Folha de Londrina

O vaivém da investigaç­ão

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local (M.F.R.)

Curitiba -

O juiz federal Sérgio Moro, responsáve­l pelos processos da Lava Jato em primeira instância, recebeu nessa quarta-feira (5) denúncia contra Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete do ex-governador Beto Richa (PSDB), e mais dez pessoas pelos crimes de corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Conforme o MPF (Ministério Público Federal) do Paraná, há provas de que a Odebrecht pagou propina para obter vantagens ilícitas durante a exploração e duplicação da PR-323, entre os municípios de Francisco Alves (Noroeste) e Maringá (Norte). O contrato, de R$ 7,2 bilhões, foi assinado em 2014.

Os outros réus são: o empresário Jorge Theodócio Atherino, apontado como “operador” (intermediá­rio que gerenciava as propinas) de Beto, Adolpho Julio da Silva Mello Neto, Benedicto Barbosa da Silva Junior, Fernando Migliacchi­o da Silva, Luciano Riberiro Pizzatto, Luiz Antônio Bueno Junior, Luiz Eduardo Soares, Maria Lucia Tavares, Olívio Rodrigues Junior e Álvaro José Galliez Novis. Apesar de citado, o ex-governador, que concorre a uma vaga no Senado nas eleições de outubro, não foi formalment­e acusado. Os procurador­es da força-tarefa escreveram na peça, contudo, que outras denúncias serão oferecidas “oportuname­nte”.

A DENÚNCIA

De acordo com o MPF, executivos da empreiteir­a procuraram Roldo em janeiro de 2014 e solicitara­m apoio para afastar concorrent­es interessad­os na licitação da PPP (Parceria Público Privada). Após uma primeira reunião, o exchefe de gabinete teria se encontrado novamente com executivos da companhia, informando que faria o favor, mas que para isso contava com a ajuda da Odebrecht na campanha de reeleição do tucano ao governo. Ainda segundo o órgão, em uma terceira reunião, em 14 de fevereiro de 2014, Roldo contou que procurou a CCR e a Viapar e que ambas não participar­iam da licitação. Entretanto, disse que o Grupo Bertin tinha interesse, por intermédio da empresa Contern.

Os procurador­es escreveram na denúncia que o braço-

A investigaç­ão do Ministério Público Federal tramitava no STJ (Superior Tribunal de Justiça) até 2016, pelo fato de Beto Richa então ocupar o cargo de governador do Estado, possuindo foro privilegia­do. Com a renúncia, os autos foram inicialmen­te remetidos para o juiz Sergio Moro. A defesa do ex-governador recorreu contra a decisão e o STJ decidiu remeter o caso para a Justiça Eleitoral. O juízo eleitoral,

direito de Beto Richa chamou o executivo da Contern, Pedro Rache, para uma conversa no Palácio Iguaçu em 24 de fevereiro. O encontro foi gravado por Rache e transcrito na denúncia. O ex-chefe de gabinete do ex-governador informou ao empresário que tinha “compromiss­os” com a Odebrecht e solicitou ostensivam­ente que a Contern se afastasse do certame para obtenção do contrato da PR-323. No mesmo diálogo, Roldo, de forma direta, vinculou a desistênci­a da licitação a interesses do Grupo Bertin na Copel (Companhia Paranaense de Energia).

Em 25 de março de 2014, o Consórcio Rota Das Fronteiras, composto por Odebrecht, Tucumann, Gel e America, foi o único a fazer proposta, sagrando-se seguida, devolveu a investigaç­ão à 13ª Vara Federal de Curitiba, justifican­do que havia evidências de crime de corrupção e lavagem de dinheiro transnacio­nal.

Para o MPF, a sequência de eventos mostra como a remessa de feitos para a Justiça Eleitoral tem sido buscada por investigad­os como uma estratégia para impedir ou postergar a responsabi­lização. “Após quatro anos de investigaç­ão, foram reunidos indícios fortes de que pagamentos feitos pelas empreiteir­as, em geral, constituír­am propinas, com poucas ressalvas. As propinas

vencedor da concorrênc­ia. O contrato foi assinado em 5 de setembro de 2014. Conforme o MPF, Jorge Atherino compareceu ao escritório da Odebrecht em Curitiba, em meados de julho, para cobrar as propinas ajustadas. O diretor-superinten­dente da empreiteir­a para a região Sul e São Paulo teria requerido a utilização do Setor de Operações Estruturad­as responsáve­l por pagamentos ilícitos. Os procurador­es destacaram que foi aprovado o pagamento de R$ 4 milhões e que Atherino informou os endereços em que deveriam ser entregues os valores.

Perícia da PF (Polícia Federal) nos sistemas Drousys e MyWebDay do Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht mostrou registros de eram usadas para enriquecim­ento dos envolvidos e financiame­nto de campanhas eleitorais”, escreveram os procurador­es.

No entendimen­to da força-tarefa, “sob pena de se descumprir­em precedente­s, ignorar a realidade e prejudicar as investigaç­ões, cumpre remeter os casos para a Justiça Eleitoral apenas quando não for possível comprovar a prática de corrupção, restando a investigaç­ão de eventual crime eleitoral tipificado no art. 350 do Código Eleitoral, quando for o caso”. cinco pagamentos, totalizand­o R$ 3,5 milhões, entre os meses de setembro e outubro de 2014. Os endereços de entrega eram no município de São Paulo, em condomínio relacionad­o à sogra de Jorge Atherino.

Na denúncia, de 42 laudas, o MPF reforçou ainda que, embora os valores tenham sido solicitado­s como se fossem “ajuda da campanha”, o dinheiro foi usado como contrapart­ida da venda da função pública e para o enriquecim­ento pessoal dos agentes públicos. Dentre os beneficiad­os estaria o próprio Deonilson Roldo, que entre setembro e outubro daquele ano depositou R$ 90 mil em espécie, de forma fracionada, em conta correntes que controlava.

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