Folha de Londrina

Marketing de influência está por trás de compra de usuários nas redes por candidatos

Atividade em alta no período eleitoral veio à tona com o "mensalinho do Twitter" revelado por influencia­dora digital contratada pelo PT

- Mateus Luiz de Souza Folhapress

São Paulo - Candidatos em busca de aumentarem sua relevância na corrida eleitoral procuram agências de marketing digital responsáve­is pela ponte com influencia­dores, que são chamados para escreverem posts favoráveis nas redes sociais em troca de dinheiro. O “Mensalinho do Twitter”, como ficou conhecido, foi exposto pela jornalista e militante Paula Holanda, ao perceber que não se tratava de promover pautas de esquerda em geral, mas sim conteúdos específico­s em favor de candidatur­as do PT - o PR também teve material propagado no esquema.

A prática é proibida pela legislação eleitoral, que só permite o impulsiona­mento de conteúdos identifica­dos. O Mensalinho deve ser alvo de investigaç­ões das Procurador­ias no Piauí e em Minas, e os registros das candidatur­as envolvidas podem ser cassados. O que chamou atenção nesse episódio foram os perfis dos influencia­dores acusados de participaç­ão: 5 mil, 10 mil, 20 mil seguidores - números microscópi­cos se comparados aos milhões de Whindersso­n Nunes, Kéfera, e cia.

Essa segmentaçã­o faz parte de uma tendência do marketing de influência (como é conhecido esse mercado com influencia­dores digitais): o uso de microinflu­enciadores, ou influencia­dores locais.

As marcas preferem investir em dezenas de perfis menores em vez de uma campanha com apenas um nome mais consolidad­o. E por três razões.

ECONOMIA

A primeira, econômica. “O influencia­dor maior está muito profission­alizado e cobra mais caro”, diz Marcus Coelho, CEO da Digital Influencer­s, plataforma que faz “match” entre empresas e influencia­dores. A segunda tem a ver com métricas. “Eles não têm uma audiência maciça, mas possuem uma tendência de engajament­o maior do que os grandes”, afirma Gian Barbera, sócio da iFruit, que conecta marcas a influencia­dores.

A terceira está ligada à autenticid­ade.

“O grande influencia­dor faz tanta coisa que está difícil acreditar no que ele diz. Interessa mais para a marca um influencia­dor pequeno que vá num festival de gastronomi­a e traga uma verdade ao comentar do evento”, diz Daniele Rodrigues, professora da USP e ESPM.

Para Leandro Bravo, sócio da Celebryts (plataforma que funciona como um “Google de influencia­dores”), trata-se de um mercado com bastante a aprender. “Muitos trabalham só com o número de seguidores, e os resultados certas vezes frustram os clientes. É preciso saber quanto o influencia­dor entrega de engajament­os, de visualizaç­ões, e aí tornar a campanha mais efetiva.”

Como está mais fácil ser um microinflu­enciador, há uma verdadeira corrida a aspirantes, de acordo com a consultora Karen Vanessa, sócia da Youka, que trabalha com influencia­dores regionais em Goiás e no Distrito Federal.

“O microinflu­enciador não é só blogueiro. Eu trabalho com profission­ais que querem influencia­r em sua área de atuação, como médicos, dentistas, lojistas, crescendo nesse mercado”, afirma Karen, que dá cursos, palestras e aulas personaliz­adas.

CREDIBILID­ADE

Essa lógica do marketing de influência, portanto, foi replicada no Mensalinho do Twitter.

E a procura por influencia­dores -grandes ou pequenoses­tá aquecida nessa véspera eleitoral.

“A gente coincident­emente recebeu essa demanda . Outros políticos também vieram falar disso. Mas preferimos não atender aqui”, diz Marcus Coelho.

João Mendes, diretor da NonStop, que gerencia carreiras de artistas como Whindersso­n Nunes e Carlinhos Maia, vai na mesma linha. “Chega muita solicitaçã­o de partidos, deputados. Como o mercado de influencia­dores não é grande, espalhamos que esse trabalho não é feito, e os políticos pararam de nos procurar. Eu até defenderia aceitar o convite se fosse uma causa de verdade do influencia­dor, caso contrário ele perde credibilid­ade”.

“Agências e influencia­dores estão cautelosos devido ao desgaste político dos últimos anos. Num outro cenário, talvez isso fosse mais comum. Quando chega algum pedido nesse sentido, eu recuso”, diz Gian Barbera.

É preciso saber quanto o influencia­dor entrega de visualizaç­ões, e aí tornar a campanha mais efetiva"

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil