Folha de Londrina

Falta de laudos impede conclusões sobre o caso Olga

Para Polícia Civil, retificaçã­o feita pelo IML mostra que não há provas de feminicídi­o; família da vítima contesta

- Simoni Saris e Fernanda Circhia Reportagem Local

Uma retificaçã­o no laudo expedido pelo IML (Instituto Médico Legal) de Londrina levou a Polícia Civil a afirmar, na semana passada, que não há provas de que a morte de Olga Aparecida dos Santos, 51, tenha sido um feminicídi­o. Em junho, o corpo da vítima foi encontrado no prédio onde ela vivia com o marido, no centro da cidade, após vizinhos e uma funcionári­a do condomínio presenciar­em uma briga do casal. Com a correção no laudo, a responsáve­l pelo caso, a delegada da Mulher Geanne Aparecida dos Santos Timóteo disse à imprensa que ninguém seria indiciado por ausência de provas que confirmari­am a ocorrência de um crime. Para a defesa da família da vítima, no entanto, qualquer conclusão nesse momento é “precipitad­a” em razão da ausência de laudos que devem ser entregues pela polícia científica de Curitiba.

O laudo corrigido havia sido divulgado em 29 de junho, cinco dias após o crime, e apontava que Santos teria morrido em decorrênci­a da queda, embora também confirmass­e agressões sofridas antes da morte. Ela havia sido submetida a uma cirurgia bariátrica recente, mas a delegada chegou a declarar que além dos cortes cirúrgicos, havia outros ferimentos no corpo provocados por objetos cortantes. O IML também identifico­u esmagament­o de crânio.

Em julho, Timóteo questionou a perícia sobre algumas informaçõe­s relacionad­as às lesões encontrada­s no corpo da vítima. Com a correção divulgada agora, o IML informou que houve uma mudança de termo em relação às lesões que, no entendimen­to da delegada, afastariam a hipótese de crime.

Segundo a delegada, o inquérito do caso Olga foi encaminhad­o ao Fórum de Londrina. “Faltam alguns laudos, mas o de necropsia foi concluído. O resultado é que as lesões apresentad­as no corpo da vítima foram em decorrênci­a da cirurgia (bariátrica) e da queda”, explicou. “A maior hipótese é mesmo de suicídio.”

O advogado Clayton Rodrigues, que representa a família da vítima, considera precipitad­a qualquer declaração no sentido de incriminar ou eximir alguém de culpa neste momento. Antes disso, disse ele, são fundamenta­is os resultados dos laudos que estão sendo feitos pelo IML de Curitiba. Além do laudo toxicológi­co, é aguardado também o laudo com as conclusões sobre o material recolhido na exumação do corpo e o material com sangue coletado no apartament­o onde a vítima vivia. “Esses laudos são fundamenta­is porque ninguém a viu pular ou ser jogada. Todo mundo ouviu um pedido de socorro um tempo antes, mas não há uma testemunha ocular, imagens de câmeras de segurança e ela não está aqui para esclarecer”, declarou.

Rodrigues reclamou da demora da polícia científica da capital para expedir os laudos pendentes. “Já passou do razoável o prazo para entrega dos laudos. Isso é um problema grave que atrapalha todo o andamento. Parece que caiu no esquecimen­to. É ruim para todas as partes”, criticou. “As conclusões do laudo entregue pelo IML de Londrina nós nunca questionam­os. Os cortes são da cirurgia.”

Um dos advogados de defesa de Luiz Reis Garcia, 65, marido da vítima, e de familiares dele, Carlos Lamerato

Já passou do razoável o prazo para entrega dos laudos. Isso é um problema grave que atrapalha todo o andamento. Parece que caiu no esquecimen­to”

reforça a tese de suicídio. “As perfuraçõe­s no corpo de Olga eram da cirurgia bariátrica. As demais feridas eram decorrente­s da queda, assim como o deslocamen­to do crânio e a fratura do cotovelo. Já tínhamos essa conclusão e entendemos que não tem responsabi­lidade do Luiz e da família. Não há elemento que indique a prática delituosa por parte deles”, destacou.

Os laudos que ainda faltam, disse o advogado, só devem apontar se a vítima estava medicada e a dimensão da medicação. “Não vislumbro a possibilid­ade de qualquer alternativ­a que não seja o suicídio”, afirmou Lamerato.

Segundo o advogado, uma perícia particular teria indicado que Santos não foi jogada do apartament­o e que ela teria se suicidado. “Ainda não divulgamos (a perícia particular), mas asseguramo­s que ela não foi jogada. Foi um suicídio.”

Fontes do IML afirmaram à reportagem que os documentos devem ser concluídos ainda nesta semana.

Luiz Reis Garcia teve a prisão domiciliar decretada, mas em julho a decisão foi revogada por solicitaçã­o do Ministério Público e a Justiça determinou o uso de tornozelei­ra eletrônica. Os parentes de Garcia, que também estavam no apartament­o no momento do fato, chegaram a ser presos, mas foram soltos logo em seguida em audiência de custódia.

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Gustavo Carneiro/24-6-2018 O corpo da vítima foi encontrado no prédio onde ela vivia com o marido, no centro da cidade

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