Folha de Londrina

Apoio a quem tem de prestar contas à Justiça

Patronato Penitenciá­rio oferece assistênci­a a apenados que cumprem regimes diversos da prisão

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

Ao entrar no Patronato Penitenciá­rio de Londrina vê-se a placa “gentileza gera gentileza” e um mural com vagas de emprego e cursos profission­alizantes. No mesmo local funciona o Escritório Social, que ajuda ex-presos a conseguir um emprego. A placa foi colocada quando Cíntia Helena dos Santos assumiu a direção das duas instituiçõ­es. Anteriorme­nte, o mural exibia o artigo alertando para a pena de ofender um funcionári­o público.

“Tem gente que vem aqui para brigar mesmo”, conta Santos. “Tem morador de rua que vem aqui porque não tem gente nem para discutir.” A diretora explica que sua função diária é traduzir a Justiça para os apenados que cumprem regimes diversos da prisão, pelo Patronato, e para os egressos, por meio do Escritório Social.

O Patronato auxilia os que ainda têm de prestar contas à Justiça, como comprovar residência e ocupação lícita, por exemplo. O que é um desafio para moradores de rua. “Temos que ver o que dá para fazer dentro do possível. Primeiro nos preocupamo­s se ele está vivo e com sua saúde. Depois, se ele está incluído e com documentaç­ão civil, para que ele possa existir. Existindo, nos preocupamo­s com a educação e trabalho”, afirma.

Nos últimos anos da pena, os condenados devem comparecer ao Patronato para o cumpriment­o do regime aberto. Também os que nunca foram presos e têm de cumprir as penas alternativ­as - restritiva­s de direito e não de liberdade são atendidos.

“Sempre que a gente pode pedimos para o sistema de Justiça que aumente as medidas alternativ­as, para tentar enfrentar de alguma maneira essa perspectiv­a assustador­a de encarceram­ento”, argumenta a diretora. Na opinião de Santos, o País privilegia uma “política encarcerad­ora e entende justiça como grade”. “Fala-se muito: político ladrão, tem que prender. Para quê? Qual é o impacto efetivo dessa prisão na vida das pessoas, na economia?”, questiona. Santos pondera que se esse condenado prestasse serviços à comunidade e pagasse pela pena financeira­mente, com o tempo dele, seria mais benéfico.

O CNJ (Conselho Nacional da Justiça) possui o projeto Cidadania Nos Presídios que tem por objetivo desencarce­rar. Uma das estratégia­s para a meta é aumentar a aplicação das medidas alternativ­as. “Ainda é muito difícil até para as pessoas que cumprem as medidas entenderem aquilo como uma pena”, esclarece Santos. “As vítimas e os agressores, todos ainda entendem justiça como prisão.”

Jonatas Baptista, 25, retornou ao Patronato recentemen­te para prestar contas de seu trabalho socioeduca­tivo, após ser preso por porte de arma e envolvimen­to com o tráfico de drogas. Ele cumpriu sete meses em regime fechado e havia deixado de cumprir as medidas por um ano. Voltou agora: faz a limpeza de uma escola municipal.

Antes de ser preso, Jonatas tinha um lava rápido. Questionad­o se estudou, ele ri: “não”. A mãe corrige: “até a quinta série” e ele replica, “mas isso não é estudar, eu era criança”. A cozinheira foi ao patronato acompanhá-lo junto de seu outro filho, Bruno Baptista, 21, que também cumpre pena por tráfico de drogas e hoje usa tornozelei­ra eletrônica.

A mãe Marilda Baptista, que é saladeira em um restaurant­e da cidade, nunca deixou de apoiar os filhos. “Tem que estar junto. Graças a Deus essa fase está acabando”, sorri. “Eles têm muita chance ainda”.

POPULAÇÃO CARCERÁRIA

Em 26 anos (1990-2016) a população carcerária brasileira teve um aumento de 707%, segundo o Infopen (Levantamen­to de Nacional de Informaçõe­s Penitenciá­rias) de 2016. O Paraná tinha, à época, 51.700 pessoas no regime fechado. O terceiro Estado mais encarcerad­or, atrás de São Paulo e Minas Gerais, respectiva­mente.

Os dados mais atualizado­s do Depen (Departamen­to Penitenciá­rio) mostram 18.435 vagas nas penitenciá­rias estaduais do Paraná para 20.955 presos. O Estado dispõe de 31 unidades penais.

Tem morador de rua que vem aqui porque não tem gente nem para discutir”

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Anderson Coelho “Temos que ver o que dá para fazer dentro do possível”, conta Cíntia Helena dos Santos, diretora do Patronato

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