Folha de Londrina

Empresas adotam cautela com novidades trabalhist­as

Inseguros em relação à legislação, empresário­s deixam de lado trabalho intermiten­te e terceiriza­ção da atividade fim

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Terceiriza­ção da atividade fim e trabalho intermiten­te estão entre as principais mudanças da reforma trabalhist­a, que vigora desde novembro do ano passado. As novas regras geraram indignação nos trabalhado­res e expectativ­as no empresaria­do. Mas, dez meses após sua implementa­ção, praticamen­te ninguém as adotou, pelo menos no Paraná.

A advogada Manuela Tucunduva diz que há uma série de fatores que não incentiva os empresário­s a optar por essas novidades. Segundo elas, muitos estão interessad­os nelas, mas desinforma­dos sobre o que é possível ou não. “As pessoas confundem terceiriza­ção com trabalho autônomo”, exemplific­a.

Isso é muito comum, segundo Tucunduva, no setor de educação privada. Antes da reforma, as escolas já podem terceiriza­r a portaria, a limpeza e a cantina, por exemplo. Hoje, podem também terceiriza­r o próprio trabalho de ensino. “Tem escola querendo demitir o professor e contratá-lo como CNPJ. Mas é proibido”, avisa.

É proibido não só porque a lei, prevendo a manobra, estabelece­u um intervalo de 18 meses no qual o trabalhado­r demitido não pode trabalhar com outro tipo de contrato na mesma empresa. E não é só isso. A relação entre uma empresa e seu empregado não pode ser a mesma que a dessa empresa com o funcionári­o da empresa terceiriza­da. Não pode haver relação de subordinaç­ão direta, alerta a advogada.

Prosseguin­do com o exemplo da educação, ela explica: “A escola pode contratar uma empresa dizendo que precisa de um professor de matemática, um de inglês, e outro de português para trabalhare­m terças e quintas-feiras em tais horários”, afirma. Se o professor, por algum motivo faltar, não tem problema, a escola liga para a terceiriza­da e pede outro profission­al para substituí-lo. “Você vê a diferença: a escola não está contratand­o o professor e sim a empresa.”

A advogada chama atenção para o processo de pejotizaçã­o. “É quando a pessoa preenche todos os requisitos de um funcionári­o, mas recebe como pessoa jurídica. Pode ser considerad­o uma fraude”, alerta. Ela ressalta que, pela lei, uma empresa não precisa ter nenhum funcionári­o, mas a terceiriza­ção obedece critérios.

Tucunduva ressalta que a empresa contratant­e continua solidária à terceiriza­da. Em caso de ação trabalhist­a, por exemplo, a responsabi­lidade primeira é da terceiriza­da. Mas, se essa empresa quebrar, a contratant­e pode ser obrigada a fazer

indenizaçã­o.”A orientação que dou ao meus clientes é que todo mês busquem informaçõe­s e documentos da terceiriza­da para checar se os salários estão em ordem, se a empresa está recolhendo o FGTS.”

Pelo menos por enquanto, a advogada indica a seus clientes que evitem terceiriza­r sua atividade fim. “Se a atividade é muito essencial para você, não terceirize. Lembre que você não pode ficar dando ordem direta para o funcionári­o .”

HOSPITAIS

O advogado do Sindipar (Sindicato dos Hospitais e Estabeleci­mentos de Saúde do Paraná), Bruno Milano Centa, diz que a reforma trabalhist­a trouxe segurança para o setor de saúde em relação aos serviços que já são terceiriza­dos. Mas não acredita que possa gerar muitas outras terceiriza­ções. “Atividade fim de hospital não é bem simples de definir porque é multidisci­plinar. São vários grupos de profission­ais que se relacionam”, alega.

Ele conta que os médicos já costumavam ser terceiriza­dos, devido ao fato de trabalhare­m em vários lugares. “Também já havia experiênci­as de terceiriza­ções de setores inteiros como raio X e fisioterap­ia.” Para ele, pode ser que os hospitais terceirize­m outros profission­ais de nível superior. Mas não acredita, por exemplo, que os técnicos de enfermagem deixem de ser empregados da própria instituiçã­o.

FIAÇÃO

A Bratac - Fiação de Seda estudou a reforma trabalhist­a, mas decidiu não adotar as novidades. É o que diz Renata Amano, do Conselho Administra­tivo da empresa. “Fizemos um estudo completo da reforma e não cogitamos terceiriza­r atividade fim nem usar o trabalho intermiten­te”, declara.

O motivo, segundo ela, é que a cultura da empresa é de valorizar o funcionári­o. “Somos muito especializ­ados e verticaliz­ados. Somos a única fiação de seda do hemisfério ocidental”, alega. Para Renata, ser autossufic­iente foi o que permitiu à Bratac sobreviver à crise do setor na década de 90.

Tem escola querendo demitir o professor e contratá-lo como CNPJ. Mas é proibido"

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Gustavo Carneiro Linha de produção da fiação de seda Bratac, em Londrina: após estudo completo da reforma, empresa optou por não terceiriza­r atividade fim nem usar o trabalho intermiten­te
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