem um solo com fertilidade química muito boa. Mas como ele faz o plantio de soja com milho safrinha todos os anos, a área tem problemas físicos, com baixa infiltração de água o que pode ocasionar erosão.”
Debiase comenta que o trabalho - que tem parceria com a Itaipu Binacional, Instituto Emater e Cocamar - trouxe resultados significativos em 17 propriedades da região Norte. Nas áreas que há uma década trabalham apenas com soja e milho safrinha, sem rotação de cultura, a absorção chega a ínfimos 20 milímetros por hora. Ou seja, uma chuva de média intensidade, de 40 milímetros por hora, por exemplo, o solo já não seria capaz de absorver, o que poderia ocasionar uma erosão. Em áreas de três anos que fazem o consórcio de milho com braquiária, a absorção já sobe para 40 a 50 milímetros por hora. “É o que estamos trabalhando com ele, para que já na próxima safra comece com esse consórcio no inverno. Ainda não é o ideal, mas é um começo de trabalho.”
Queremos que ele (o produtor) realmente enxergue a quantidade de solo, água e nutrientes que está perdendo”