Folha de Londrina

LEITURINHA

- (Iza Melo, carioca, psicanalis­ta)

Livro de Arthur Nestrovski apresenta coleção de curiosos seres do mundo animal

“Não há um único governo, em memória recente, que não seja cúmplice dessa tragédia. Se eu tivesse tido qualquer cargo público remotament­e relacionad­o a verbas para os museus brasileiro­s, cobriria a cabeça de cinzas e nunca mais sairia de casa.” (Cora Rónai, carioca, jornalista, escritora, colunista do jornal O Globo)

“Depois de muita mendicânci­a, o BNDES prometeu dar míseros 20 milhões para uma reforma do Museu Nacional. Mas quem conhece as dimensões do Palácio Imperial, sabe que essa quantia é irrisória. Enquanto isso, só Geddel Vieira Lima mantinha 50 milhões em dinheiro vivo em um apartament­o e o Fundo Partidário público para a campanha eleitoral é de 2 bilhões e 500 milhões de reais. Esse é o Brasil que acaba de destruir um Museu de 200 anos.” (Marcus Fabiano, professor da Faculdade de Direito da Universida­de Federal Fluminense - UFF - gaúcho, radicado no Rio de Janeiro há 8 anos)

“Nasci em São Cristóvão isto já me garantiria uma intimidade com a Quinta da Boa Vista. Minha infância foi brincada nos seus jardins. Na minha fantasia, do seu lago, dentro de um barquinho eu me dizia em Veneza. Descobri o Museu um pouco mais tarde. Mas bastou ultrapassa­r uma vez aqueles portões e me senti em casa,em um mundo que se mostrava novo, a cada olhar. Do dinossauro, aos artefatos indígenas eu me perdia e me encontrava em um outro lugar. Uma sucessão de descoberta­s encantadas para a minha pouca idade. Mas, nada suplantou a magia que me capturou quando o universo egípcio se materializ­ou diante do espanto tanto pela beleza, quanto pelo medo imenso da múmia. Devia ter à época uns 7 anos. E a múmia entrou na minha vida como um desafio : Vencer o medo. E, minha rotina passou a ser, visitá-la. Cada dia eu ousava um pouco mais, até um dia que um professor que guiava uma visita lançou um desafio: “Quem tem coragem de tocar a múmia?” E, eu para meu espanto, me precipitei e pousei minha mão.

Medo superado, orgulhosa e feliz com minha audácia, passei a olhar aquela parte do museu como meu Egito particular.

Hoje, meu medo retornou e assisto assustada e triste a essa tragédia para a nossa história, para nossa cultura. Enquanto escrevo vejo a fome das labaredas se nutrirem do passado e da potência de futuro que sempre circulou por ali.

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