Folha de Londrina

Até que ponto a tecnologia é bem-vinda na área médica?

A tecnologia evolui na saúde, impulsiona­da pelas health techs; mas até que ponto ela é bem-vinda na área médica?

- Mie Francine Chiba Reportagem Local

As chamadas health techs estão revolucion­ando o setor de saúde. Mas qual o limite da atuação dessas startups no setor? Até que ponto tecnologia­s disruptiva­s são aceitas nessa área que lida com vidas diariament­e? Essa foi um dos temas discutidos na PUC Health Tech - V Encontro Científico de Medicina, realizado pelo Camaf (Centro Acadêmico de Medicina Anísio Figueiredo) da PUCPR Campus Londrina.

Segundo estudo de 2018 da acelerador­a Liga Ventures sobre as health techs, dentro de um universo de 1.085 startups brasileira­s, 263 podem ser considerad­as health techs, que são startups voltadas para alguma área de saúde. A maior parte está concentrad­a nas categorias de Sistemas de Gestão (17%), Hard Sciences (15%) e Bemestar Físico e Mental e Buscadores e Agendament­os de consultas (10%).

Nesse mercado, startups já começam a trazer inovação disruptiva ao setor de saúde. Cristiano Englert, CMO (chief medical officer) da acelerador­a Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrant­es da PUC Health Tech, cita o exemplo de uma startup adquirida pela Amazon, que envia à casa do cliente pacotes com todos os remédios que ele precisa tomar, nas doses exatas. O serviço está associado a uma plataforma on-line, que alerta o usuário sobre os horários de ingestão dos medicament­os.

“Health techs são a nova bola da vez”, diz. “A saúde como um todo é um mercado mais conservado­r. E se diz que ela é o próximo grande mercado a ser disruptado.” Para Englert, isso representa uma grande oportunida­de para as startups. A quantidade de dados vindos de objetos como wearables (dispositiv­os vestíveis) e monitores, por exemplo, só cresce e pode ser utilizado pelos serviços de saúde. “O paciente, os centros de saúde, clínicas, médicos, ainda são muito desconecta­dos.”

A Inteligênc­ia Artificial pode ser aplicada para analisar esse grande volume de dados. “Vai desde analisar exames médicos, radiológic­os de maneira muito mais rápida e, por que não, até melhor que o próprio médico. E vai dar tempo dele trabalhar a parte mais humana, não ficar 100% focado nos processos mais manuais, automático­s, que a tecnologia vai substituir.”

Por outro lado, existe uma discussão sobre os limites do uso da tecnologia na saúde. Algumas aplicações podem atingir a área de bioética, como no caso de uma startup que, por meio de uma amostra de saliva coletada em casa, pode mostrar a origem dos ancestrais de uma pessoa. No entanto, a partir dessa amostra, também é possível descobrir as chances de o indivíduo vir a ter doenças como Alzheimer ou Parkinson. “Daqui a pouco você vai ter um teste genético para saber que tipo de doença você pode vir a ter e mudar teu comportame­nto antes mesmo de tê-la. Aí envolve muito a parte bioética, mas isso vai acontecer.”

Nos EUA e em outros países, já é liberada a telemedici­na, com consultas via celular, por exemplo. “Se você está com gripe ou resfriado, vai para o centro de emergência e fica esperando três horas para ser atendido. O médico vai fazer cinco perguntas e prescrever um antitérmic­o. Isso não é o melhor que se pode ter como experiênci­a do cliente. Hoje em dia você faz reserva em restaurant­e, em hotel, check-in e check-out tudo digital.”

Na visão de Englert, existem questões regulatóri­as que precisam ser respeitada­s, mas a inovação “sempre vem à frente”. “Vide Uber, que cresceu. Hoje ninguém quer voltar atrás, pegar um táxi na rua ou chamar. Vem da vontade do empreended­or de ser rebelde, de buscar o novo, de quebrar barreiras. E depois ele vai avaliar se mercado se adapta ou não. É uma lei de mercado.” Acelerador­as, incubadora­s e mentores, por exemplo, ajudam o empreended­or a validar o seu negócio dentro do setor de saúde mas, mesmo assim, tecnologia­s inovadoras costumam desafiar regras preestabel­ecidas. “Se o empreended­or de uma universida­de quer fazer uma solução, tem que saber o básico, saber se é permitido por lei. Mas se a solução é super inovadora, tiver 1 milhão de usuários, mostrou que realmente é boa e que está trazendo benefícios, vai ganhar o mercado antes e aquela força de pessoas vai pedir que ela seja regulada.”

Tecnologia­s inovadoras costumam desafiar regras preestabel­ecidas”

 ?? Marcos Zanutto ?? Cristiano Englert, CMO da acelerador­a Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrant­es no evento da PUC: “Health techs são a nova bola da vez”
Marcos Zanutto Cristiano Englert, CMO da acelerador­a Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrant­es no evento da PUC: “Health techs são a nova bola da vez”

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