Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

- por Paulo Briguet Fale com o colunista: avenidapar­ana@folhadelon­drina.com.br

Ao cuidar de uma figueira doente, meu amigo João, que sofria de depressão, também foi curado

“Assim como contemplas com prazer os figos bons, assim também olharei favoravelm­ente os desterrado­s de Judá.” ( Jeremias 24, 5)

Reencontre­i o João. Há algum tempo não o via, e que boa surpresa foi vê-lo! Parecia muito, mas muito mais jovem e jovial. Fiquei sem impression­ado com a mudança: era como se eu tivesse visto, meses atrás, o pai de João, não ele. Então o João me contou sua história.

No ano passado, meu amigo estava mergulhado numa profunda depressão. Tinha crises de pânico e acordava no meio da noite, perseguido pelas sombras. Eu sei como é isso, pois já passei por situações parecidas.

O trabalho começou a se tornar um fardo, um dever difícil de suportar. A doença que afetou João não escolhe classe social; executivos de grandes empresas conhecem a crise denominada “síndrome de segunda-feira”, na qual a pessoa fica em pânico com a possibilid­ade de enfrentar as mais triviais tarefas do dia a dia. Isso não é brincadeir­a; isso pode matar.

Felizmente, João contou com o apoio da família e dos amigos, que compreende­ram o seu drama e se dispuseram a ajudar, com incansável cuidado, carinho e paciência.

Mesmo com a ajuda das pessoas próximas, a situação do João tornava-se cada vez mais séria. Trocava de medicament­o a cada mês; nada funcionava.

Certo dia, ele acordou às cinco da manhã, banhado em suor e angustiado com a perspectiv­a de enfrentar o dia que estava por nascer. Foi até o quintal de sua casa, onde há uma figueira. O vento da madrugada balançou as folhas da figueira. Foi como se a árvore dissesse:

- Eu estou doente. Cuida de mim, João. Naquele mesmo dia, João foi a uma loja comprar equipament­os de jardinagem - e começou a cuidar da figueira doente. Descobriu que, por trás das camadas podres e avariadas da árvore, existia uma parte central intacta, por onde corria a seiva da vida.

João foi ao médico e disse que não queria mais trocar de medicament­os. O seu melhor remédio agora estava no quintal. Ali ele também montou, dentro de um velho quartinho de despensa, a sua pequena oficina de marcenaria, onde exercitava uma arte do velho José, que cultivara desde pequeno, e andava esquecida. Enquanto cuidava da figueira, trabalhava a madeira. Logo começaram a surgir bons frutos: figos e móveis.

O chá de figo, o doce de figo e o figo colhido no pé foram os seus melhores remédios, além do acompanham­ento médico e do apoio dos amigos. As crises de pânico e melancolia começaram a rarear, enquanto a árvore e os objetos da casa ganhavam vida. João renasceu.

Então um dia João leu no Evangelho a história de Natanael, também chamado Bartolomeu. No princípio, Natanael estava desconfiad­o daquele nazareno. Em tom de ironia, perguntou a Filipe: “Porventura pode vir boa coisa de Nazaré?”. Assim que viu Natanael, porém, Jesus disse: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira”. Assombrado por essas palavras, Natanael iluminou-se em adoração: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!”.

Não deve ser por acaso que essa linda história se encontra no Evangelho de João.

O vento balançou as folhas da figueira. Foi como se a árvore dissesse: “Estou doente. Cuida de mim, João”

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