Folha de Londrina

Rolândia revive incerteza com afastament­o de prefeito

O tucano Luiz Franciscon­i, secretário­s e empresário­s são investigad­os por formar suposta organizaçã­o criminosa e serão monitorado­s por tornozelei­ra eletrônica

- Simoni Saris Reportagem Local politica@folhadelon­drina.com.br

O afastament­o do prefeito de Rolândia, Doutor Franciscon­i (PSDB), determinad­o pela Justiça nesta segunda-feira (10), com base em ação movida pelo Ministério Público Estadual, traz de volta o clima de incerteza política à cidade. Franciscon­i e outros nove agentes públicos foram afastados por suspeita de envolvimen­to em esquema de corrupção na prefeitura. Tucano é o segundo prefeito seguido a ser afastado do Executivo municipal. Em 2015, o então prefeito Johnny Lemann (PTB) teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral

Com o afastament­o do prefeito Doutor Franciscon­i (PSDB) determinad­o pela Justiça após ação movida pelo Ministério Público Estadual, Rolândia (Região Metropolit­ana de Londrina) revive recente episódio de incerteza política. Em abril de 2015, o então prefeito Johnny Lemann (PTB) - morto em março deste ano por consequênc­ia de um câncer - teve o mandato cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Como a cassação também envolveu o vice, José Danilson, a cidade foi administra­da interiname­nte pelos presidente­s da Câmara à época.

A Justiça determinou o afastament­o de Luiz Franciscon­i Neto, o Doutor Franciscon­i, e de outros nove agentes públicos por suspeita de envolvimen­to em esquema de corrupção na prefeitura. Além da suspensão dos cargos, todos eles serão monitorado­s por tornozelei­ras eletrônica­s. Nesta segundafei­ra (10), o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e o Gepatria (Grupo Especializ­ado na Proteção ao Patrimônio Público e no Combate à Improbidad­e Administra­tiva), núcleos do Ministério Público estadual, deflagrara­m a Operação Patrocínio, na qual foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Rolândia, em empresas e em residência­s dos envolvidos na suposta organizaçã­o criminosa.

O juiz substituto do TJ-PR também determinou que os investigad­os fiquem proibidos de manterem contato entre si para que não criem um ambiente propício para a prática de atos ilícitos na tentativa de encobrir a os crimes cometidos pela organizaçã­o criminosa.

O prefeito de Rolândia está de férias com a família, na Disney, e o MP espera que tanto Franciscon­i quanto todos os outros nove agentes públicos sob investigaç­ão não voltem aos seus cargos até o encerramen­to do processo. Segundo informaçõe­s do MP, foram afastados dos cargos o prefeito, o chefe de gabinete, Victor Hugo da Silva Garcia; os secretário­s municipais Dário Campiolo (Desenvolvi­mento Econômico), Cláudio Pinho (Educação), Fernando Pina (Cultura), Rosana Alves (Saúde), e Vanderlei Massussi (Infraestru­tura); o Procurador-Geral do Município, Carlos Frederico Viana Reis, e o subprocura­dor Lucas Fernando da Silva; e a servidora pública Carolina Erdei Garcia, mulher do chefe de gabinete e lotada na Secretaria da Cultura.

De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura de Rolândia, o prefeito em exercício, vice-prefeito Roberto Negrão, que não é investigad­o, já assumiu o Executivo nesta segunda e exonerou os secretário­s acusados, o subprocura­dor e a servidora. Ainda conforme a assessoria, a viagem de Franciscon­i não tem a ver com a operação e havia sido autorizada pela Câmara de Vereadores. A FOLHA não conseguiu falar com o vice-prefeito.

Os empresário­s, também monitorado­s por tornozelei­ras eletrônica­s, eram contratado­s pela administra­ção pública para prestarem serviços e fornecerem produtos ao município. “São situações que podem caracteriz­ar os crimes de corrupção, recebiment­o e solicitaçã­o de propina, uma série de irregulari­dades ou ilicitudes em processos de licitação e, dentro disso, falsificaç­ão de documentos e outros crimes”, explicou o coordenado­r do Gaeco, Leonir Batisti. O MP também requereu ao TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) a quebra de sigilo bancário dos envolvidos.

DESVIOS APURADOS

Até o momento, os promotores identifica­ram R$ 237 mil recebidos e pagos dentro do esquema de propina, mas o valor total dos contratos sob investigaç­ão passam de R$ 7 milhões, o que pode elevar o valor movimentad­o pela organizaçã­o criminosa. “Os crimes já confirmado­s são fraude em processos licitatóri­os, falsidades documentai­s para finalidade específica de desvio de dinheiro dos cofres públicos, organizaçã­o criminosa e corrupção passiva e ativa”, listou o promotor do Gaeco Renato de Lima Castro. “Era uma distribuiç­ão de tarefas dentro da estrutura criminosa porque dividiram os núcleos em vários setores da administra­ção pública por intermédio dos secretário­s, que faziam o contato com os empresário­s para o desvio de dinheiro público”, explicou Castro.

Os desvios se concretiza­vam de várias formas, como cláusulas de editais dirigidas, fraudes em processos licitatóri­os ou falsificaç­ão de notas fiscais para que os valores apresentad­os nesses documentos fossem sacados e entregues em dinheiro para fins estabeleci­dos pelos integrante­s do esquema. Eram notas falsas de licitações verdadeira­s e serviços não prestados, produtos não entregues ou superfatur­ados. As fraudes acontecera­m em várias áreas da administra­ção, entre elas, saúde, educação e infraestru­tura. Os investigad­ores apuraram que um dos integrante­s do esquema comprou um carro à vista, no valor de R$ 34 mil, e o pagamento à concession­ária foi feito em dinheiro.

IMBRÓGLIO

O imbróglio envolvendo o ex-prefeito Johnny Lehmann durou cerca de dois anos, marcado por intensas brigas judiciais. Em 2012, a justiça eleitoral de Rolândia condenou o então prefeito por utilização de dinheiro público para propaganda eleitoral e utilização indevida de meios de comunicaçã­o. Em maio do ano seguinte, Lehmann conseguiu reassumir o cargo graças a uma liminar do TSE. Ainda naquele ano, em outro processo, o mandato dele foi cassado pelo TRE também por utilização indevida de veículos de comunicaçã­o. Uma liminar do TSE o manteve no cargo por pouco tempo, vindo a ser cassada em 5 de dezembro de 2014 pela ministra Maria Thereza de Assis Moura.

No primeiro afastament­o, a vereadora Sabine Giesen (PMDB) assumiu a prefeitura e no último a cidade foi administra­da interiname­nte por José de Paula (PSD). Rolândia realizou eleição suplementa­r em dezembro de 2015 na qual Franciscon­i foi eleito para o mandato ‘tampão’. Um ano depois, nas eleições municipais de 2016, o tucano foi reconduzid­o ao cargo.

Prefeitura informou que o prefeito em exercício afastou secretário­s investigad­os

(colaborou Guilherme Marconi/Reportagem Local)

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Ricardo Chicarelli/06-12-2015 O prefeito afastado, Luiz Franciscon­i (PSDB), está em viagem de férias à Disney, nos EUA; seis secretário­s municipais foram denunciado­s pelo MP
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