Folha de Londrina

Dólar pode demorar a ceder após eleições

Segundo analistas, mercado está "claramente na defensiva" e só vai começar a reverter essa tendência quando os agentes perceberem que o próximo presidente vai prosseguir com as reformas

- Bárbara Nascimento, Altamiro Silva Junior e Paula Dias economia@folhadelon­drina.com.br

São Paulo - A consolidaç­ão de um nome para a presidênci­a da República nas urnas em outubro pode não ser suficiente para fazer ceder a pressão do dólar sobre o real. Especialis­tas ouvidos pelo Grupo Estado, afirmam que, a exemplo de 2002, o mercado pode continuar na defensiva após outubro e a moeda americana não voltaria de imediato a um patamar pré-volatilida­de eleitoral, mais próximo dos R$ 3,50 que dos R$ 4.

Levantamen­to feito pela reportagem com dados da última eleição turbulenta para o mercado, em 2002, mostra que, mesmo com os esforços da chapa eleita naquela época para mostrar que seguiria uma política econômica aliada ao mercado, o dólar custou a ceder e só voltou ao patamar anterior no fim de abril de 2003.

No período eleitoral que culminou no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, o dólar saiu de R$ 2,3040 no fechamento do dia 2 de janeiro de 2002 para R$ 3,6280 em 2 de dezembro, uma alta de 57,4%. A aceleração se consolidou em maio e o câmbio saltou de patamar definitiva­mente - dos R$ 2 para os R$ 3 - no fim de julho. O dólar só voltou a fechar abaixo de R$ 3 novamente em 28 de abril de 2003, 117 dias após Lula assumir o Palácio do Planalto. Naquele dia, o dólar fechou cotado a R$ 2,9620.

Em 2018, o dólar rompeu a barreira dos R$ 4 (para o fechamento) em 21 de agosto, quando bateu em R$ 4,0414. E entrou setembro a R$ 4,1506, com perspectiv­a de alta diante do cenário eleitoral incerto. Para o ex-presidente do Banco Central e sócio da consultori­a Tendências Gustavo Loyola, o mercado está “claramente na defensiva” e só vai começar a reverter essa tendência quando os agentes perceberem que o próximo presidente vai prosseguir com as reformas.

No momento, os investidor­es estão embutindo dois riscos: o de que o próximo presidente possa não ter governabil­idade e o de que o ajuste fiscal não vai avançar. “Pode haver uma melhora dos preços quando e se o mercado tiver uma avaliação mais positiva do próximo presidente, principalm­ente sobre a questão fiscal”, diz Loyola.

REFORMAS

A despeito de o País ter uma economia mais madura hoje que há 16 anos, o próximo governante terá que fazer uma série de reformas para garantir o reequilíbr­io das contas públicas. Há um consenso entre os especialis­tas que a situação fiscal atual é frágil e pode se deteriorar ainda mais caso as medidas adequadas não sejam tomadas.

Os analistas da consultori­a inglesa Capital Economics ressaltam que o tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente para resolver seu problema fiscal é tão grande que mesmo a vitória de um candidato “amigável ao mercado” terá dificuldad­es para estabiliza­r o cresciment­o da dívida pública. O mercado quer garantir primeiro que o novo presidente terá governabil­idade para votar medidas impopulare­s no Congresso.

O economista-chefe da Capital Economics para mercados emergentes, William Jackson, avalia que o dólar pode se valorizar ainda mais no mercado doméstico a ponto de chegar aos R$ 4,50 em 2019. “Parece que o mercado começou a precificar o risco político apenas nas últimas semanas”, ressalta. Para a casa, além das reformas, como a da Previdênci­a, serem impopulare­s, dois dos nomes que despontam nas pesquisas - Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) tendem a adotar políticas populistas, mais um fator para manter os preços dos ativos pressionad­os.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas afirma que, diferentem­ente de 2002, quando estava certa a direção que as eleições tomariam, consolidan­do a vitória de Lula, neste ano o cenário é completame­nte incerto. Além de não haver definições mesmo a menos de um mês das eleições, a avaliação do economista é que os candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto para assumir a Presidênci­a da República em 2019 ainda são, majoritari­amente, incógnitas ao mercado em termos de direção para política econômica.

“Em situações como essas, o mercado prefere agir como São Tomé: é preciso ver para crer”, aponta Freitas, completand­o: “A mesma coisa se repetirá agora, com alguma diferença. Em 2002, a partir de julho ficou claro que Lula era ganhador. O medo era do Lula. Hoje, não tem ganhador certo. Ainda é difuso. O mercado fica em dúvida. Com exceção do Alckmin, os outros (no topo das pesquisas) são desconheci­dos do mercado”.

Parece que o mercado começou a precificar o risco político apenas nas últimas semanas”

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Shuttersto­ck No momento, os investidor­es estão embutindo dois riscos: o de que o próximo presidente possa não ter governabil­idade e o de que o ajuste fiscal não vai avançar
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