Câmbio e Selic reduzem Custo Brasil sem garantir competitividade à indústria
Pesquisa aponta redução de 7,6 pontos percentuais no peso excedente para produzir um mesmo produto no País e no exterior apesar de falta de medidas por parte do governo
Orecuo da taxa básica de juros e a desvalorização do real fizeram com que o Custo Brasil caísse 7,6 pontos percentuais entre 2016 e 2017, o que ainda não serve de refresco, segundo estudo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Maquinas e Equipamentos). A análise é de que não há alicerces para que esse recuo seja permanente ou sustentável, já que os dois fatores que levaram ao ganho de competitividade foram alheios a esforços do governo.
Pelo conceito adotado pela Abimaq, o Custo Brasil é o excedente gasto para produzir um mesmo produto no Brasil ou no exterior. Ainda que a desvalorização do real tenha diminuído o preço de insumos, ao menos os nacionais, e a redução da taxa de juros implique em menor peso do crédito para investimentos ou capital de giro, não houve avanços para problemas como o preço da eletricidade, a falta de infraestrutura logística, ou a burocracia de um sistema tributário complexo. Por mais que a queda da Selic tenha sido promovida pelo Banco Central, foi motivada pela recessão e recuo além do esperado da inflação, conforme a entidade.
O economista Roberto Zurcher, da Fiep (Federação das Indústrias de Estado do Paraná), cita um estudo do Banco Mundial que aponta que uma empresa brasileira gasta em torno de 2 mil horas ao ano para quitar todas as obrigações tributárias, seis vezes a média da América Latina. Esse trabalho extra gera custos em mão de obra administrativa e mostra como uma simplificação reduziria esse peso. “A Abimaq representa a indústria de máquinas e, em vários países, esses equipamentos nem mesmo têm carga tributária embutida porque vão servir para que outras indústrias produzam produtos que, esses, sim, precisam ser tributados”, diz Zurcher.
Ele concorda com a tese de que o indicador sofreu influência externas e não foi determinado por ações governamentais. “Tivemos redução no custo da folha de pagamentos, mas foi por motivo cambial, como ocorreu com os insumos”, sugere Zurcher. “Mas fizemos um levantamento pela Fiep e 64,5% dos empresários paranaenses usam capital próprio para investir. Se os juros fossem menores, poderiam buscar crédito no mercado e usar os recursos próprios para ampliar a produção, por exemplo.”
Para o presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes, a redução do Custo Brasil costuma ser quase que exclusivamente ligada à valorização do dólar. “Com a questão cambial favorável, o nosso produto se torna mais competitivo, mas isso não pode esconder nossos defeitos estruturais.”
Antunes lembra que a eletricidade nacional é barata e acaba por pesar devido ao excesso de impostos. “A nossa maior usina hidrelétrica produz a mesma coisa para o Brasil e para o Paraguai, mas eles revendem essa energia com baixa tributação, o que faz com que o nosso empresário saia daqui e se mude para lá, para gerar empregos lá, porque gasta menos”, cita.
Pedágios caros em rodovias de baixa qualidade ou de pista simples, dependência excessiva do modal de transportes rodoviário em detrimento do ferroviário e o custo alto sobre em tributos sobre a folha de pagamento também são apontados por ambos como pontos relevantes. Entretanto, consideram mesmo a burocracia excessiva que poderia ser o primeiro foco de ação, pela possibilidade de ser modificada mais facilmente. “Se não dá para fazer grandes reformas, tem de eliminar esse emaranhado fiscal para tornar os processos mais rápidos”, completa Antunes.