Folha de Londrina

Alzheimer: diagnóstic­o precoce favorece tratamento

Diagnóstic­o precoce da doença de Alzheimer favorece o tratamento e pode até segurar a evolução do quadro

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Acampanha Setembro Lilás foi criada para promover os cuidados com a saúde mental, além de informar e conscienti­zar sobre a doença de Alzheimer. Dados do Ministério da Saúde apontam que a doença atinge cerca de 30% da população com mais de 80 anos, mas a médica geriatra Lindsey Nakakogue alerta que ela pode afetar pessoas a partir dos 50 anos. “A grande maioria manifesta a doença acima de 65 anos, mas tenho pacientes com 53 anos. Quanto mais novo, mais a doença é associada à carga genética. Se for investigar o histórico familiar, esses pacientes possuem avós ou tios que tiveram o problema”, destaca a médica da Policlínic­a Municipal de Londrina. Ela ressalta que quanto antes a pessoa procurar ajuda, maior a possibilid­ade de fazer a doença demorar para evoluir.

Um dos pacientes de Nakakogue na Policlínic­a é o lavrador Vicente Ferreira de Souza, 74, morador do distrito de Guaravera (zona sul). “Eu ando meio ‘esquecido da cabeça’. A pessoa pergunta uma coisa, passam uns dez minutos e não lembro o que ela perguntou. Comecei a sentir isso há cinco ou seis anos”, relata. “Comecei a desconfiar quando pedia para ele comprar alguma coisa e ele comprava outra”, observa a mulher dele, Marta de Freitas, 52. Souza passou também a se esquecer de algumas pessoas. “Depois, ele passou a guardar as coisas e não lembrava mais onde tinha colocado”, acrescenta a esposa.

Ela já tinha ouvido falar da doença de Alzheimer, mas não sabia se este era o problema de seu marido. “Expliquei na UBS que ele estava muito esquecido e médico encaminhou para a Policlínic­a”, destaca. Mesmo tendo notado os sintomas há vários anos, a primeira consulta só aconteceu no fim de 2017.

De acordo com a ONU, 75% dos doentes desconhece­m que sofrem do mal e a família, às vezes, é a última a perceber que aquele simples esquecimen­to é, na verdade, um sintoma. A balconista Maria Cristina Saltori, 53, relatou que sua mãe Expedita de Jesus, 80, começou a esquecer onde colocava os objetos.

“O clínico geral encaminhou para a Policlínic­a. Ela fez tomografia e outros exames que ajudaram a diagnostic­ar a doença”, relata. “Eu parei de trabalhar e agora cuido dela.”

Quem também parou de trabalhar para cuidar da mãe em tempo integral é Lucineide Fontoura, 41. Ela relata que o comportame­nto da mãe, Aparecida Amélia de Farias, 62, é muito instável. “Às vezes ela chora, às vezes está alegre. De vez em quando ela pede para ir embora, porque não conhece mais ninguém na minha casa”, lamenta.

SINAIS

Nakakogue ressalta que é importante comparar o estado das pessoas com um estágio anterior. “Você notou alguma alteração no comportame­nto ou na memória da pessoa? Se acontecem coisas que não aconteciam, tudo isso precisa ser investigad­o”, orienta a geriatra. Ela conta que atende cerca de 700 pacientes na Policlínic­a e que 70% dos casos são diagnostic­ados com a doença de Alzheimer.

A especialis­ta explica que boa parte dos encaminham­entos ocorre por suspeita de algum familiar, que percebe, por exemplo, que o paciente não reconhece mais os parentes. “Mas como a informação está muito disseminad­a, muitos pacientes percebem eles mesmos os sintomas e procuram ajuda”, acrescenta. Ela destaca ainda que os casos também são encaminhad­os pelos médicos. “Como o médico percebe que o paciente não toma o remédio e falta muitas às consultas, passa a suspeitar desse comportame­nto.”

O paciente quando chega na Policlínic­a se submete a um exame clínico e a uma investigaç­ão sobre a sua condição. “Fazemos o detalhamen­to do histórico das cirurgias que ele já fez e se tem um histórico familiar de Alzheimer. Perguntamo­s se já bateu a cabeça, se é etilista (consome álcool) ou tabagista (fuma). Quem consome álcool ou fuma destrói neurônios e tudo que diminui a saúde neuronal prejudica a memória. Depois disso a gente pede uma série de exames de sangue, urina e imagem. Além do exame clínico, fazemos um exame físico”, detalha.

De acordo com Nakakogue, as principais dúvidas dos pacientes são sobre o tratamento e a evolução da doença. “Eles têm medo de perder a autonomia, por isso é importante iniciar tratamento logo. Existem pacientes que respondem muito bem e há pacientes em que a doença progride rapidament­e.”

A médica ressalta ser importante também participar dos eventos do Setembro Lilás e se informar sobre o assunto. Em Londrina, a programaçã­o do Setembro Lilás está disponível no site do Instituto Não Me Esqueças - www.naomeesque­cas.com. br. O instituto foi fundado em 22 de março de 2017, em por um grupo de familiares­cuidadores e profission­ais da área da saúde. A missão é a defesa dos direitos e da qualidade de vida dos doentes, familiares e cuidadores.

Eles têm medo de perder a autonomia, por isso é importante iniciar tratamento logo. Existem pacientes que respondem muito bem e há os que a doença progride rapidament­e”

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