PRODÍGIO
Bailarina de 15 anos de Londrina conquista uma vaga na Escola Bolshoi e uma bolsa de estudos na Alemanha, oferecida pela Youth America Grand Prix
Bailarina Ana Carolina Gonçalves é destaque em seleções nacionais e internacionais e conquista vaga na filial da tradicional Escola Bolshoi
Odia da bailarina Ana Carolina de Oliveira Gonçalves, de apenas 15 anos, começa bem cedo: às 6h já está de pé para a rotina diária que não termina antes das 20h. Logo pela manhã, frequenta a escola no segundo ano do Ensino Médio, de onde sai às 12h15. No caminho enquanto a mãe dirige, vai almoçando dentro do carro para, às 12h30, começar ensaio com o parceiro de dança, Hugo Zati, na Funcart (Fundação Cultural Artística de Londrina) com quem ensaia cenas e competições específicas. Na sequência, tem aulas de balé na turma avançada da Escola Municipal de Dança de Londrina por cerca de três horas e meia. Não rara às vezes, continua o dia com ensaios para apresentações e seletivas. Além da carga puxada como bailarina, ainda precisa dividir o tempo com aulas da escola durante algumas tardes.
Tamanho esforço, contudo, já tem rendido boas notícias à adolescente. Ela acaba de ser destaque em duas das maiores seleções de dança nacional e internacional. Com isso, conquistou uma vaga na filial da tradicional Escola Bolshoi, em Joinville (SC), e uma bolsa de duas semanas de estudos na Alemanha, oferecida pela Youth America Grand Prix, a maior competição de dança do mundo. Entre 291 candidatos de 22 estados brasileiros e da Argentina, que disputaram uma vaga na filial, a londrinense foi um dos sete selecionados e poderá ingressar em fevereiro de 2019 na escola. A audição aconteceu durante o 36º Festival de Dança de Joinville, realizado em julho deste ano.
Ana Carolina começou a dançar bem pequena, aos três anos de idade, por iniciativa própria. “Eu pedi à minha mãe para começar”, conta. Não demorou que a mãe perguntasse à filha se queria, realmente, continuar. “Ela dançou quando era criança e não gostava. Então, sempre teve essa preocupação comigo para que não fosse algo forçado.” Ao contrário, nada foi contra a vontade da menina que, a cada ano, “pegava” ainda mais gosto pela dança. “Nessa época, nem imaginava ter o balé como profissão. Isso aconteceu aos 12 anos, quando passei a encarar essa possibilidade.” Desde então, a dedicação passou ser ainda maior, com mais carga de estudos e dedicação. “Gosto de ir sempre além, buscar coisas novas para aprimorar meu trabalho. É uma superação de mim mesma”, conta.
Sobre a possibilidade de ir para o Bolshoi, apesar de tentadora, a adolescente não romou nenhuma decisão. “Tenho que finalizar meus estudos na escola e acredito que muitas oportunidades ainda irão surgir ao longo do ano”, diz ela, comentando que, logo nas três primeiras competições de que participou, teve resultados satisfatórios. “Me preparei para esses testes como me preparo para tudo na vida”, ressalta a garota. Ao lado do parceiro Hugo, além de apoio nos movimentos de dança, busca conselhos de quem já esteve na mesma situação. “A experiência do tempo em que estive fora foi muito boa, não me arrependo. Mas digo para ela que precisa seguir o coração e buscar o sonho, e não apenas por causa de um nome”, diz Zati.
UMA ARTISTA COMPLETA
A qualidade técnica e física, segundo o professor Marciano Boletti, que a acompanha desde os 12 anos de idade, é o que se destaca na jovem, aliada à sua disciplina e dedicação. “Ana Carolina, porém, não é só uma atleta, é uma artista completa em todos sentidos, o que a coloca em vantagem e evidência”, diz, referindo-se à expressividade cênica que a adolescente incorpora aos movimentos precisos do balé clássico. Muito do que o professor diz, inclusive pode ser visto durante ensaios do ‘pas de deux’ (termo em francês que significa “passo a dois”) do Cisne Negro, um trecho da famosa montagem Lago dos Cisnes, balé dramático em quatro atos do compositor russo Tchaikovsky. A adolescente será a protagonista ao lado de Hugo na apresentação de fim de ano da Escola de Dança.
Para ele, essa qualidade artística de forma integral faz que mesmo dançando em conjunto, não passe despercebida. “Ela é muito harmônica, gira para a direita, esquerda com a mesma destreza. Ou seja, não tem um lado que é melhor, o que é raro de encontrar, pois, geralmente, as pessoas fazem bem para um lado só.” Além disso, Boletti destaca a capacidade da jovem em interpretar com qualidade expressiva. “Acredito que ela pode se tornar uma grande bailarina em alguma das maiores companhias de dança clássica ou contemporânea. Bailarina não é só pirueta ou salto; é ter essa capacidade de interpretação que ela já demonstra. E as grandes companhias lá fora gostam muito disso”, completa.
Conhecido por sua marca de movimentos e perfil na escolha de bailarinos, o diretor da Companhia Ballet de Londrina, Leonardo Ramos, reitera o talento da jovem que, de acordo com ele, pode sair de Londrina para ser bailarina na Europa ou nos Estados Unidos. “Ela representa um padrão de qualidade dos nossos alunos que, se não passam a integrar a companhia, irão para grupos importantes brasileiros e no exterior”, afirma. Uma prova disso é o exemplo de Hugo Zati, parceiro
Ela começou a dançar bem pequena, aos três anos de idade
Ana Carolina é uma artista completa em todos sentidos”
de Ana Carolina, que, junto com o irmão gêmeo Higor Zati, depois de formados na Escola de Dança, foram selecionados para o Bolshoi, onde ficaram por quase dois anos. Ambos estão, agora, de volta à Londrina como integrantes do elenco fixo do balé. Em dezembro, os irmãos se apresentam no espetáculo especial em comemoração aos 25 anos da companhia.