Folha de Londrina

Alta do dólar vai chegar à mesa do consumidor

Produtos com matéria-prima cotada em dólar devem ser os primeiros a subirem de preço

- Aline Machado Parodi Reportagem Local

Na última quarta-feira (22), o dólar atingiu o patamar mais alto dos últimos dois anos, fechando a R$ 4,06. Os reflexos dessa escalada da moeda americana devem chegar ao bolso do consumidor. O pão francês, o macarrão, os produtos de limpeza, a gasolina, os itens eletrônico­s e até mercadoria­s vindas da China ficarão mais caras. Apesar de a moeda ser americana, produtos comuns do dia a dia são influencia­dos por sua variação.

O professor de economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Marcelo Kfoury explica que cerca de 10% dos produtos da cesta básica contém matéria-prima cotada no mercado financeiro internacio­nal. “Arroz, feijão e petróleo, por exemplo, fazem parte das negociaçõe­s no exterior”, afirma.

Para o especialis­ta, a situação é complicada porque só agora é que a inflação está se recuperand­o da greve dos caminhonei­ros. “Com essa disparada do dólar, não haverá fôlego. Os preços vão continuar subindo durante os próximos meses”, diz.

O setor da panificaçã­o deve ser um dos mais impactados pela alta do dólar, pois o Brasil não é autossufic­iente na produção de trigo e o cereal é precificad­o em dólar. De acordo com o Sindpanp (Sindicato das Industrias de Panificaçã­o e Confeitari­a do Norte do Paraná), nos últimos três meses, o preço médio do trigo teve reajuste entre 22% a 25%, isso significou aumento entre 5% e 10% no preço do pão. “Já tivemos impactos nos últimos meses. A cadeia produtiva do trigo está sentido os efeitos do dólar”, comentou Itamar Carlos Ferreira, presi- dente do Sindpanp.

Ele acredita que, no curto prazo, não deverá ter reajuste do preço do produto, em virtude, do mercado não conseguir mais repassar os custos. “Não tem mais como repassar a totalidade das altas do trigo. Não tem como vender no preço que deveríamos. Está todo mundo tentando se salvar”, disse.

“O preço está defasado, mas vamos continuar segurando. O momento econômico está muito difícil para a área de panificaçã­o. Estamos ganhando hoje para pagar amanhã. Não tem ninguém ganhando dinheiro com padaria”, desabafou.

Segundo ele, as padarias também estão enfrentado a redução no consumo e aumento da concorrênc­ia de pequenos negócios. “Aquela pessoa que comprava seis, oito pães, agora compra quatro. A pessoa que perdeu o emprego, abriu o seu negócio. A concorrênc­ia aumentou demais”, explicou.

Dados da Abimapi (Associação das Indústrias de Biscoitos, Massas e Pães), mostram que o consumo per capita de pães industrial­izados caiu de 2,2 kg/ano, em 2016, para 2,09 kg/ano, em 2017.

A indústria deve repassar, em média, 5% do custo do trigo, mas esse aumento deve ser gradual, conforme os estoques do cereal são refeitos. As indústrias costumam manter estoques, em média, para 70 dias.

De acordo com Claudio Zanão, presidente da Abimapi, produtos que têm o trigo como matéria-prima são os que mais sentirão o impacto. Em torno de 40% do custo de produção de biscoitos é da farinha de trigo, no macarrão e pães, esse percentual varia de 60% a 70%. “Metade do consumo do cereal no Brasil depende da produção de outros países, como a Argentina e o Canadá”, afirmou Zarão.

Ele lembrou que no primeiro semestre, a indústria sentiu os efeitos da entressafr­a e do câmbio, mas neste segundo semestre o impacto deve ser todo causado pela moeda americana. O setor vem estável nos últimos dois anos, com faturament­o na casa do R$ 39 bilhões/ano.

SUPERMERCA­DOS

Thiago Berka, economista da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos), disse que os mercados vão precisar repor em breve os estoques de produtos de limpeza. “Há alguns dias a disparada do dólar preocupa as empresas. Com estoques acabando, será preciso pagar mais para repor. E isso terá consequênc­ias para o consumidor final.”

A alta da moeda americana é resultado das indefiniçõ­es políticas do Brasil, explica o professor Kfoury. “São os investidor­es do mercado financeiro antecipand­o as consequênc­ias da eleição deste ano”, afirma.

Para o presidente do Sindpanp, há esperança que após as eleições o mercado financeiro se acalme e o preço do dólar estabilize.

Com essa disparada do dólar, os preços vão continuar subindo durante os próximos meses”

 ?? Marcos Zanutto ?? O setor da panificaçã­o deve ser um dos mais impactados pela alta do dólar, pois o Brasil não é autossufic­iente na produção de trigo e o cereal é precificad­o em dólar
Marcos Zanutto O setor da panificaçã­o deve ser um dos mais impactados pela alta do dólar, pois o Brasil não é autossufic­iente na produção de trigo e o cereal é precificad­o em dólar

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil