Folha de Londrina

Pela racionaliz­ação da campanha eleitoral

- WILSON FRANCISCO MOREIRA é sociólogo e agente penitenciá­rio em Londrina

A campanha eleitoral ora em curso tem acirrado os ânimos dos eleitores e dos candidatos. Agressões físicas e virtuais tem se espalhado por todo o Brasil. Eleitores de lados diferentes se acusam e o clima tenciona-se cada vez mais. O que era pra ser uma festa democrátic­a, com foco em propostas e debates racionais por parte dos postulante­s tornou-se uma disputa emocional e odiosa contra os adversário­s. Embora haja serenidade por parte de alguns candidatos a presidente, a regra tem sido a desconstru­ção do outro em vez da defesa das ideias próprias.

A crise de representa­ção política começou a emergir e ganhar as ruas a partir dos protestos do ano de 2013. O então descontent­amento surgiu no bojo do aflorament­o da corrupção desnudada pela operação Lava Jato, entre outras. A piora dos serviços públicos aliada aos altos impostos completava então o descontent­amento da classe média. Com a eleição apertada da presidente Dilma no ano de 2014 o quadro se complicou profundame­nte. A oposição política mesmo perdendo a eleição conseguiu protagonis­mo no Congresso e viabilizou a derrubada da presidente em dois anos. De lá pra cá as coisas só pioraram. O que alavancou um candidato que se apresenta como diferente de tudo que aí está (embora estando há trinta anos na política) e que promete resolver todos os problemas do país, principalm­ente a segurança pública.

O caldo desta eleição foi formado com protestos, pedidos de intervençã­o militar, candidatos impedidos, presos, corrupção, inseguranç­a e até um presidente mais impopular da história, que parece ver de longe a disputa. De tudo isso, pouco se discute de fato de forma racional, A emoção tem sido a tônica, Os candidatos passam o maior tempo dando explicaçõe­s de seus atos do que com propostas. Nas redes sociais as notícias falsas são comuns e não se pode crer em mais nada. O que importa é desacredit­ar o adversário, mesmo que para isso seja preciso contratar exércitos de “robôs”.

Diante de tal realidade precisamos pedir aos candidatos e depois aos eleitores e torcedores, que tenham mais respeito pelo País. Que haja mais respeito pelas pessoas que desejam escolher com as melhores informaçõe­s possíveis. E que acima de tudo respeitem a democracia. Pois é a democracia que permite escolhas, mas a cidadania só pode ser exercida se for acompanhad­a de discussão séria e em cima de propostas concretas e os candidatos precisam ser o mais claro possível em suas pretensões. É claro que as informaçõe­s negativas devem ser buscadas também sobre os candidatos, mas isso com pesquisas em veículos sérios e em documentos oficiais, a fim de evitar injustiças.

A continuar a irracional­idade em que estamos somos tentados a imaginar como o ganhador desta eleição governará. Com certeza os perdedores farão uma oposição raivosa, talvez até maior que a da última eleição, e assim como foi nefasto para o país o será ainda mais agora. Portanto a hora é de boas escolhas. A hora é de tentar eleger quem tenha capacidade de conciliar um futuro governo e conseguir dar estabilida­de institucio­nal e política e não quem possa causar mais danos à nossa frágil democracia.

Precisamos pedir aos candidatos e eleitores que tenham mais respeito pelo País

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