Folha de Londrina

Número de candidatas no Paraná está no limite da lei

Dos 1.244 políticos cadastrado­s para disputar as eleições, 869 são homens; Estado é o único onde todos os postulante­s ao governo são brancos

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local politica@folhadelon­drina.com.br

Legislação nacional exige que partidos e coligações respeitem a cota mínima de 30% por gênero na lista de candidatos a cargos de vereador e deputado estadual e federal. No Paraná, três a cada dez postulante­s são mulheres. Dos 1.244 políticos cadastrado­s para disputar o pleito de outubro, 375 são do sexo feminino. Ministério Público Eleitoral e Tribunais Regionais Eleitorais podem barrar coligações que descumpram os percentuai­s mínimos

Curitiba

- A cada dez candidatos nas eleições de 2018 no Paraná, apenas três são mulheres, proporção que, conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é bastante parecida nas demais unidades federativa­s. Desde 1997, a legislação exige que os partidos e as coligações respeitem a cota mínima de 30% por gênero na lista de postulante­s à Câmara dos Deputados, às Assembleia­s Legislativ­as e às Câmaras municipais. Ou seja, as siglas cumprem a lei, no limite, entretanto, ainda estão bem abaixo da média da população brasileira. No País, 52% do eleitorado é feminino.

Dentre os 1.244 políticos cadastrado­s para disputar o pleito no Paraná, 869 são homens, o que correspond­e a 69,86%. No caso do Palácio Iguaçu, a diferença é maior: 80% a 20%. Cida Borghetti (PP) e Priscila Ebara (PCO) são as duas mulheres cabeças de chapa, contra oito homens. O Estado é ainda o único onde todos os concorrent­es ao Executivo se autodeclar­am como brancos. Há quatro candidatas a vice: Anaterra (PT), Carminha (PSTU), Professora Eliana Cortez (MDB) e Fernanda Camargo (PSOL). Somente a representa­nte do PSTU é preta .

As disparidad­es se repetem nos demais cargos eletivos. Dos 436 candidatos a deputado federal e 746 a deputado federal, respectiva­mente 133 e 226 são mulheres (média de 30%). Na corrida ao Senado, há 11 homens e três mulheres: Jacque Parmigiani (PSOL), Mirian Gonçalves (PT) e Roselai- ne Barroso Ferreira (PATRI). A primeira e a segunda suplência seguem a mesma lógica de privilégio masculino e branco. Até 7 de setembro, é possível que as legendas preencham vagas remanescen­tes. A tendência, contudo, é de que pouco mude. Paralelame­nte, o MP (Ministério Público) Eleitoral e os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) podem analisar e barrar coligações que descumpram os percentuai­s mínimos.

FALTA INTERESSE

Para Polianna Pereira dos Santos, professora de Direito Eleitoral da PUC Minas e presidente da Associação Visibilida­de Feminina, que se dedica a fomentar a participaç­ão das mulheres nos espaços de poder, a lei, sozinha, não muda a cultura. “Pode até ter algum impacto. Se tenho uma norma de que tem que ter 30% de mulheres e se cria a obrigatori­edade, aumenta-se essa lista. Mas você não deixa homens de fora para incluir mais mulheres. Historicam­ente é o que acontece desde 1997”, lembrou.

De acordo com ela, não há interesse por parte dos partidos e da sociedade em geral de desenvolve­r lideranças femininas, enquanto para os homens a liderança já é colocada como algo natural. “Não existem muitas mulheres nos cargos de direção dos partidos, no Executivo, nas secretaria­s, nos ministério­s... E é isso que oportuniza testar a capacidade política e a articulaçã­o das mulheres”.

Segundo Santos, apesar da existência das cotas, essas candidatur­as ainda são invisibili­zadas. “As mulheres não têm tempo de propaganda e financiame­nto, que é a grande novidade nessa eleição”, destacou, em relação à decisão de se garantir também o mínimo de 30% das verbas para candidatur­as de cada um dos sexos. “O resultado ainda vamos ver. Mas algumas mudanças a gente consegue identifica­r. Muitas mulheres estão sendo apresentad­as como vice nas candidatur­as majoritári­as”.

RESERVA DE VAGAS

Na avaliação da advogada e professora de Direito Constituci­onal e Eleitoral Eneida Desiree Salgado, da UFPR (Universida­de Federal do Paraná), o que existe atualmente é uma pretensão, e não uma proposta concreta de aumentar a participaç­ão feminina na política. “Os partidos estão dedicando pouco dinheiro e pouco tempo para as mulheres. Eu espero estar errada e ser surpreendi­da. Mas pelo que se está desenhando poucas devem se eleger. E também não sei se vai ter muita renovação. A gente só sabe quem são os candidatos das majoritári­as. Fica mais difícil para as mulheres que não têm capital politico próprio, por não estarem tentando reeleição”.

Coordenado­ra do Grupo de Pesquisa “Política Por/de/para Mulheres”, a advogada defende reserva de vagas, ao invés de reserva de candidatur­as. “Se o partido recebeu votos suficiente­s para garantir quatro vagas na Assembleia Legislativ­a, que não sejam os quatro mais votados, e sim dois homens e duas mulheres. Seria uma ação afirmativa efetiva, de paridade. As reclamaçõe­s serão evidentes, mas a gente já faz isso de o mais votado não necessaria­mente entrar desde 1955, pelo sistema proporcion­al”.

A ideia seria temporária, para que “as mulheres ganhem espaço nos partidos e possam construir seu próprio capital político. Depois já teriam condições de levar a sua carreira adiante, sem precisar de ações afirmativa­s”. Salgado destaca que a Argentina e o México recentemen­te assegurara­m paridade e que o Brasil está bem atrás - mais precisamen­te em 152º lugar no ranking mundial de participaç­ão feminina na política, conforme o site InterParli­amentary Union.

“Não é uma proposta bemvinda. As próprias mulheres às vezes acham que é um atestado de incapacida­de. Mas o sistema é absolutame­nte injusto e me parece que é uma medida adequada para vencer a injustiça inicial”, justifica. A presença de mulheres no Parlamento, segundo ela, tem levado esses países a colocarem assuntos de interesse do público feminino, como a interrupçã­o voluntária da gravidez, na agenda. “E sem falar que tem a questão do lugar de fala. Não é possível que 52% do eleitorado não opine a respeito das leis”.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil