Soja, renda per capita e consumo de proteínas
Mesmo para os mais desligados da realidade, não há como dissociar a produção de soja com a de carnes. Afinal, não se produz soja com o objetivo de gerar óleo comestível ou biodiesel para os automóveis, mas para produzir farelo que, misturado a algum cereal (geralmente milho), produz a ração que alimenta o frango, os peixes, o porco, a vaca de leite e os bovinos de corte confinados, geradores da proteína animal da qual tanto dependemos para uma alimentação saudável.
O impulso dado à produção de soja nas últimas décadas tem tudo a ver com o aumento da demanda de carnes e outras proteínas animais, como resultado do crescimento da economia mundial que, paralelamente, promoveu o aumento da renda per capita e, como consequência, o aumento do consumo de proteína animal.
Se bem que o consumo per capita de carnes esteja estagnado em cerca de 100 kg/ pessoa/ano nos 40 países mais ricos do mundo (cerca de 1 bilhão de pessoas), valor este que extrapola as necessidades alimentares básicas dessa população, por outro lado, outro bilhão de humanos sofre desnutrição porque seu consumo de carnes não alcança 10% desse montante, muito abaixo das necessidades básicas de proteína animal. Outros 5 bilhões de habitantes de países em desenvolvimento consome menos de 1/3 do consumo médio dos ricos, também insuficiente para atender as necessidades de uma dieta saudável.
Embora a expectativa seja de que esse enorme contingente de cidadãos subalimentados aumente seu consumo de proteínas animais (carnes, ovos e produtos lácteos), dificilmente eles alcançarão o consumo médio dos ricos. Contudo, seu consumo certamente aumentará, gerando demanda adicional de milhões de toneladas de soja e sinalizando que o Brasil poderá continuar sentado em seu esplêndido berço de soja, sem temer a geração de super estoques, sem destinação.
O Brasil é um importante produtor e exportador de carnes, porque também é um importante produtor da matéria prima da qual as carnes são feitas: soja e milho, principalmente (2º e 3º produtor mundial). Em 2017, o País exportou US$ 18 bilhões em carnes, segundo produto mais valorizado na pauta das exportações do agronegócio brasileiro, depois da soja.
Apesar das críticas - via de regra gratuitas - do desempenho do agronegócio brasileiro, o Brasil continuará protegendo seus recursos naturais para que não falte comida às gerações que nos sucederem, ao mesmo tempo que continuará crescendo como produtor de alimentos.