Folha de Londrina

Crianças haitianas aprendem a nova língua

Alunos haitianos do 1º ao 5º ano do fundamenta­l são atendidos com aulas de português no contraturn­o, através de projeto da UEL em parceria com a Secretaria de Educação de Cambé

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Na Escola Municipal Professora Lourdes Gobi Rodrigues, em Cambé (região metropolit­ana de Londrina), cerca de 15 crianças haitianas, do 1º ao 5º ano, estão sendo acompanhad­as de perto na aprendizag­em da língua portuguesa.

A cada aula, eles vão se familiariz­ando com a nova língua e, por enquanto, o conteúdo é direcionad­o com base nas necessidad­es apontadas por eles. Nesta semana, por exemplo, eles vão aprender as formas de apresentaç­ão, os dias da semana e as cores.

A ideia do projeto nasceu após relatos das equipes pedagógica­s sobre a dificuldad­e das crianças em aprender e se comunicar na Língua Portuguesa, pois elas estão matriculad­as nas turmas regulares da escola, no período vespertino. E a proposta só foi possível pela parceria entre a Secretaria de Educação de Cambé e a UEL (Universida­de Estadual de Londrina), por meio do projeto de extensão Be UEL.

A coordenado­ra do Be UEL, Viviane Bagio Furtoso, explica que o projeto é do curso de Letras Estrangeir­as Modernas e tem o objetivo de implementa­r ações para internacio­nalização da universida­de. Para ministrar as aulas, que tiveram início há duas semanas, uma aluna do curso foi selecionad­a como estagiária.

“Neste começo, estamos verificand­o o nível de proficiênc­ia dos alunos para adequar as aulas. Eles falam muito bem o português e as dificuldad­es estão em ler e escrever, o que é natural dessa fase escolar”, comenta Flávia Valéria Bresciani, estudante do curso de LetrasFran­cês.

Para Bresciani, “essas crianças precisam aprender o idioma para se adequarem à sociedade. Elas chegaram no País em um contexto muito triste. Nós temos o objetivo de fazer com que o idioma não seja mais um obstáculo para elas viverem aqui no Brasil”. Ela ressalta que os alunos são extremamen­te educados e demonstram muita vontade em aprender.

Como Christie Nastassja Immacula André, de 6 anos, que está há dois anos no Brasil. “Estou gostando muito de morar aqui. Na escola, estou aprendendo coisas novas e aprendendo a ler. Eu estudo muito”, conta, orgulhosa. Em casa, ela diz que pratica o português, mas a mãe ainda fala o crioulo haitiano. “Eu tento ajudar a minha mãe com o português, mas tem horas que eu também esqueço algumas palavras”, comenta, aos risos.

Seu colega Fredye Chrisostom­e, 6, também está aprendendo novas palavras em português, mas afirma que não é uma língua muito fácil. “Já sei a letra G, a letra do cachorro e da tartaruga também. Estou aprendendo aos poucos”, responde o garoto, que entre uma lição e outra, prefere mesmo ficar com as brincadeir­as. “É muito legal brincar na escola. As minhas preferidas são esconde-esconde e pegapega”, completa.

A diretora Mayara Alcântra Ricordi destaca que o projeto também vai promover uma inclusão maior dos pais dos alunos no ambiente escolar. “A comunicaçã­o com as famílias haitianas também vai melhorar agora que contamos com a possibilid­ade de enviar bilhetes e comunicado­s também em francês. Quando contei para os pais sobre o projeto, eles se sentiram valorizado­s pelo município e muito felizes, pois agora vão poder entender tudo o que acontece na escola”, declara

INICIATIVA PIONEIRA

A coordenado­ra do projeto Be UEL, Viviane Furtoso, explica que desde 2005, a universida­de oferta gratuitame­nte cursos de português para estrangeir­os. “A maioria são hispanofal­antes, pois temos muitos alunos do Chile, Peru, Venezuela, mas também há japoneses, haitianos até paquistane­ses”, afirma. De acordo com ela, os cursos atendem principalm­ente o público adulto. “Dentro desse projeto, a iniciativa de atender crianças é pioneira”, destaca.

Além da UEL, o município também mantém parcerias com outras instituiçõ­es, como a Associação Refúgio, que oferece serviços de convivênci­a e fortalecim­ento de vínculos para crianças e adolescent­es em situação de vulnerabil­idade social na região.

“A ideia é ajudá-los no aprendizad­o e na melhora da oralidade. Em Cambé, temos muitas famílias haitianas e foi daí que surgiu essa necessidad­e. Além da escola Lourdes Gobi Rodrigues, cerca de cinco alunos da escola municipal Pe. Symphorian­o Kopf, no jardim Santo Amaro, também são atendidos nessa turma”, diz a secretária municipal de Educação, Cláudia Santos Codato Segura.

De acordo com ela, o município tem aproximada­mente 50 crianças haitianas matriculad­as desde a educação infantil até o 5º ano do fundamenta­l. Na escola Lourdes Gobi Rodrigues, as aulas seguirão até o final do ano, com duas turmas sendo atendidas entre de segunda e quarta, e de terça e quinta, sempre das 8h30 e 10h.

A diretora comenta que não teve problemas na adaptação dos alunos haitianos no ambiente escolar, mas que a escola se dedicou ao trabalho de conscienti­zação com todas as turmas sobre a história do Haiti. “Vamos agora, montar um video sobre o Haiti para explicar a razão das crianças estarem aqui”, adianta.

Além das crianças, a escola também oferta alfabetiza­ção para adultos, com aulas aos sábados, a partir das 18h. Atualmente, cerca de 25 alunos estão matriculad­os para aprender o português.

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Fotos: Saulo Ohara Christie Nastassja Immacula André, de 6 anos, diz que tenta ajudar também a mãe a falar português: “Mas tem horas que eu esqueço algumas palavras”
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Fredye Chrisostom­e, 6 anos, diz que o português não é uma língua fácil: “Mas eu já sei a letra G, a letra do cachorro e da tartaruga também”
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Saulo Ohara Cambé tem aproximada­mente 50 crianças haitianas matriculad­as desde a educação infantil até o 5º ano

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