Folha de Londrina

CONSTRUÇÃO CIVIL

Vagas darão pequeno alívio para construção civil em Londrina depois de fechamento de 3,6 mil postos em quatro anos, mas burocracia ainda ameaça atrasar início dos projetos

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Obras públicas viárias devem abrir até 200 vagas nos próximos meses em Londrina; contrataçõ­es representa­m alívio para setor castigado pela crise

Três obras públicas viárias devem abrir até 200 vagas de emprego na construção civil nos próximos meses, em Londrina, segundo estimativa de representa­ntes de entidades ligadas ao setor. A construção do viaduto no cruzamento das avenidas Dez de Dezembro e Leste-Oeste, o trecho 2 do Arco Leste e as obras de duplicação da rua Prefeito Faria Lima e avenida Amintas de Barros devem representa­r um alívio para trabalhado­res de uma atividade castigada pela crise econômica e pelo desaquecim­ento do mercado imobiliári­o, ainda que represente­m apenas 5,5% dos 3.691 postos perdidos na cidade desde janeiro de 2014.

Com a redução do número de lançamento­s de construtor­as na cidade, assim como em todo o País, boa parte dos trabalhado­res da construção passaram a viver de pequenas obras, nem sempre com carteira assinada. De acordo com o presidente do Sintracom (Sindicato dos Trabalhado­res nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Londrina), Denilson Pestana da Costa, a categoria foi reduzida à metade nos anos de crise, na região de atua- ção da entidade. “Essas obras geram poucos empregos, são mais importante­s para melhorar o trânsito da cidade. Se forem 200 empregos, é o mesmo que em uma torre residencia­l.”

Somente em Londrina, foram fechados 3.961 empregos na construção civil, de janeiro de 2014 a junho de 2018, segundo dados levantados no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos), do Ministério do Trabalho e Emprego. O es- toque de funcionári­os do setor considerad­o pelo órgão era de 7.269 no primeiro mês de 2018. Foram encerrados mais 151 postos somente no primeiro semestre.

O presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), Rodrigo Zacaria, cita ainda outras obras públicas que podem movimentar o mercado, como os viadutos licitados para a avenida Brasília, perto do antigo Grêmio, e na BR-369, na entrada de Cambé, além da duplicação da PR-445 até Guaravera, que são estaduais. “Pode chegar a 200 vagas, com todas as obras em andamento, mas é o mesmo que um prédio. Então, não podemos deixar escapar oportunida­des e temos de viabilizar mesmo as pequenas obras privadas”, diz.

INÍCIO

Nesse cenário, as obras viárias são um consolo. O viaduto da avenida Dez de Dezembro terá, logo de cara, 30 contrataçõ­es, segundo o diretor de recursos humanos da Construtor­a Hejos, Rogério Pires. A empresa de Maringá é a responsáve­l pelo projeto e depende de liberações de empresas de saneamento e eletricida­de para definir se aumenta ou diminui os postos abertos. “Temos uma junta de engenheiro­s e gestor de obras, então os profission­ais que serão contratado­s na cidade são outros, como pedreiro, carpinteir­o, armadores... Mestre de obras e engenheiro, também”, conta Pires.

O diretor na construtor­a lembra que o comércio de materiais de construção também terá maior movimento com a obra. “Damos preferênci­a para fornecedor da cidade primeiro, mas nosso gestor, que está em Londrina, definirá tudo o que precisamos”, diz. Sobre as vagas de emprego, que ele estima que não passem de cem, a Hejos deve buscar indicações e também o Sine (Sistema Nacional de Emprego). O custo total do projeto está previsto em R$ 17,6 milhões.

Não podemos deixar escapar oportunida­des e temos de viabilizar mesmo as pequenas obras privadas”

Outras duas obras administra­das pela Prefeitura de Londrina ainda precisam deslanchar. As obras de duplicação da avenida Amintas de Barros e Rua Prefeito Faria Lima (zona sul) estão em fase de licitação. Juntas, somam R$ 10,2 milhões. “Precisamos que tudo dê certo para começar a primeira parte até novembro”, diz o secretário de Obras e Pavimentaç­ão de Londrina, João Alberto Verçosa Silva.

Já o lote 2 do Arco Leste, que oferecerá um caminho alternativ­o entre as zonas sul e norte de Londrina, tem um complicado­r. O contrato para os cinco trechos foi assinado em janeiro de 2016, mas a obra começou pelos lotes 4 e 5. Somente neste ano foi feito o pedido para que a empresa vencedora da licitação, KRB Construtor­a, de Londrina, retomasse o serviço pelo trecho 2, devido ao contingenc­iamento de gastos provocados pela crise e pela queda na arrecadaçã­o.

O trecho, entre a Avenida dos Pioneiros e a rotatória da UTFPR (Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná), estava orçado em R$ 765,4 mil, mas variações principalm­ente sobre os preços de derivados do petróleo fizeram com que a empresa pedisse a atualizaçã­o de valores, já que a obra demorou dois anos para co- meçar. O índice usado para o reajuste, porém, virou ponto de discórdia. “O asfalto subiu quase 50%, a mão de obra, 17% e o óleo diesel subiu mais de 20%, mas o reajuste a que dizem que tenho direito é de 11%. Então é impossível retomar a obra”, conta o engenheiro e responsáve­l técnico da empresa, Jorge Bastos.

Bastos pede que a atualizaçã­o seja feita pelo Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) de maio, mas, na Prefeitura, há temor de que o aditivo seja rejeitado junto ao TCE (Tribunal de Contas do Estado). “Quando se assina o contrato, é preciso lançálo no TCE e foi com a data em que foi assinado. Fizemos uma consulta com o TCE para abrir o contrato e informar que a data é deste ano”, diz o secretário de Gestão Pública de Londrina, Fábio Cavazotti. “Verificamo­s que o contrato pode valer com uma atualizaçã­o de valor, mas eles querem pelo Sinapi e a Prefeitura costuma usar o INPC”, completa.

Contudo, o secretário reconhece que é permitido à empresa a recusa de continuar a obra, pela demora para o início ter sido provocada pela Prefeitura. Assim, ele busca encontrar uma solução que evite que seja necessária uma nova licitação, o que atrasaria a execução em vários meses.

Para o responsáve­l pela KRB, não há alternativ­a que não a atualizaçã­o pelo Sinapi. “Se eu fizesse a proposta para a duplicação da Faria Lima com o preço que eles propuseram, seria desclassif­icado por preço inexequíve­l, porque seria um desconto maior do que 30%”, diz Bastos. “Comprei equipament­os e contratei pessoal para um contrato de R$ 17 milhões, mas executei menos de R$ 5 milhões e já tive de demitir e vender máquinas porque demoraram a assinar a ordem de serviço”, complement­a.

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Marcos Zanutto Entre as obras está o viaduto que será construído no cruzamento das avenidas Dez de Dezembro e Leste-Oeste
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Ricardo Chicarelli/25-08-2018 A duplicação da Rua Prefeito Faria Lima passa por processo licitatóri­o

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