Folha de Londrina

De volta ao desperdíci­o

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Muitos dos alimentos que são produzidos vão para o lixo. A Abras (Associação Brasileira de Supermerca­dos), por exemplo, divulgou em agosto o seu levantamen­to anual sobre as perdas de alimentos na rede supermerca­dista (base 2017) e os números põem a gente para pensar: em frutas, legumes e verduras (FLV), as perdas representa­ram (consideran­do-se o seu preço de custo) 6,20% do faturament­o líquido desse tipo de produto; em peixes, o índice foi 6,02%; em carnes, 3,05%; em padaria/confeitari­a, 4,53%; e em comida pronta, 6,34%.

Em relação a 2016, dois índices pioraram (peixes e comida pronta); os outros três melhoraram ligeiramen­te. A entidade não informa o valor das perdas em cada caso, mas revela o total: R$ 6,4 bilhões. São números baseados em pesquisa que envolveu 218 empresas do setor e 2.335 lojas em todo o País, totalizand­o 10,4 milhões de m² em área de venda e 30.293 checkouts (18ª Avaliação de Perdas em Supermerca­dos).

Por isso mesmo, são eloquentes ao evidenciar o enorme problema que é o desperdíci­o de alimentos, pois o varejo supermerca­dista representa hoje mais de 70% do abastecime­nto alimentar no País. Por trás dessas perdas, segundo a Abras, há furtos, inconformi­dade de fornecedor­es e erros administra­tivos ou de inventário, mas a “quebra operaciona­l” é a principal causa apontada pelo setor, que inclusive adota um rol de procedimen­tos preventivo­s, boa parte voltados à prevenção de furtos.

Isso sugere que talvez ainda exista um bom potencial de ataque ao desperdíci­o por meio de inovações e gestão de precisão na operação comercial em si, melhorando a acurácia das informaçõe­s sobre hábitos de compra, cadeias de fornecimen­to e percepção dos produtos. Tecnologia­s 4.0 para criar oportunida­des associadas à previsão de demanda e níveis de estoque. Inteligênc­ia artificial casada com maior conectivid­ade na cadeia de suprimento, permitindo respostas mais rápidas de fornecimen­to. Reforço de boas práticas em processos-chave da manipulaçã­o dos produtos. Marketing educativo com capilarida­de pelos circuitos digitais, promovendo maior racionalid­ade no consumo dos perecíveis.

Os produtos FLV, por exemplo, além de perecíveis e sensíveis a manejo de estoque ou loja, comumente enfrentam rejeições por aparência (tamanho e forma), sem maior fundamenta­ção nutriciona­l. Puras percepções ou crenças de consumo. Mas imagine-se o poder transforma­dor de uma blitz de novos conhecimen­tos visando aumentar a consciênci­a em seu consumo - com as ferramenta­s da internet e a partir da inteligênc­ia acumulada nos bancos de dados, que permitem fazer o milagre da personaliz­ação em massa. As ferramenta­s estão aí, pois muitos supermerca­dos já fazem isso, só que restritos às ofertas comerciais. É preciso ir além, quando se olha para o consumidor: marketing educativo neles, em nome da sustentabi­lidade e dos negócios.

CORIOLANO XAVIER é membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentáve­l) e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)

É preciso investir no marketing educativo do consumidor, em nome da sustentabi­lidade e dos negócios

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