CRISE MIGRATÓRIA
Governo Federal anunciou ida de homens da Força Nacional de Segurança após tumulto na cidade de Pacaraima
Governo anuncia envio de 120 homens da Força Nacional para conter tensão entre brasileiros e venezuelanos em Roraima
Brasília -
Após a cidade fronteiriça de Pacaraima (RR) viver momentos de tensão no sábado (18), quando acampamentos de venezuelanos foram incendiados por brasileiros, o Governo Federal anunciou que 120 homens da Força Nacional de Segurança e 36 voluntários na área de Saúde deverão seguir para lá em duas etapas. Sessenta já estão em prontidão em Brasília - e devem chegar nesta segunda-feira (20) à cidade - e mais 60 poderão seguir nos próximos dias. Os voluntários na área de saúde atuarão no atendimento aos migrantes, em parceria com hospitais universitários. As medidas foram decididas em reunião do presidente Michel Temer com um grupo de ministros, concluída na tarde de domingo (19). A informação consta em nota divulgada pelo Palácio do Planalto.
O tumulto começou após um comerciante brasileiro sofrer uma tentativa de assalto, supostamente por um grupo de venezuelanos. Ele permanece internado em Boa Vista e seu estado de saúde é considerado estável. Na ocasião, moradores da cidade atacaram barracas e abrigos dos imigrantes, inclusive ateando fogo. No entanto, de acordo com as autoridades locais, não há registro de feridos entre os imigrantes. Depois do ocorrido, cerca de 1,2 mil venezuelanos cruzaram de volta a fronteira do país com o Brasil.
A rodovia BR-174 chegou a ser bloqueada por algumas horas ao longo dia. A informação foi confirmada pelo Exército, que integra a Operação Acolhida, uma força-tarefa logística e humanitária para tratar da crise migratória na Venezuela. Dessa forma, as famílias venezuelanas que decidiram retornar ao país natal conseguiram atravessar a fronteira em segurança e com a integridade física garantida, informou o Exército. O posto de identificação e recepção da Polícia Federal na fronteira, que chegou a ficar fechado ontem por questões de segurança, já funciona normalmente.
DECISÕES
“As Forças Armadas vão continuar cumprindo sua missão na área de fronteira com a Operação Acolhida e a Operação Controle, tanto em ação humanitária quanto em prevenção e combate a ilícitos transfronteiriços. Trabalham em prol da sociedade brasileira e repudiam atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”, afirmou o Exército, em nota. A chancelaria da Venezuela se pronunciou sobre os incidentes e pediu que o governo brasileiro garanta a segurança de seus cidadãos.
Na reunião, ficou decidido também que os esforços de interiorização de venezuelanos para outros Estados serão intensificados. Isso deverá reduzir a pressão sobre Roraima, que tem sido a principal porta de entrada para os migrantes do país vizinho. A interiorização consiste no envio dos venezuelanos para outros Estados. Grupos já foram enviados para São Paulo, Mato Grosso e Brasília, entre outros. Será criado um “abrigo de transição” em Roraima, entre Boa Vista e Pacaraima, para dar suporte aos imigrantes enquanto eles aguardam a interiorização, “de forma a reduzir o número de pessoas nas ruas”, diz nota divulgada pelo Palácio do Planalto.
Ficou decidido, ainda, que uma comissão interministerial seguirá para Roraima, “para avaliar medidas complementares, que se somarão às anteriores já tomadas.” Hoje, será realizada uma nova reunião para “concluir as negociações para o início das obras do ‘linhão’ que permitirá a in- tegração do Estado de Roraima ao sistema elétrico nacional.” O Estado utiliza energia gerada na Venezuela, mas tem sido frequentes os “apagões”. “O Governo Federal, atento à segurança e ao bem-estar dos brasileiros de Roraima, tem envidado esforços abrangentes para apoiá-los, reduzindo o impacto do afluxo migratório sobre a população local”, diz a nota, acrescentando que o presidente Michel Temer esteve no Estado por duasvezes.
Segundo a nota, as providências já adotadas para lidar com a crise humanitária na fronteira somam mais de R$ 200 milhões. Estão nesse cálculo a construção de dez instalações para abrigar temporariamente os venezuelanos, das quais duas estão prestes a ser concluídas, o processo de interiorização e o ordenamento da fronteira, “com controle e triagem adequados, e com a ampliação da presença da União nas áreas social e de segurança.”