Folha de Londrina

Cristina Kirchner, um ícone político em apuros

- France Presse

Buenos Aires -

Cristina Kirchner, que governou a Argentina durante oito anos e é a figura de maior destaque da fragmentad­a oposição, responde na Justiça por suspeita de corrupção, com denúncias sobre o transporte de incontávei­s sacolas cheias de dólares.

Kirchner tem seis processos judiciais em aberto, mas o mais recente, conhecido como “Escândalo dos cadernos”, é o que mais a pressiona.

Suas residência­s em Buenos Aires e Río Gallegos (Patagônia, sul) eram revistadas nesta quinta-feira (23), após o Senado autorizar o procedimen­to.

Kirchner está amparada pelo foro privilegia­do, após ter sido eleita senadora em 2017.

A ex-presidente assegura que as investigaç­ões contra ela têm como objetivo afastá-la da política, levando em conta que em 2019 poderia voltar a se candidatar à Presidênci­a.

“Serei a primeira senadora revistada”, lamentou em seu discurso durante a sessão parlamenta­r que autorizou por unanimidad­e, inclusive com seu próprio voto, as buscas em sua casa.

O CASAL K

Junto com seu marido, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), Cristina marcou uma época na política argentina com um governo peronista de centro esquerda muito próximo aos de Hugo Chávez na Venezuela, Lula no Brasil, Rafael Correa no Equador e Evo Morales na Bolívia.

Carismátic­a, combativa e de oratória afiada, sua figura despertou amor e ódio tão extremos que houve um “racha” entre partidário­s e críticos que ainda se mantém.

Para alguns, os Kirchner formaram uma dupla política populista que enriqueceu com o poder mediante uma rede de corrupção e que isolou o país do contexto mundial, fechando seu mercado e quebrando regras financeira­s.

Para outros, instaurara­m uma política reformista com ênfase no nacional e popular, que empoderou as classes sociais mais marginaliz­adas e conseguiu reduzir a pobreza e o desemprego.

Cristina Kirchner enfrentou os grandes grupos midiáticos, setores do Poder Judiciário, o sindicato patronal agrário e parte do empresaria­do, assim como o poder financeiro internacio­nal.

AUGE

Nascida em La Plata, capital da província de Buenos Aires, em uma família de classe média baixa, filha de pai motorista de ônibus e mãe dona de casa, a ex-presidente estudou Direito na Universida­d de La Plata, onde conheceu Néstor Kirchner.

Juntos tiveram dois filhos: Máximo, atual deputado, e Florencia, especialis­ta em Artes Visuais, que a fizeram avó de três crianças.

Antes de chegar à Presidênci­a, Cristina foi deputada e senadora por Santa Cruz, onde começou sua carreira política.

De confissão católica, se aproximou do papa Francisco e fechou a via para uma lei do aborto no Congresso durante o seu governo.

Contudo, este ano apoiou com seu voto favorável no Senado um projeto de legalizaçã­o da interrupçã­o voluntária da gravidez, que acabou fracassand­o.

Durante o seu mandato, a Argentina aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma lei pioneira na América Latina, que gerou atritos com a Igreja Católica.

PÉRIPLO JUDICIAL

“No meu governo houve casos de corrupção, é inegável, e devem responder”, admitiu há algum tempo, quando um ex-funcionári­o de sua administra­ção foi preso por esconder sacolas com milhões de dólares em espécie em um convento.

“Mas tachar todo um governo de corrupto por causa de alguns funcionári­os, não”, disse a ex-presidente, que denunciou uma perseguiçã­o pelos vários casos abertos contra ela.

Investigad­a por suposto enriquecim­ento ilícito, denunciada em um caso de suborno, acusada de traição à pátria e improbidad­e administra­tiva, Cristina Kirchner foi chamada várias vezes aos tribunais.

O foro privilegia­do a protege de ir para a prisão em caso de condenação.

Além de envolver uma dezena de ex-funcionári­os dos governos de Néstor e Cristina Kirchner, o “Escândalo dos cadernos” salpicou mais de 20 dos mais importante­s empresário­s da Argentina.

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Damian Dopacio/Notícias Argentinas/AFP Carismátic­a, combativa e de oratória afiada, Cristina Kirchner despertou amor e ódio tão extremos que houve um “racha” entre partidário­s e críticos

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