AVENIDA PARANÁ
Ao cuidar de uma figueira doente, meu amigo João, que sofria de depressão, também foi curado
“Assim como contemplas com prazer os figos bons, assim também olharei favoravelmente os desterrados de Judá.” ( Jeremias 24, 5)
Reencontrei o João. Há algum tempo não o via, e que boa surpresa foi vê-lo! Parecia muito, mas muito mais jovem e jovial. Fiquei sem impressionado com a mudança: era como se eu tivesse visto, meses atrás, o pai de João, não ele. Então o João me contou sua história.
No ano passado, meu amigo estava mergulhado numa profunda depressão. Tinha crises de pânico e acordava no meio da noite, perseguido pelas sombras. Eu sei como é isso, pois já passei por situações parecidas.
O trabalho começou a se tornar um fardo, um dever difícil de suportar. A doença que afetou João não escolhe classe social; executivos de grandes empresas conhecem a crise denominada “síndrome de segunda-feira”, na qual a pessoa fica em pânico com a possibilidade de enfrentar as mais triviais tarefas do dia a dia. Isso não é brincadeira; isso pode matar.
Felizmente, João contou com o apoio da família e dos amigos, que compreenderam o seu drama e se dispuseram a ajudar, com incansável cuidado, carinho e paciência.
Mesmo com a ajuda das pessoas próximas, a situação do João tornava-se cada vez mais séria. Trocava de medicamento a cada mês; nada funcionava.
Certo dia, ele acordou às cinco da manhã, banhado em suor e angustiado com a perspectiva de enfrentar o dia que estava por nascer. Foi até o quintal de sua casa, onde há uma figueira. O vento da madrugada balançou as folhas da figueira. Foi como se a árvore dissesse:
- Eu estou doente. Cuida de mim, João. Naquele mesmo dia, João foi a uma loja comprar equipamentos de jardinagem - e começou a cuidar da figueira doente. Descobriu que, por trás das camadas podres e avariadas da árvore, existia uma parte central intacta, por onde corria a seiva da vida.
João foi ao médico e disse que não queria mais trocar de medicamentos. O seu melhor remédio agora estava no quintal. Ali ele também montou, dentro de um velho quartinho de despensa, a sua pequena oficina de marcenaria, onde exercitava uma arte do velho José, que cultivara desde pequeno, e andava esquecida. Enquanto cuidava da figueira, trabalhava a madeira. Logo começaram a surgir bons frutos: figos e móveis.
O chá de figo, o doce de figo e o figo colhido no pé foram os seus melhores remédios, além do acompanhamento médico e do apoio dos amigos. As crises de pânico e melancolia começaram a rarear, enquanto a árvore e os objetos da casa ganhavam vida. João renasceu.
Então um dia João leu no Evangelho a história de Natanael, também chamado Bartolomeu. No princípio, Natanael estava desconfiado daquele nazareno. Em tom de ironia, perguntou a Filipe: “Porventura pode vir boa coisa de Nazaré?”. Assim que viu Natanael, porém, Jesus disse: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira”. Assombrado por essas palavras, Natanael iluminou-se em adoração: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!”.
Não deve ser por acaso que essa linda história se encontra no Evangelho de João.
O vento balançou as folhas da figueira. Foi como se a árvore dissesse: “Estou doente. Cuida de mim, João”