Folha de Londrina

Beneditos

- Estela Maria Frederico Ferreira, leitora da FOLHA

Minha avó Luiza já dizia, na sua sabedoria, que é a pessoa que faz o nome ... ou seria o nome que faz a pessoa? Benedito, do latim antigo Benedictus, que proveio de benedico, significa clamar por proteção divina em favor de alguém. Benedito! Bendito, Bento, abençoado, bem dito ou simplesmen­te Dito. Esse nome foi marcante em minha vida, desde a infância e vale até hoje, quando alguns deles já se tornaram lembranças inesquecív­eis.

Tio Dito sempre foi meu preferido, sem desmerecer os demais. Quando ia à casa de meus avós maternos, lá em Taiaçu, no interior de São Paulo, só queria vê-lo. Morria de saudades. Ele era alto, cabelos bem negros, uma voz tão gostosa e um sorriso cheio de amor. Ele e a tia Linda não tinham filhos por isso eu me sentia “a filha” dos dois. Lembro-me do Tio Dito vestido com calças de brim beges, botas, camisa de mangas longas e aquele chapéu Panamá que o tornava tão charmoso, o qual ele usou a vida inteira. Ou então com as calças de brim “arranca-toco”, quando chegava da roça para o almoço e me causava admiração vê-lo tomar uma caneca enorme de água, sentar na escada e comer um prato de comida maior ainda. Claro que eu estava lá na casa deles! Ele me pegava no colo, me chamava de Estelinha, de estrela, deixava montar no seu cavalo, levava para passear de charrete, para pescar, contava histórias, entre elas, O Macaco e a velha e eu cantava e ele ria com aquele riso amoroso.

Certa vez cheguei no sítio e o tio Dito havia se mudado para uma fazenda próxima, a Fazenda do “Esmerardo”. Chorei muito e com medo de não vê-lo. Como era costume, vieram à noite para nos ver e fui posar na casa deles.

Chegando lá comecei a chorar porque havia esquecido a chupeta e, é claro, Tio Dito arreou o cavalo e foi correndo buscar sabendo que não conseguiri­a dormir sem ela. Por esse e outros gestos de carinho é que o amava e admirava tanto. Quando ele me perguntava rindo - “Sabe por que eu gosto dela (da tia)?” “Não, por quê?” “Porque ela é Linda”. E ria, feliz, tão feliz que ficaram casados por uns sessenta anos.

Outro Benedito que marcou e marca minha vida é o seu Dito, ou São Benedito, como costumamos chamar esse homem maravilhos­o da comunidade Santo Antônio. Vicentino há mais de quarenta anos, exemplo de cristão, honesto, humilde e agradável, com sua bicicleta ele trabalhava e ainda sobrava tempo para arrecadar alimentos para os pobres; hoje mais velho e mais limitado, ainda pedala sua bicicleta e trabalha em favor dos irmãos.

Não esqueço também do seu Dito do Detran. Foi meu melhor instrutor numa fase difícil da minha vida, quando aprender a dirigir era uma necessidad­e - e a maior dificuldad­e. Mas com suas orientaçõe­s foi diferente. Quando fazia coisa errada dava um jeito de me encorajar, como, por exemplo, no dia em que arranquei o carro em terceira marcha, o que era inconcebív­el, e ele, gentilment­e, me disse que eu tinha conseguido uma façanha. Que ninguém conseguia isso! Agora entendo que era uma estratégia para me incentivar. Também era simples, simpático, paternal e ótimo instrutor.

Entre tantos Beneditos, sinto saudades do seu Ditinho, meu vizinho da Serra Bonita, alegre, risonho, querido pelas crianças, gostava de uns goles e passava vendendo “arfaces” que a gente comprava só porque era do seu Dito.

Com saudades dos Beneditos que já se foram e o maior respeito pelo que continua entre nós, concluí que a pessoa é que faz o nome mesmo. Só assim se explica o porquê desses Beneditos terem recebido esse bendito nome!

Benedito! Bendito, Bento, abençoado, bem dito ou simplesmen­te Dito. Esse nome foi marcante em minha vida e vale até hoje, quando alguns deles já se tornaram lembranças inesquecív­eis”

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