Produtor projeta investimento em robô que ordenha vacas sozinho
Quando o assunto é leite de qualidade, Valdeir Martins é o exemplo que precisa ser seguido, um modelo para cadeia. Há 24 anos no mercado com a marca De Leite - tipo A - o produtor nunca se meteu a vender para indústrias e cooperativas. A ideia sempre foi levar ao consumidor o que há de melhor e, ao longo dos anos, provou que tem mercado para isso.
Enquanto a indústria e produtores atende níveis de contagem bacteriana total (CBT) na casa das 300 mil unidades formadoras de colônias (ufc) por mililitro de leite (mL), na propriedade de Martins, o leite sai envazado abaixo de 10 mil ufc por ml. É claro que no caso dele o produto não passa por transporte e diversos tanques, o que dificulta muito o controle. Ele avalia como positivo sempre buscar novos patamares técnicos para a cadeia, inclusive por meio das novas portarias.
“O ser humano é adverso a mudanças. Mas com o passar do tempo, todos vão se adequando, a indústria vai melhorando. Antes a contagem bacteriana passava de milhão, depois baixou para 750 mil, depois 300 mil. Nada é impossível, nosso limite hoje é de 10 mil, mas é questão de dedicação”, resume.
Dedicação, claro, que está associada a uma boa remuneração. Valdeir também entende que fica difícil investir em tecnologias para melhorar os índices técnicos do leite se, de forma geral, o produtor é mal remunerado. “Difícil atingir tais níveis recebendo uma miséria. Eu tenho um diferencial de preço e folga para trabalhar. Colocamos o preço de acordo com as nossas necessidades. O produtor não sabe bem quanto vai receber, entrega o leite hoje para receber o mês que vem. Assim não sabe se dá para investir mais ou menos. Isso também é culpa do consumidor, que quer pagar R$ 1,50 no litro do leite. Nem água custa isso. A indústria peca muito com o preço de venda.”
Atualmente, a produção da marca gira em torno de 1,1 mil litros de leite por dia, e na propriedade de Martins são em média 80 vacas em lactação. Ele entrega o produto dele, envazado, a R$ 3,50 o litro no comércio, valor bem acima do R$ 1, em média, que os demais produtores entregam na indústria. “Nos EUA não se fala mais em leite longa vida desde o final da década de 1980. Aqui o mais trabalhoso é criar os animais, com alimento de boa qualidade, investimento em equipamentos, mão de obra bem remunerada, além de um sistema bom de refrigeração, baixando a temperatura do leite.”
O produtor já está num patamar tão elevado que esta semana foi até Castro, na propriedade de Armando Rabbers, produtor pioneiro no sistema de ordenha robotizada da América do Sul, colocado em 2013. O sistema de ordenha voluntária (VMS) consiste num braço hidráulico que executa todo procedimento de ordenha sozinho, de forma automática. Identifica a vaca, alimenta, faz a limpeza dos tetos (por meio de fluxo de água e ar), estimula, tira os primeiros jatos e seca. Feita essa preparação inicia a ordenha. “É algo que estou pensando para o ano que vem, um robô que funciona 24 horas, que pensa (inclusive) no bem-estar animal. A máquina custa em torno de R$ 600 mil, mas o investimento total pode chegar a R$ 1 milhão.”