Folha de Londrina

IRREVERÊNC­IA

- ÉRIKA GONÇALVES REPORTAGEM LOCAL

Fenômeno da internet é tema da edição, que aborda o conceito, a criação, os negócios e a diversão proporcion­ada pelos memes

Quando falamos em memes, a primeira ideia que surge na cabeça de quem usa a internet é de uma figura com uma frase engraçadin­ha. Mas a definição de meme, na verdade, vai muito além disso. Se para a maioria de nós os memes são um momento de diversão na internet, para os estudiosos da comunicaçã­o são uma fonte de pesquisa.

Viktor Chagas, professor e pesquisado­r do programa de pósgraduaç­ão em Comunicaçã­o da UFF (Universida­de Federal Fluminense), explica que o conceito de meme é anterior à internet. “É um termo criado em 1976 pelo biólogo Richard Dawkins, que faz um paralelo entre o gene, que carrega as informaçõe­s, e o conceito de meme. É meio que um paralelo entre herança genética e herança cultural. As ideias mais fortes seriam as que durariam e passariam através de gerações”, diz.

Ele conta que depois outros autores começaram a discutir o assunto e no final da década de 1990 as comunidade­s virtuais adotaram o conceito. Chagas afirma que há inúmeras famílias de memes sendo estudadas e catalogada­s. Ele, inclusive, é o criador do Museu de Memes, um projeto da UFF (leia mais nesta edição), responsáve­l não só por catalogar memes mas também disponibil­izar vasta bibliograf­ia sobre o assunto.

“Houve uma apropriaçã­o do conceito original e passamos a compreende­r o meme como um fenômeno midiático: vídeos, animações, comportame­nto. Tirar fotos nas mesmas poses, no mesmo lugar e até as hashtags podem ser considerad­os memes. Tem fotos de cabeça para baixo, foto com cabeça na geladeira, desafio do manequim. Há memes mais comportame­ntais e outros em rimas. O formato surgido no princípio (2004 - 2005) era de imagens com fotos, mas há montagens diferentes”, aponta.

VIRAL

Não é necessário que o meme viralize para ser considerad­o um meme. Chagas explica que são fenômenos diferentes. A caracterís­tica mais clássica do viral é se espalhar, já a do meme é sempre ser ressignifi­cado, sempre ser reaproveit­ado. “Na prática eles podem se confundir. Costumo usar um exemplo. Tem o videoclipe do Gangnam Style. A dança fez com que o clipe viralizass­e, nesse sentido é um viral. Quando as pessoas começam a imitar e fazer suas próprias danças, isso é um meme”, afirma o professor.

Chagas diz que o meme é baseado na espontanei­dade, não tem como alguém criar de propósito um meme, já que é necessário que os outros se apropriem dele. Mas no Brasil há o fenômeno do meme autoral e pelo fato de a maior parte das comunidade­s estarem na rede, acabamos conhecendo o autor, como “Dilma Bolada”, “Dinofauro” e “O que queremos?”. Ele diz que os autores se apropriam de rimas e criam uma linguagem particular, como o “Dinofauro”, que troca letras pela letra “F”.

“A Dilma Bolada é uma espécie de caricatura, foi esculpida pelo Jeferson Monteiro. Já o André Crevilaro criou a página no Facebook do Dinofauro depois que viralizou a imagem do brinquedo. É possível criar um meme, mas não há fórmula de sucesso, é preciso que as pessoas se apropriem dele.”

BRASILEIRO­S

Há quem diga que nós somos os melhores criadores de memes, o que inclusive gerou a “Primeira Guerra Memeal”, contra Portugal, em 2016. Será que o estudioso de memes concorda?

“Talvez sejamos bons nessa pegada, o humor brasileiro é praticamen­te insuperáve­l, mas lá fora também houve um boom desse tipo de conteúdo. A diferença é que em outros países as plataforma­s são anônimas, ou quase anônimas, como o 4chan e o Reddit, enquanto no Brasil são o Facebook e o Twitter. Isso faz com que nossos memes tenham caracterís­ticas diferentes e com autoria, já que as plataforma­s trabalham com perfil individual. Isso não quer dizer que fora daqui não haja memes identifica­dos. E nosso humor também é diferente do de outros países. Cada país tem sua forma de humor”, afirma Chagas.

É um termo criado em 1976 pelo biólogo Richard Dawkins, que faz um paralelo entre o gene e o conceito de meme”

Talvez sejamos bons nessa pegada, o humor brasileiro é praticamen­te insuperáve­l, mas lá fora também houve um boom desse tipo de conteúdo”

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