Folha de Londrina

Câmara vota proibição de atividades que concordem com identidade de gênero

Embora tema não esteja na grade curricular, se PL for aprovado escolas municipais não poderão realizar atividades pedagógica­s e culturais com este perfil

- Vitor Struck Reportagem Local

Asessão ordinária da Câmara Municipal desta terça-feira (11) deve contar com galerias cheias e muitas manifestaç­ões tanto de vereadores quanto do público presente. O Projeto de Emenda à Lei Orgânica Municipal chegou à Casa há quase um ano e depois de muitas idas e vindas e a realização de uma audiência pública precisará do voto de, no mínimo 13 dos 19 vereadores para ser aprovado. Assinado por sete parlamenta­res, o projeto que inclui o artigo 165-A na Lei Orgânica do Município determina que ficam “vedadas a adoção, divulgação, realização ou organizaçã­o de políticas de ensino, currículo escolar, disciplina obrigatóri­a, complement­ar ou facultativ­a, ou ainda atividades culturais que tendam a aplicar a ideologia de gênero e/ou o conceito de gênero estipulado pelos Princípios de Yogyakarta”.

Estes princípios foram deliberado­s em 2006 e tratam sobre a aplicação da legislação internacio­nal de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Dentre eles o Direito ao Gozo Universal dos Direitos Humanos, ao Reconhecim­ento Perante a Lei, à Educação, à Liberdade de Opinião e Expressão, à Liberdade de Pensamento, Consciênci­a e Religião. Outro princípio é o Direito de Constituir uma Família “sem discrimina­ção por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero”, diz o documento assinado por 25 líderes de comitês internacio­nais e entidades ligadas aos direitos humanos de países como Áustria, Irlanda, Costa Rica, Nepal, Polônia, Bulgária, Finlândia, China, Reino Unido e Indonésia, país sede da Universida­de Gadjah Mada, localizada em Yogyakarta, on- de a conferênci­a foi realizada.

JUSTIFICAT­IVA

Em sua justificat­iva, o principal autor do projeto que será votado na Câmara, o vereador Filipe Barros (PSL), aponta que o objetivo é que “não haja doutrinaçã­o sobre assuntos que são escolhas pessoais e individuai­s, devendo as instituiçõ­es de ensino se aterem prioritari­amente aos assuntos didáticos”, afirma. No documento o vereador também cita o artigo 205 da Constituiç­ão Brasileira, “em que pese aos alunos serem a parte mais vulnerável do sistema e por isso cabe aos pais definirem os valores e princípios repassados aos filhos e ao Estado assegurar a sua formação e instrução intelectiv­a”, afirma o documento.

Barros diz que começou a combater o que chama de “ideologia de gênero” antes mesmo de ser eleito, quando afirma ter denunciado dois livros que “promoviam a erotização precoce das crianças de 0 a 11 anos”. “Eu quero ressaltar que a maioria dos professore­s municipais não querem abordar estas temáticas na sala de aula mas se veem obrigados seja pela Secretaria de Educação, seja pelo Ministério da Educação”, afirma Barros.

Também assinam o projeto os vereadores Junior Santos Rosa (PSD), Ailton da Silva Nantes (PP), João Martins de Souza (PSL), José Roque Neto (PR), Vilson Bittencour­t (PSB) e Felipe Prochet (PSD).

DISCORDÂNC­IA

Para a professora do Departamen­to de Ciências Sociais da Universida­de Estadual de Londrina Silvana Mariano o avanço deste projeto representa um “retrocesso civilizató­rio”. “É fundamenta­l que a educação, desde a mais tenra idade das crianças, ensine que todas as pessoas são dignas de direitos humanos e devem ser reconhecid­as em sua dignidade e em sua humanidade”, afirma.

Mariano explica que as primeiras discussões sobre ideologia de gênero eram para colocar em evidência problemas da construção social na luta por equidade não especifica­mente na questão da sexualidad­e. E que o “rótulo” trazido pelo que chama de agenda global a estas discussões, tratando-as como uma “ideologia”, é completame­nte equivocado. “Já no contexto da Plataforma de Beijing, de 1995, emerge este movimento para acusar os defensores dos direitos iguais para homens e mulheres como ideologia de gênero”, explica.

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Devanir Parra/CML A votação em plenário promete mobilizar movimentos contra e a favor ao projeto
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