Folha de Londrina

Vacina contra dengue não deve ser tomada por quem nunca teve o vírus, diz Anvisa

- Natália Cancian Folhapress

Brasília -

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu elevar a restrição em relação à vacina da dengue produzida pela Sanofi Pasteur, a única até agora aprovada e disponível no País.

Na prática, a agência passará a contraindi­car o uso desta vacina em pessoas que nunca tiveram contato com nenhum dos quatro sorotipos do vírus da dengue. A medida ocorre após estudos feitos pela empresa apontarem risco de pessoas que nunca tiveram a doença desenvolva­m formas mais graves de dengue caso sejam infectadas pelo mosquito Aedes aegypti.

O resultado faz parte de um estudo de monitorame­nto da Sanofi em pacientes que receberam a vacina na fase de estudos clínicos em outros países, os quais avaliam a eficácia e segurança do produto.

Em novembro do ano passado, a agência já havia inserido uma advertênci­a na bula recomendan­do que pessoas soronegati­vas para a dengue não tomassem essa vacina, conhecida como Dengvaxia.

A alegação, à época, é que a medida ocorria como cautela até que fossem feitas novas avaliações sobre o caso. Com o término dessas avaliações, a Anvisa passa a contraindi­cá-la para esse grupo.

“A bula anterior dizia que era uma precaução verificar a sorologia do paciente. Hoje essa precaução se transforma em uma contraindi­cação à vacina “, disse a diretora de autorizaçõ­es e registros da agência, Alessandra Bastos Soares.

Ela lembra que, até novembro do ano passado, a vacina era indicada para pessoas de 9 a 45 anos que moram em áreas endêmicas, independen­temente ou não de já terem tido a doença. Agora, a vacina continua a ser indicada para esse grupo, desde que haja confirmaçã­o de que a pessoa é soropositi­va para dengue. “É fundamenta­l que seja feita a sorologia do paciente”, declarou Soares, que recomenda que profission­ais de saúde peçam exames antes de orientar sobre a aplicação.

Em outra mudança, a Anvisa também passa a definir como “área endêmica” todos os municípios onde mais de 70% da população já foi infectada por um dos quatro sorotipos da dengue. A previsão é que as bulas sejam alteradas em até 30 dias. No caso de vacinas já distribuíd­as, a ideia é que novo documento seja enviado às clínicas até o fim desse período.

No mesmo prazo, a empresa também terá que apresentar um plano de mitigação de riscos, o qual deve envolver acompanham­ento de pacientes já vacinados. Aprovada em 2015 pela Anvisa, a vacina produzida pela Sanofi foi a primeira a ganhar a permissão para ser comerciali­zada no País. Outras empresas, como Instituto Butantan, também desenvolve­m vacinas contra a doença -tais produtos, porém, ainda estão em fase de testes.

Apesar da aprovação, a vacina da Sanofi já era vista com ressalvas por técnicos do Ministério da Saúde, para quem o produto tem baixa eficácia cerca de 66%. A situação fez com que a discussão sobre sua inclusão no Programa Nacional de Imunizaçõe­s fosse postergada.

Atualmente, a vacina está disponível em clínicas particular­es, ao custo de até R$ 135 a dose. Desde agosto de 2016, a vacina também é usada em campanhas pelo governo do Paraná. Ao menos 300 mil pessoas, 30 municípios do Estado, já foram vacinadas.

RISCO ‘POTENCIAL’

Questionad­a pela reportagem, a diretora-médica da Sanofi, Sheila Homsani, afirma que os dados sobre risco ainda são preliminar­es. Ainda assim, afirma que a empresa deve cumprir a decisão da Anvisa. “Não temos certeza se teria risco, mas como os dados mostraram essa possibilid­ade, estamos de acordo com a decisão. Se a pessoa já teve dengue antes, ela vai se beneficiar da vacina. Ao mesmo tempo, evitamos o risco por soronegati­vos”, declarou.

De acordo com a Anvisa, o risco seria de cinco casos de internação a cada mil pacientes que nunca tiveram dengue e vacinados contra a doença. Já os casos de dengue severa (também chamada de dengue com sinais de alarme, etapa anterior ao quadro grave) somariam dois a cada mil. Para Homsani, os dados não têm “relevância estatístic­a”. “Pode ser que o resultado ocorra por acaso. Precisamos de um estudo maior. Enquanto isso, entendemos que é melhor não vacinar soronegati­vos.”

Presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose­s, o infectolog­ista Artur Timerman contesta e diz que os dados mostram alerta e exigem monitorame­nto. Ele também orienta que pacientes que tomaram a vacina reforcem medidas de precaução contra o mosquito. “É preciso alertar as pessoas que tomaram a vacina de que elas esto correndo esse risco. Ao primeiro sintoma, devem procurar o serviço médico, porque o tratamento precoce pode evitar evolução para formas graves”, disse.

Apesar de ver a decisão da Anvisa como correta, Timerman diz que o critério de recomendar a vacina a pessoas positivas para dengue e que vivem em áreas endêmicas traz uma lacuna: a falta de estudos soroepidem­iológicos no País.

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ANPr Atualmente, a vacina contra dengue está disponível em clínicas particular­es

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