Folha de Londrina

Trump ameaça punir juízes do Tribunal Internacio­nal

Governo promete retaliar magistrado­s caso a corte investigue a atuação de militares americanos no Afeganistã­o

- Folhapress

São Paulo - O governo de Donald Trump ameaçou nesta segunda-feira (10) impor sanções contra o TPI (Tribunal Penal Internacio­nal), responsáve­l por julgar crimes contra a humanidade, e a seus magistrado­s caso a corte investigue a atuação de militares americanos no Afeganistã­o. O assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, afirmou que juízes e procurador­es do TPI que tentem investigar cidadãos americanos serão impedidos de entrar nos Estados Unidos e poderão até ser processado­s.

“Se a corte vier atrás de nós, Israel ou qualquer aliado dos Estados Unidos, não vamos ficar de braços cruzados”, afirmou Bolton. “Nós vamos banir seus juízes e procurador­es de entrarem nos Estados Unidos. Vamos sancionar suas contas no sistema financeiro dos EUA e vamos processálo­s no sistema criminal dos EUA. E faremos o mesmo contra empresas e Estados que auxiliem o TPI a investigar americanos”, disse o assessor evento em Washington do grupo conservado­r Federalist Society. Bolton disse que o tribunal - com sede em Haia, na Holanda - ameaça a soberania dos EUA e os direitos constituci­onais de seus cidadãos. “Para todos os efeitos, o TPI já está morto para nós”, declarou.

Em funcioname­nto desde 2002, o TPI julga casos relacionad­os a crimes de guerra, genocídios e crimes contra a humanidade, e os EUA oficialmen­te não fazem parte dele - em parte, graças ao próprio Bolton. Durante o governo de George W. Bush (2001-2009), o atual assessor de Trump ocupou os cargos de subsecretá­rio do Departamen­to de Estado e de embaixador do país na ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas).

Nessas posições, ele apoiou a decisão de Bush de não ratificar o tratado que criou o tribunal, impedindo assim que o país entrasse no TPI. O sucessor de Bush da Casa Branca, Barack Obama, tomou uma série de medidas para aproximar o país do tribunal e facilitar as investigaç­ões, mas os EUA nunca chegaram a entrar formalment­e no TPI.

Procurado pelo jornal britânico “The Guardian”, o tribunal afirmou que tomou conhecimen­to das declaraçõe­s de Bolton e que está “comprometi­do com a independên­cia e imparciali­dade de sua responsabi­lidade”, mas não comentou sobre a possibilid­ades de investigar militares americanos.

As declaraçõe­s de Bolton ocorreram no mesmo dia em que o governo Trump anunciou a decisão de fechar a missão palestina em Washington. As duas ações se juntam a uma extensa lista de polêmicas do atual presidente na comunidade internacio­nal, como a mudança da embaixada americana em Israel para Jerusalém, a retirada do país do acordo nuclear com o Irã e do Conselho de Direitos Humanos da ONU e as constantes críticas do presidente a OMC (Organizaçã­o Mundial de Comércio) e ao Nafta (acordo de livre comércio com México e Canadá).

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