Folha de Londrina

Rotina florida

Com hábitos simples, educadora física vive em equilíbrio com a natureza e exercita a cidadania cuidando da praça do seu bairro

- WALQUIRIA VIEIRA REPORTAGEM LOCAL

Bem-me-quer, malmequer. Bem-me-quer, malmequer. Olhar uma flor pode levar o pensamento longe. A brincadeir­a de infância, feita adivinható­rio, tinha o poder de abrir sorrisos. Ou não. Mas segue por gerações. Da infância para a vida adulta, muitos são os momentos em que as flores se fazem presentes e homenageia­m. Quem nasce, quem se casa, o aniversari­ante, a debutante, a noiva e até aqueles que se despedem da vida. Para algumas pessoas, não é preciso ocasião especial e as flores é que deixam, pela beleza e simplicida­de, todos os dias especiais. A educadora física Márcia Peres pensa assim e, a bordo de sua bicicleta decorada por flores, chama atenção. Mais que adorno, a flor, por seu colorido, delicadeza e encanto, está presente na rotina da educadora que pode ser definida como alguém de bem com a vida - pelos costumes. De casa para o trabalho e do trabalho para casa, carrega sua filosofia de vida e conduz seus dias com leveza.

Incontável é o número de vasos na área de sua casa e as variedades - onze-horas, avencas, lanças-de-são-jorge, samambaias e uma imponente zamioculca, todas acompanhad­as por suculentas, que fazem moldura no portão principal. Alguma dúvida se a professora gosta de plantas? “Aqui é um hospital para recuperar as plantas”, diz mostrando o corredor do quintal. No hall de entrada, papel de parede com motivo floral e, de modo harmônico, o espaço é ocupado. Do lado de fora, um capítulo à parte, Márcia e a irmã adotaram a pracinha que fica em frente à casa em que ela mora desde criança. “Eu me sinto privilegia­da, fomos criados por Deus para vivermos no paraíso e eu considero que assim vivo”, diz ela, que atua como personal trainer e está à frente de um grupo de corrida e caminhada, o Saúde.

HERANÇA

Deitada na rede, contempla o horizonte que escolheu e conta um pouco de sua vida, a relação com a natureza e como atingiu esse equilíbrio. “Esse relacionam­ento faz parte da minha essência. Minha mãe era uma jardineira das antigas, juntava rosa branca com amarela e fazia outra cor. Para mim, uma botânica nativa.” Dona Isolina nasceu em Ibitinga e, para Márcia, essa ligação com as coisas que vêm da terra, tem nome: “Herança. Enxergo como uma herança mesmo.”

Na praça adotada, as orquídeas se agarram às arvores. Beijinhos, rosas, lavanda, florde-maio se multiplica­m. O flamboyant e o ipê, já floridos, dividem espaço com um jacarandád­a-bahia e servem de abrigo para passarinho­s. “Olhe o cedro, a jaqueira, o abacateiro, a jabuticabe­ira. Aquela banana é maçã e as palmeiras, com o vento, dão aquela sensação de litoral tão boa. Ali o urubu que nos visita sempre”, aponta. “Todos são bem-vindos e os vizinhos ajudam na conservaçã­o. Isso é um privilégio. Eu me sinto feliz porque o tempo todo há beleza. É claro que eu não sou hipócrita, eu vivo nesse planeta, tenho obrigações, mas além de estar menos acelerada, faço a minha parte quando pedalo, ao invés de usar carro, reciclo o óleo de cozinha e faço coisas mínimas e plenamente possíveis poque não é só salvando baleias que se se faz o o bem”.Diante de kalanchoês floridos, exemplar conhecido popularmen­te como flor da fortuna, reafirma: “Essa é nossa maior riqueza e devemos valorizar espaços assim porque estamos muito presos ao concreto.”

MAIS QUE FLORES

Os bancos e a sombra das árvores chamam para prosa. Localizada no conjunto do Café e conhecida como Praça da rua Palheta, é espaço para festas e as bandeirinh­as coloridas suspensas dão prova. “Temos que abraçar o lugar onde moramos e nesse caso foi assim. Conseguimo­s transforma­r o que já era bom em algo melhor ainda.” E nesse caso, a manutenção da praça também é motivo para ver amigos. “Faço bazares para ajudar na manutenção. As amigas doam roupas, sapatos e acessórios que não usam mais e a renda serve para comprar adubo, ajudar a pagar a conta de água e manter a grama bem cuidada.”

Recentemen­te, um longo período de estiagem preocupou Márcia porque não dava conta de aguar toda a praça. Até que um dia, ao avistar um caminhão pipa, teve a ideia de pedir para darem uma passada pela praça. E deu certo. “Já vieram duas vezes e faz muita diferença porque por mais que eu use mangueira, nada se compara com água de chuva ou a de um caminhão pipa”. Tem até uma araucária, símbolo paraense, de testemunha desse e de outros acontecime­ntos.

O TEMPO...

Florence, cachorra de Márcia, brinca nos jardins da praça e um vizinho chega para devolver o ferro que pegou emprestado de Márcia. Ela gosta de planta, de bicho e de gente. “Quando estamos bem, a natureza, o mundo conspiram e a vida flui. Vejo pessoas sem motivo se preocupar com a previsão do tempo. Previsão do tempo? Não me preocupo se vai chover, fazer calor. A previsão do tempo? O tempo está passando”, constata. Em constante movimento, Márcia quer deixar a praça mais completa.”Os bancos vão ganhar mosaicos e quero trazer atrações musicais. Eu toco violino na orquestra Bravi e a arte faz bem, é uma forma de interagir, de não pensar em maldade e encontrar equilíbrio.”

 ?? Anderson Coelho ?? “Eu me sinto privilegia­da, fomos criados por Deus para vivermos no paraíso e eu considero que assim vivo”, diz Márcia Peres, que pode ser vista pelas ruas a bordo de sua bicicleta florida. Veja vídeo utilizando a tecnologia de Realidade Aumentada
Anderson Coelho “Eu me sinto privilegia­da, fomos criados por Deus para vivermos no paraíso e eu considero que assim vivo”, diz Márcia Peres, que pode ser vista pelas ruas a bordo de sua bicicleta florida. Veja vídeo utilizando a tecnologia de Realidade Aumentada

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