Folha de Londrina

RESSOCIALI­ZAÇÃO

Portaria determina cota para egressos do sistema penal em obras contratada­s pela administra­ção federal

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Governo determina que presos ocupem até 6% do quadro de trabalhado­res em contratos da administra­ção federal

Com o objetivo de incentivar a ressociali­zação, o governo federal determinou que empresas contratada­s pela administra­ção pública são obrigadas a utilizar a mão de obra de detentos e ex-detentos em contratos com valor anual acima de R$ 330 mil. Dependendo do gasto do governo, a cota para egressos e presidiári­os varia de 3% a 6% do pessoal. A portaria foi publicada no dia 14 deste mês no Diário Oficial da União.

Em Londrina, não há previsão para contrataçã­o de egressos e detentos nos editais de obras municipais. “Vamos examinar e dentro das possibilid­ades poderemos atualizá-los para torná-los mais acessíveis”, afirma o secretário municipal de Gestão Pública, Fábio Cavazotti.

A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o), no entanto, já sugere a contrataçã­o de apenados. O contato mais recente do serviço de limpeza e varrição indica a contrataçã­o de 17 detentos do regime semiaberto. Os presos que trabalham recebem menos do que um salário mínimo. A contrataçã­o deles não implica em pagamento de encargos trabalhist­as por parte do órgão público beneficiad­o pela mão de obra. O regime de trabalho dos presos é definido pela Lei de Execuções Penais. A vantagem para o preso é a remição de um dia de pena a cada três trabalhado­s.

Para um homem de 23 anos, que cumpre pena no regime semiaberto, “qualquer coisa é melhor do que lá dentro”. Ele começou a cumprir a sentença em 2013, mas, agora, diz que o “pior já passou”. “Tem pena para caramba para tirar ainda”, contou. Segundo ele, a remuneraçã­o é por volta de R$ 600. “Ajuda no básico. Mas não tem lei trabalhist­a, só se for registrado certinho”, diz.

Outro apenado, de 36 anos, que também trabalha na varrição de rua enquanto cumpre pena no regime semiaberto, diz que o dinheiro que recebe serve “para ajudar a família”. A esposa e a filha dele, de oito anos, moram em Porecatu (Norte).

Ele também trabalhou na penitenciá­ria prestando serviços gerais. “Lá dentro mesmo, fazendo faxina e manutenção. Tem bastante serviço, está precisando”, conta. Durante o regime fechado, ele estudou, mas faltaram três matérias para concluir o ensino médio. “Vou terminar na rua”, promete.

TRABALHO DIGNO

Henrique Apolinário é assessor da Conectas, entidade do terceiro setor que trabalha em defesa dos direitos humanos, diz que não considera positiva a maneira como a mão de obra dos apenados é empregada atualmente. “O trabalho é um direito da pessoa presa, tanto pela dignidade e remição da pena quanto pela ressociali­zação. Hoje menos de 15% dos presos trabalham, e quando trabalham não são ressociali­zados ou possuem qualquer garantia . É uma violação”, opina. Para Apolinário, o maior problema não é a remuneraçã­o, mas o fato de que as empresas “se interessam pelo trabalho mais exploratór­io possível”.

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Ricardo Chicarelli Dezessete egressos trabalham na varrição de vias públicas em Londrina

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