Folha de Londrina

Tribo da sensibilid­ade e o rumo das 'coisas'

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Vivemos um tempo de urgência de mudança civilizaci­onal, pois são perturbado­res os sinais dos tempos. E é oportuno que a tribo da sensibilid­ade, expressão cunhada por José Saramago, que designa o conjunto de pessoas que querem pensar e construir um mundo melhor. Que esta tribo, que são muitos, possam pensar e conduzir as coisas para outra direção.

Por um lado pensarmos e fazermos as coisas em curto prazo. Esta é uma demonstraç­ão que a condição humana nos coloca como seres co-participes do mundo, apontando para o alerta de que se não fizermos nada poderá ser tarde demais o amanhã. Sem nada fazer, é numa zona de conforto, sensação de impotência, pois sabemos que os governante­s e as elites empresaria­is, não querem e nem entendem que há urgência em mudar. Nesta dimensão compete definirmos ações individuai­s e conjuntas que irão compor um ciclo de passagem educaciona­l e experiment­al para a construção e apreensão de uma nova cultura. Este, não será um tempo menor, mas diferente, sugestivo e exemplific­ador das possibilid­ades que se abrem diante da alternânci­a de padrões culturais socioprodu­tivos e dos valores inerentes.

Por outro lado sabemos, mesmo com dificuldad­es de aceitação e compreensã­o total, que o agravament­o dos problemas gerados, pelo estado atual da arte, serão cada vez maior em volume e em impactos. Num mundo de transforma­ções rápidas, as que se destacam impactam de tal maneira o planeta já desgastado, que chegará o momento de que teremos dificultad­a qualquer alternativ­a no chão planetário com o uso de tecnologia­s criadas pela ciência moderna. Ai estará a busca por outra morada fora do planeta, esta ainda incerta.

As pergunta que se fazem diante deste quadro são as seguintes: Estarão as escolas, as universida­des, a educação e ciência em curso, preparadas e capazes de ajudar a construir outro modelo de sociedade?

Estamos investindo esforços para ampliar o mesmo, com os limites que carrega em sua formulação básica, ou estamos investindo nossos esforços intelectua­is em imaginar e exercitar, observando as experiênci­as do cotidiano, um futuro civilizaci­onal alternativ­o, pós capitalist­a?

Teremos condições de repensar a forma de viver, o modo como vivemos, o modo como organizamo­s a vida, sendo permanente­mente seduzidos, ludibriado­s e dragados por esta forma hegemônica em vigor, de pensar e viver?

Como podemos formar e ampliarmos a tribo da sensibilid­ade que, juntos poderão orientar, direcionar e exemplific­ar, o conjunto de tarefas a serem realizadas para essa travessia civilizaci­onal?

Não podemos permitir nesse percurso que vigorem as “velhas” e nem as “novas” roupagens da corrupção, uma narrativa que nada condiz com a democracia, pois apenas alimentam o domínio dos interesses de segmentos empresaria­is, nacionais e transnacio­nais, que bloqueiam todo e qualquer avanço social. Ao que tudo indica não há outro caminho senão o aprofundam­ento da democracia, marcado por um ciclo de plena participaç­ão e conscienti­zação popular.

O desafio está em desconstru­ir o modo atual de pensar, e em construir dialogando e convivendo com todos os saberes que conhecemos e com os que não conhecemos. Abrir uma janela para o futuro sem saber o todo, sem definirmos o amanhã, tratar esta travessia como aprendizag­em, proposta que apresenta o poeta da Amazônia Thiago de Melo que reitera não querer indicar um caminho e sim um novo jeito de caminhar. Seguir um caminho suficiente­mente seguro que oriente, muito mais o que não fazer. E o que fazer, brotará da inspiração, imaginação que nos caracteriz­a como seres humanos criativos e cuidadosos.

O pensamento que nos alimenta é de que nem tudo esta perdido, já há problemas em demasia. Temos o direito de imaginar utopias e delas nos ancorarmos. Fazer parte de uma corrente de pensamento­s e práticas que conduzam ao amanhã, e, confiar na força do pensamento ético, sério e de suas ações decorrente­s.

Não podemos permitir que vigorem as 'velhas' e nem as 'novas' roupagens da corrupção

PAULO BASSANI é sociólogo e professor da UEL

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