ADEUS DO HERÓI -
Semana será de homenagens ao senador morto no sábado; funeral será no próximo domingo (2), na Academia Naval em Annapolis
Em carta de despedida, o senador John McCain afirma que a grandeza dos Estados Unidos é enfraquecida quando se confunde “patriotismo com rivalidades tribais”. Político morreu no sábado (25) em decorrência de câncer no cérebro.
Washington -
Em uma carta de despedida, o senador e herói de guerra John McCain afirmou que a grandeza dos Estados Unidos é enfraquecida quando se confunde “patriotismo com rivalidades tribais”, e pediu que os americanos não se desesperem com as “dificuldades atuais”.
O texto foi divulgado nesta segunda (27) por Rick Davis, porta-voz da família e ex-gerente de campanha do republicano. O senador morreu no último sábado (25) em decorrência de um câncer no cérebro.
“Nós enfraquecemos a nossa grandeza quando confundimos patriotismo com rivalidades tribais que semearam ressentimento, ódio e violência em todos os cantos do globo”, escreveu.
“Nós enfraquecemos isso quando nos escondemos atrás de muros, em vez de derrubálos, e quando duvidamos do poder dos nossos ideais, em vez de confiar neles para ser a grande força de mudança que sempre foram.”
McCain disse que os americanos são cidadãos “da maior república do mundo, uma nação de ideais, não de sangue e terra”, uma referência ao slogan nazista incorporado por movimentos racistas nos Estados Unidos.
Se os compatriotas se lembrarem de que têm muito mais coisas em comum do que divergências, e de que todos amam o país, disse ele, conseguirão atravessar “esses tempos difíceis” e sairão “mais fortes do que antes”.
“Não se desesperem com nossas dificuldades atuais, mas acreditem sempre na grandeza da América”, afirmou. “Os americanos nunca desistem. Nós nunca nos rendemos. Nós nunca nos escondemos da história. Nós fazemos história.”
McCain também disse se sentir a pessoa mais sortuda do mundo. “Eu amei a minha vida, toda ela. Tive experiências, aventuras e amizades suficientes para dez vidas satisfatórias, e sou muito grato por isso.”
Para ele, “estar conectado com as causas da América de liberdade, justiça igualitária e respeito pela dignidade dos outros” lhe trouxe uma felicidade “sublime”.
“Eu tentei servir ao país com honra. Cometi erros, mas eu espero que meu amor pela América tenha um peso maior em relação a eles”, escreveu. “Adeus, companheiros americanos. Deus os abençoe, Deus abençoe a América.”
A semana será de homenagens ao senador. Na quarta (29), será velado na Assembleia Legislativa do Arizona, estado pelo qual exerceu seis mandatos no Senado.
Dois dias depois, haverá uma homenagem no Capitólio, onde seu corpo será velado com honras de Estado na Rotunda do Congresso americano, homenagem que até hoje apenas outras 29 pessoas tiveram na história.
O último a receber esse tipo de celebração foi o senador democrata pelo Havaí Daniel Inouye, morto em 2012 - em fevereiro de 2018, o corpo do pastor Billy Graham também foi exibido no local, mas ele não recebeu honras de Estado.
O funeral será no domingo (2), na Academia Naval em Annapolis, Maryland, onde se formou em 1958.
O presidente Donald Trump anunciou também nesta segunda que a bandeira ficará a meio-mastro até o enterro do senador -os dois eram adversários internos dentro do Partido Republicano e McCain expressou que o presidente não seria bemvindo em seu funeral.
Por isso, Trump tinha sido criticado por sua resposta a morte do senador, considerada muito fria.
POLIDEZ
Era um herói, um estadista de imponente figura, mas, no mundo cada vez polarizado da política americana, a ausência de John McCain será sentida por uma virtude bem mais simples: sua polidez.
Como afirmou um comentarista no Twitter: “O falecimento de McCain é sentido como o fim de uma era da política americana que estava longe de ser perfeita, mas que era mais estável e civilizada”.
Esta decadência do civismo não é de todo nova. Tampouco pode ser atribuída apenas a Donald Trump, embora o atual presidente pareça se orgulhar de inventar adjetivos e descrições pouco lisonjeiras de seus inimigos políticos.
O próprio McCain era conhecido por se enfurecer de vez em quando com seus adversários. Também podia ser brusco, como quando disse a um jornalista que a pergunta que tinha acabado de fazer era “idiota”. Nesse episódio, após a intempestiva subida de tom, deu-se um tempo para uma resposta completa e reflexiva.
(Com France Presse)