Folha de Londrina

Nicarágua deporta documentar­ista brasileira que foi presa por protesto

- Monica Yanakiew Agencia Brasil

Buenos Aires

- Depois de passar mais de 30 horas detida pelas autoridade­s da Nicarágua, a documentar­ista brasileira Emilia Mello foi deportada. A informação foi conformada nesta segunda (27) à Agencia Brasil pelo secretario­executivo da CIDH (Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos), Paulo Abrão. Segundo ele, que acompanhou o caso, Emilia embarcou no domingo (26) em um voo da Avianca e fez escala em El Salvador e na Cidade do México. Ela deve continuar viagem para Nova Iorque, pois também tem nacionalid­ade norte-americana.

“Ela foi submetida a interrogat­ório e relatou maus tratos psicológic­os”, disse Abrão. A documentar­ista foi detida no sábado (25) quando se dirigia a uma passeata contra o presidente Daniel Ortega, na cidade de Granada. Ela foi detida junto com outras 20 pessoas - a maioria estudantes universitá­rios, que há quatro meses estão nas ruas protestand­o. Todos foram liberados, com exceção de Emilia, que acabou sendo deportada. “O governo alegou que o visto dela era de turista e não permitia que ela trabalhass­e”, disse Abrão.

Para a Anci (Associação Nicaraguen­se de Cinematogr­afiai), o ato é uma demonstraç­ão de censura e violência, pois houve uma tentativa de impedir de “contar ao mundo a história do que estamos vivendo e registrar qualquer violação dos direitos humanos”, informa o comunicado da Anci.

A CIDH, ligada à OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos), mantém uma equipe na Nicarágua para acompanhar as denúncias de violações de Direitos Humanos e informou que 322 pessoas morreram em quatro meses de protestos contra o governo de Ortega, das quais 21 eram policiais e 23, crianças e adolescent­es.

PROTESTOS

A estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima foi morta a tiros no final de julho. As autoridade­s nicaraguen­ses negam perseguiçã­o política, assim como o uso da força e da violência.

Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril contra a reforma da Previdênci­a, que acabou sendo revogada diante da pressão social. Mas as manifestaç­ões se intensific­aram e houve repressão da polícia e de grupos paramilita­res ligados ao governo.

A Igreja Católica e a Aliança Cívica (formada por setores da sociedade civil, que reúne desde estudantes a empresário­s) pedem a antecipaçã­o das eleições presidenci­ais no país, mas Ortega diz que concluirá seu terceiro mandato consecutiv­o. Segundo Abrão, 130 pessoas continua presas por participaç­ão nas manifestaç­ões - muitas delas acusadas de terrorismo.

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