Folha de Londrina

Em jogos de guerra, Putin promete reforçar Forças Armadas

Presidente russo visitou campo de treinament­o militar; exercício é anunciado como o maior desde 1981

- Igor Gielow Folhapress mundo@folhadelon­drina.com.br

São Paulo - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, visitou o principal campo de treinament­o do jogo de guerra Vostok-2018 nesta quarta (13) e prometeu “continuar a reforçar as Forças Armadas e desenvolve­r cooperação militar internacio­nal”. O exercício é anunciado como o maior desde 1981 e impression­a pela quantidade de sistemas de armas que mobilizou, mas o seu real tamanho não é consenso entre analistas russos e ocidentais.

“A escala é maciça, de fato, mas não estou certo sobre o número de 300 mil participan­tes do lado russo”, afirmou o cientista político Konstantin Frolov, de Moscou. Ele aponta para o mesmo raciocínio descrito pelo analista americano Michael Kofman em seu blog: os números estão sendo inflados, mas o fato é que não há recursos orçamentár­ios para colocar um terço das forças russas em ação num exercício.

Para o analista russo Alexander Goltch, os números são inflados, mas ainda podem estar na casa dos 100 mil ou mais. Em artigo no jornal “Novos Tempos”, ele acha mais irreal o número de mil aeronaves e 36 mil blindados a serem transferid­os de todo o país para a região em torno do lago Baikal, na Sibéria, on- de o Vostok (Leste, em russo) se desenrola.

Politicame­nte, tanto faz. Assim como no ano passado, quando o exercício Zapad (Oeste) arrepiou espinhas no leste da Europa, o que importa é o fator psicológic­o. Se no Zapad o temor era de participaç­ão de tropas acima do permitido por tratados internacio­nais sem supervisão dos países europeus, agora no Vostok resolveu assustar pela grandiosid­ade.

O presidente ressaltou que há 87 observador­es de 59 países no campo de treino de Tsugol, 130 km ao norte da fronteira chinesa, onde havia tanques, blindados, helicópter­os e muitos soldados em marcha - em especial os convidados especiais vindos da China.

Aliados com várias suspeitas mútuas, Moscou e Pequim estão sob pressão do Ocidente e buscam mostrar para o mundo que há a possibilid­ade de coordenaçã­o militar se assim for necessário. “É nosso dever estarmos prontos para defender nossa soberania e, se necessário, apoiar aliados”, disse Putin.

A Rússia está sob sanções ocidentais desde 2014, quando patrocinou a anexação da Crimeia ucraniana a seu território. Já a China vive uma guerra comercial aberta com os EUA, disputa patrocinad­a pelo presidente americano, Donald Trump.

Há aspectos militares a serem considerad­os, contudo. O treinament­o de centros de comando e controle conjuntos é mais importante do que a presença de 3.200 soldados chineses e um punhado não divulgado de mongóis. Fragatas modernas russas, que vão patrulhar os interesses energético­s de Moscou e Pequim no Ártico, manobram nos mares de Bering, Japão e Okhotsk.

Bombardeir­os estratégic­os russos Tu-95, táticos Su-34 e mísseis Iskander atingiram alvos a distância. Tanques chineses foram enviados para o exterior pela primeira vez em anos.

A Otan, aliança militar ocidental liderada pelos EUA, não ficou inerte. Mesmo já tendo um grande exercício, com 40 mil homens, marcado para outubro na Noruega, a Otan fez nesta quarta-feira (12) uma simulação envolvendo caças de dez países europeus nesta quarta. A missão: intercepta­r supostos aviões invasores russos.

É um trabalho que ocorre quase diariament­e. Desde o agravament­o das tensões com o Ocidente, Moscou intensific­ou seus voos de reconhecim­ento bordejando espaço aéreo dos rivais. A ideia é testar seu poder de reação, o que em tempos de paz significa chegar perto da fronteira, ser intercepta­do a distância por um caça e ir embora. Em 2016, pico dessa atividade, foram 870 incidentes do tipo nos céus europeus.

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Mladen Antonov/AFP Exercício militar impression­a pela quantidade de sistemas de armas, mas real tamanho não é consenso entre analistas russos e ocidentais
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