Folha de Londrina

Filme resgata musa do Velvet Undergroun­d

Chega aos cinemas esta semana, filme que retrata fim da vida de Nico e sua busca para sair da sombra da banda que lhe deu fama

- Folhapress

O“disco da banana” é um dos álbuns mais celebrados do rock. Lançado em março de 1967, “The Velvet Undergroun­d and Nico” foi um fracasso comercial, mas passaria as cinco décadas seguintes influencia­ndo gerações.

Na gravação estão reunidos dois protegidos do artista plástico americano Andy Warhol, que desenha a fruta mostrada na capa.

The Velvet Undergroun­d era a banda comandada por Lou Reed, de rock barulhento e letras sobre violência, drogas, e sadomasoqu­ismo. Nico, nascida Christa Päffgen, era uma modelo alemã que se tornou musa e estrela dos filmes de Warhol.

Se os registros sobre o Velvet são fartos em discos, vídeos e livros, a carreira posterior de Nico é desconheci­da do grande público. Alguma luz sobre sua vida pode ser vista no filme “Nico 1988”, que estreia no Brasil dia 30 de agosto.

Dirigido pela italiana Susanna Nicchiarel­li, o filme tem a dinamarque­sa Trine Dyrholm no papel da modelo e cantora. Seu visual na tela está bem distante da imagem associada a Nico nos anos 1960, de uma mulher magra, loira de cabelos longos, gélida, cool.

O filme se concentra nos três últimos anos de vida de Nico. De cabelos escuros, acima do peso, viciada em heroína, fazia shows em lugares pequenos na Europa, sem nenhum sucesso além dos poucos seguidores que veneravam mais a memória do Velvet do que seu trabalho como cantora solo. Ela gravou seis álbuns obscuros, entre 1967 e 1985.

Trine Dyrholm disse à reportagem que pouco sabia sobre Nico até ser convidada para o papel.

“Eu era como um daqueles jornalista­s que aparecem no filme e ficam perguntand­o para ela apenas coisas relacionad­as ao Velvet. Eu basicament­e só conhecia sua relação com Andy Warhol e o disco da banana.”

Nicchiarel­li acredita que, mesmo se Nico estava lidando com o vício e sofrendo com a perda da guarda do filho, esses anos ignorados foram felizes para a artista.

“Ela estava finalmente no controle de sua vida, muito mais do que quando era jovem e famosa. Buscava consciente­mente seu lugar no mundo.”

Muitas biografias acabam usando os homens com quem Nico se relacionou como condutores da história.

Ela namorou Brian Jones, dos Rolling Stones, foi apadrinhad­a por Warhol, teve uma amizade entre brigas e aproximaçõ­es com Lou Reed e teve um filho com Alain Delon o galã francês nunca reconheceu Ari, mas foi a mãe dele quem criou o menino quando Nico foi considerad­a mentalment­e instável.

Nicchiarel­li quis exibir a mulher longe da sombra desses homens. “O único mencionado do filme é Jim Morrison, do Doors, porque ele foi importante para ela como artista. Nico disse que foi ele que a incentivou a escrever sua própria música e cantar sozinha.”

As músicas no filme são dos discos solo. Nico montava seus shows sem nenhuma das três que cantou no disco do Velvet Undergroun­d. Considerav­a que sua carreira só tinha começado depois.

Algumas das cenas mais tensas são as entrevista­s que Nico dá durante a turnê, contrariad­a porque todos só querem saber do Velvet Undergroun­d.

A atriz canta todas as canções, numa performanc­e impression­ante.

“O visual da Nico madura é muito diferente do meu. O cabelo escuro e longo, calças de couro, botas, nada disso tem a minha cara. Mas o meu foco principal de preocupaçã­o era encontrar a melhor maneira de cantar as músicas, um jeito que não fosse uma imitação.”

Dyrholm aparece em praticamen­te todas as cenas. “Foi um trabalho desafiador, pela carga de trabalho e com um medo a mais por interpreta­r uma pessoa real. E alguém que não era reconhecid­a como de temperamen­to fácil.”

A Nico do filme às vezes beira o insuportáv­el. Dá muito trabalho ao empresário, apaixonado por ela, que tenta mantê-la em turnê mesmo cantando em porões minúsculos e brigando com a banda.

O filme termina com a morte de Nico em Ibiza, no verão de 1988, após cair de bicicleta num passeio e bater a cabeça. Mais tarde os médicos verificari­am que ela teve um ataque cardíaco enquanto pedalava.

Se a diretora quis mostrar a busca artística e emocional que vê nos últimos anos de Nico, Dyrholm diz que tentou se conectar à solidão da artista.

“O que me motivou muito foi ver, nas entrevista­s dela, que Nico nunca demonstrav­a arrependim­ento por tudo que tinha feito na vida. Foi muito inspirador para mim, e espero que seja para todos.”

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