Com baixa procura no Paraná, vacina do HPV tem campanha nacional
Cobertura no Estado está em 40,6% para meninas e 14,2% para meninos; índice considerado ideal é 95%
Curitiba - O Ministério da Saúde lançou uma nova campanha nacional para tentar aumentar a cobertura vacinal contra o HPV, atualmente em 41,8% da meta para as meninas de 9 a 14 anos e 13% para os meninos de 11 a 14 anos no País. O cenário no Paraná puxa a média para baixo no caso das meninas: a cobertura no Estado chega a 40,6%, enquanto a dos meninos é de 14,2%. A média nacional, no entanto, também está longe do ideal, que é imunizar 95% desta faixa da população.
Os resultados estão muito abaixo do que as autoridades de saúde esperavam. “Nossa expectativa era ter filas para receber a vacina”, contou João Luís Gallego Crivellaro, chefe do Centro de Epidemiologia do Paraná. A procura, segundo ele, foi inicialmente alta quando a vacina foi incorporada ao calendário nacional, em 2014. No entanto, a queda passou a ser percebida conforme ganhava força o “mito” de que a oferta da imunização a partir de 9 e 11 anos estimulava a atividade sexual precoce - crença que dificulta até mesmo o trabalho em algumas escolas, que se negam a sediar ações de vacinação.
“Os pais não estimulam a tomar”, contou Crivellaro. “E, habitualmente, a população nesta faixa etária não busca serviços de saúde.” Além de procurar se antecipar ao início das atividades sexuais, a determinação da faixa etária de 9 a 14 anos para meninas de e 11 a 14 anos para meninos tem a ver com a melhor resposta imunológica para a vacina nesta fase.
INTERNET
Boatos sobre efeitos adversos graves na internet também não ajudam. Segundo Crivellaro, uma série de notícias sobre cerca de dez adolescentes de Bertioga (SP) que passaram mal ao se vacinar em 2014 ainda tem impacto, embora a vacina do HPV seja considerada extremamente segura e eficaz. As meninas, que relataram desmaios e dificuldades temporárias para andar, na época, provavelmente tiveram apenas quadros de estresse ou ansiedade, segundo Crivellaro. Ele conta que, surpreendentemente, medo de agulha é um dos fatores que mais afugentam os adolescentes.
Quando há reações, no entanto, elas são predominantemente locais. “Não tivemos nenhum efeito adverso grave nem moderado. É uma vacina extremamente segura e eficaz”, garantiu. “Temos de trabalhar esses mitos, tabus e a crendice”, disse.
DIFICULDADES
Contribui para derrubar os índices de cobertura o fato de a cobertura vacinal só se completar com uma segunda dose, aplicada seis meses depois da primeira. Segundo o Centro de Epidemiologia do Paraná, a média de retorno é de apenas cerca de 30%. “Toda campanha de vacinação que tem um período longo entre uma dose e outra pode cair no esquecimento. Foi assim também com a dengue”, explicou Crivellaro.
O índice de procura da primeira dose no Paraná chega a 72,3% na média entre meninos e meninas, explicou o chefe do órgão. A cobertura só é completa, no entanto, com as duas doses. Mesmo quem tomou a primeira dose há mais de seis meses pode procurar os postos de saúde para completar a vacinação.
Segundo o Ministério da Saúde, um estudo estimou prevalência de 54,3% do HPV no Brasil. A pesquisa mostrou que 37,6 % dos participantes apresentaram HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer. “A única prevenção deste tipo de câncer é a vacina. Estamos protegendo as meninas não apenas hoje, mas daqui a 30, 40, 50 anos”, explicou Crivellaro.
A vacina HPV aplicada no Brasil previne 70% dos casos de câncer do colo do útero, 90% de câncer anal, 63% de câncer de pênis, 70% de câncer de vagina, 72% de orofaringe e 90% das verrugas genitais, além de proteger contra o pré-câncer cervical em mulheres de 15 a 26 anos, de acordo com a pasta.