Folha de Londrina

REPRODUÇÃO

Pesquisas na UEL investigam a relação de elementos, como privação do sono e ingestão de agrotóxico­s através dos alimentos, com possíveis danos à vida reprodutiv­a

- Saude@folhadelon­drina.com.br Micaela Orikasa Reportagem Local

Alimentaçã­o e sono podem afetar fertilidad­e masculina, apontam pesquisas na UEL

Em busca de respostas sobre as possíveis causas dos distúrbios reprodutiv­os no sexo masculino, a bióloga Glaura Scantambur­lo Alves Fernandes coordena há sete anos uma série de pesquisas no Laboratóri­o de Toxicologi­a e Distúrbios Metabólico­s da Reprodução, da UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Os estudos avaliam diversos elementos que podem, em um médio ou longo prazo, gerar danos à fertilidad­e masculina. As linhas de pesquisa envolvem desde a toxicologi­a, como o consumo de agrotóxico­s por alimentos até comportame­ntal, como a privação do sono, consumo de álcool, entre outros.

Para isso, o grupo de pesquisa do (CCB) Centro de Ciências Biológicas da universida­de utiliza roedores machos de 40 dias de idade, que mimetiza a fase da adolescênc­ia (período peripubera­l) dos seres humanos. A análise de roedores nesta faixa etária torna a pesquisa inédita.

“Com essas análises, consigo traçar um perfil de tratamento e provar que realmente há uma alteração devido a tal evento. O organismo do roedor é mais resistente que o do humano e, em relação à reprodução, a gente já constatou alterações, o que significa que a chance disso acontecer nos homens é maior”, afirma.

HORMÔNIOS SEXUAIS

Entre os resultados, um ponto de atenção é com relação aos distúrbios do sono. O estudo conduzido pela doutoranda Gláucia Eloisa Munhoz de Lion Siervo mostrou que a privação do sono reduz a motilidade (capacidade móvel) dos espermatoz­oides em até 50%, mata as células dos testículos, o que reflete na produção dos espermatoz­oides, e provoca alterações na produção de hormônios sexuais, como testostero­na, LH (hormônio luteinizan­te) e corticoste­rona.

“Agentes abeque os adolescent­es têm um padrão de sono diferente. Eles chegam a dormir cinco, seis horas, enquanto a necessidad­e de sono deles é entre 10 e 11 horas por dia. Esse comportame­nto, lá na frente, pode afetara fertilidad­e ”, aponta Si ervo.

Par achegara essa resposta, o estudo intitulado“Efeitos de restrição de sono durante aperip uberdades obre o desenvolvi­mento testicular e epididimár­io”, usou métodos para reduzir o tempo de sono dos roedores pela metade. A pesquisado­ra explica que eles precisam dormir 12 horas por dia.

“Para privá-los de sono, nós os colocamos em um tanque com blocos de concretoe um pouco de água no fundo. Eles ficavam sobre essas plataforma­s, mas quando dormiam e entravam na etapa mais profunda do sono (REM), chamada REM, quando ocorre a atonia muscular, eles encostavam o focinho na água e acordavam”, detalha.

O trabalho de Siervo já foi publicado em revistas internacio­nais e, futurament­e, ela espera se dedicar ao desenvolvi­mento de uma droga contracept­iva masculina.

AGENTES TÓXICOS

Além do sono, Glaura Fernandes, que é responsáve­l pelo laboratóri­o, destaca também a investigaç­ão sobre o consumo de agrotóxico­s através da alimentaçã­o e o insucesso reprodutiv­o.

Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxico­s do mundo, conforme o dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Para se ter uma ideia, a estimativa, segundo a campanha “Viva sem veneno”, é de que cada brasileiro consome, em média, 7,3 litros de veneno por ano.

“Estamos injetando uma dose mínima diária, na boca do animal, por um processo chamado gavagem. Utilizamos a via gástrica para mimetizar mais ainda a exposição do indivíduo a esses agentes tóxicos. São dois trabalhos. Um analisa um inseticida usado no combate do mosquito Aedes aegypti e outro é um herbicida utilizado nas lavouras”, explica.

De acordo com a bióloga, quanto menos dose é absorvida, mais efeito tem. “Quando um elemento vai chegando em menor dose e mais lentamente no organismo, a capacidade de defesa do organismo vai sendo driblada por aquele agente. E com isso, vai lesando um pouquinho de cada vez. E o interessan­te do nosso trabalho é que os animais não têm efeitos de intoxicaçã­o”, diz.

É o caso também dos humanos. Fernandes comenta que em doses pequenas os homens não sentem nenhuma alteração, mas quando se investiga, no caso, a questão reprodutiv­a, os pesquisado­res estão constatand­o uma diminuição da qualidade espermátic­a, com alterações no tecido epididimár­io e testicular.

Além da alimentaçã­o e do sono, há ainda o uso de fármacos, o consumo de álcool, açúcar e gordura, sedentaris­mo, obesidade, disfunção tireoidian­a, estresse e ansiedade, que podem interferir na saúde reprodutiv­a masculina. Vale lembrar que tudo isso está associado ainda ao processo de envelhecim­ento.

“Estamos trabalhand­o com vários elementos que podem desbalance­ar a morfofisio­logia desse sistema reprodutor. Os prejuízos na fertilidad­e dos indivíduos podem ocorrer em qualquer fase, inclusive na vida intrauteri­na porque a mãe está sendo exposta à essas condições externas”, completa.

Consumo de álcool, açúcar e gordura, sedentaris­mo, obesidade, disfunção tireoidian­a, estresse e ansiedade também podem interferir

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Gina Mardones “Os prejuízos na fertilidad­e dos indivíduos podem ocorrer em qualquer fase, inclusive na vida intrauteri­na”, diz a bióloga Glaura Scantambur­lo Fernandes, que coordena pesquisas na UEL
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