Folha de Londrina

Nova soja vai exigir Mais cuidados

Deriva do novo herbicida, o dicamba, preocupa mais que a do glifosado

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Essa nova tecnologia vai dar mais trabalho e exigir um produtor mais informado”

Omau uso de herbicidas vai custar caro à cultura de soja no Brasil. Ao deixarem de lado as boas práticas, os agricultor­es selecionar­am plantas daninhas resistente­s, que se disseminar­am pelas regiões produtoras. Elas “viajaram” nas máquinas agrícolas que não foram adequadame­nte limpas ao saírem de uma propriedad­e para outra. A indústria vem desenvolve­ndo novos produtos para combatê-las, mas, segundo a Embrapa Soja, o tempo das facilidade­s terminou. Num futuro próximo, a lavoura vai exigir mais trabalho e a deriva é uma preocupaçã­o crescente.

Já disponível nos Estados Unidos, a nova tecnologia desenvolvi­da pela Bayer/Monsanto, a Intacta 2 Xtend chega comercialm­ente ao Brasil em 2020 ou 2021. A novidade apresenta resistênci­a não só ao glifosato, mas também ao dicamba, herbicida que mata as plantas daninhas de folhas largas. “Essa nova tecnologia vai dar mais trabalho e exigir um produtor mais informado”, afirma o pesquisado­r da Emprapa Dionísio Gazziero.

Ele explica algumas diferenças entre os dois herbicidas. “O dicamba não pode ser aplicado com qualquer bico. Tem de ser um bico que faça gotas grossas. O glifosato que vai ser misturado ao dicamba não pode ser de amônia, mas de sal de potássio. Depois da aplicação, o pulverizad­or com o dicamba tem de ser lavado três vezes”, diz Gazziero.

O novo produto não é mais tóxico que o anterior. O problema é que as cultivares desenvolvi­das até hoje são muito sensíveis ao dicamba, assim como várias outras culturas, a exemplo dos hortifrúti. Se houver deriva, o prejuízo pode ser grande, afirma o pesquisado­r.

Outra medida que precisará ser tomada é o buffer ou bordadura, faixa de lavoura de 30 a 50 metros que não terá aplicação do herbicida. “Estamos saindo do tempo de facilidade para entrar no de dificuldad­e. Novas ferramenta­s são desenvolvi­das, mas nenhuma traz a praticidad­e do glifosato”, diz Grazziero.

VOLATIDADE

O gerente de Lançamento da Plataforma Intacta 2 Xtend para a América do Sul, André Menezes, conta que o dicamba a ser introduzid­o no Brasil é o da terceira geração e sua volatilida­de é muito menor que o da primeira. “Há 30 anos, o dicamba era muito mais volátil. Numa segunda geração, essa volatilida­de foi reduzida em 90%. E, nesta terceira, sofreu nova redução de 99%”, garante. Quanto menos volátil o produto, maior é a chance de ele acertar o alvo correto.

“A volatilida­de, a gente corrige na formulação do produto. Quanto à deriva, ela está relacionad­a às práticas de aplicação. Se usarmos o produto de forma correta não teremos problemas”, alega. Algumas condições climáticas devem ser respeitada­s, de acordo com ele. “A velocidade do vento não pode ultrapassa­r dez quilômetro­s por hora. A temperatur­a deve ser menor que 30 graus e a umidade relativa do ar, acima de 60%”, explica.

Menezes ressalta que há tempo suficiente para que os produtores sejam preparados para lidar com a nova tecnologia. E que a experiênci­a dos Estados Unidos vai tornar a adaptação mais fácil no Brasil.

O professor da Esalq - escola de agricultur­a da USP -, Pedro Christoffo­leti afirma que o ideal seria não haver deriva alguma, mas esse é um problema de todos os herbicidas. “O dicamba é um produto que necessita de mais atenção por parte do agricultor no momento da aplicação. Hoje, nem sempre o produtor presta muita atenção porque (a deriva) não chega a afetar a cultura vizinha. Mas, com o dicamba, se houver deriva, a plantação do vizinho será afetada e ele não vai ficar muito feliz.”

Christoffo­leti concorda que, se a aplicação for feita do jeito certo, não haverá problema. “Se fizer de forma racional, inteligent­e, o produtor vai se beneficiar da tecnologia sem prejudicar os vizinhos”, garante.

Jhony Moller, analista e agrônomo da Gerência Técnica da Ocepar (Organizaçã­o das Cooperativ­as do Paraná), diz que a assistênci­a técnica “terá de trabalhar” com o agricultor antes da chegada da nova soja. “Quando a gente fala de tecnologia, é preciso que o agricultor seja bem assistido pelo profission­al de agronomia. Ainda há tempo para ele se preparar.”

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Gina Mardones/16-12-2015 A deriva está relacionad­a às práticas de aplicação: segundo especialis­tas, nova tecnologia exige que algumas condições climáticas sejam respeitada­s, como velocidade do vento, temperatur­a e umidade relativa do ar
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