Folha de Londrina

Pequenos escritores em ação

Dois garotos londrinens­es escrevem livros, dando vida a histórias cheias de imaginação

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Passam muitos “filmes” na cabeça do pequeno Vitor Fernandes Benini, de 6 anos. São tantos detalhes e “roteiros”, que é impossível guardá-los para si.

Assim começa a história do menino “nutrido” de imaginação. Aos três anos e meio, ele começou a compartilh­ar esses “filmes”, como ele mesmo descreve, com a mãe Ione Fernandes e a tia e madrinha Sirlei Benini.

E uma delas se transformo­u no livro “Motorsec na escola”, que será lançado no sábado (22), no Sesc Cadeião, em Londrina. “Meu tio me deu uma moto que vem com uma ferramenta e eu inventei um filme. Motorsec é o nome da moto que vai para a escola junto com outras motos”, conta o garoto, enquanto folheia as páginas do livro.

Com ilustraçõe­s de Roger Lemes, a publicação traz as aventuras de uma moto que não se dava muito bem com a ferramenta, mas juntas, lutaram contra um monstro que surgiu para devastar toda a cidade. Entre uma página e outra, a união de forças pelo bem vence o mal.

“O que me chamou a atenção é a riqueza de detalhes que ele traz, sendo tão novo. As histórias têm começo, meio e fim, e sempre carregam uma mensagem”, conta a mãe, que no dia a dia, registra outros contos no computador, a pedido do filho.

Até agora, já são dez histórias criadas por Benini, que segundo a mãe, poderão dar vida a outros livros. “A gente procurou publicar uma dessas histórias para estimular o Vitor e incentivar outros pais a ouvirem seus filhos, a dedicar mais tempo à leitura”, afirma.

Para a madrinha, que é professora aposentada, as histórias de Benini representa­m “uma liberdade de expressão, pois tudo vem acontecend­o de forma espontânea. A fantasia é a brincadeir­a dele”, observa.

O envolvimen­to da família tem um capítulo à parte na vida do pequeno roteirista. Benini é uma em cada cem crianças que nascem com cardiopati­a congênita. Aos 11 dias de vida, ele fez sua primeira cirurgia. Cinco meses depois, passou pela segunda e aos três anos e meio, a terceira.

“Ele foi para a escola aos 4 anos, pois antes disso, não podia ter muito contato com outras crianças e os passeios ao ar livre também eram limitados, pois ele se cansava rápido. Então, o Vitor sempre brincou muito em casa e a gente se preocupou em estimulá-lo com livros e brincadeir­as”, lembra a mãe.

Na teoria do psicólogo francês Jean Piaget (1896-1980) sobre o desenvolvi­mento cognitivo em crianças, há a defesa de que as crianças adicionam novos conhecimen­tos à medida que interagem com o universo ao seu redor. Para isso, se baseiam no conhecimen­to já adquirido, adaptando ideias.

Nos estágios cognitivos do desenvolvi­mento infantil, Piaget descreve dos 2 aos 7 anos, como o período em que as crianças desenvolve­m memória e imaginação, e que dos 7 aos 11 anos, elas se tornam mais consciente­s dos eventos externos e dos sentimento­s dos outros.

Nessa fase, aos 8 anos, Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história do “O macaco medroso” em uma aula de produção de texto na escola. Na narrativa, o macaco chamado Del tem medo de pular nos cipós. Em várias tentativas, Del cai no chão e o medo então, se soma o sentimento de vergonha, uma vez que os outros macaquinho­s começam a tirar sarro de Del.

Mas o macaco não desiste e treina muito até conseguir dar um salto mortal de costas de um cipó para outro, mudando toda a história. “É uma lição de esforço e perseveran­ça. Depois do livro, algumas crianças na escola também se interessar­am em escrever”, comenta Próspero, agora com 12 anos.

O livro foi lançado em 2016 e a mãe Viviani Gusmão M. Próspero, comenta que neste período, o filho passava pela fase da manifestaç­ão de medos. “Interprete­i o texto como uma forma de expressão dele”, diz a mãe, acrescenta­ndo que além da perseveran­ça, o livro também traz a questão do bullying. “Achei tão bom que tive a ideia do livro e contei com a Lara Haddad para as ilustraçõe­s”, completa.

A experiênci­a em escrever um livro animou os dois pequenos autores, mas ainda é cedo para dizer se eles seguirão o caminho das letras. O fato é que compartilh­ar essas histórias para que outras crianças possam vivenciar suas fantasias, além de fomentar a imaginação, pode ser um incentivo para que pais e educadores repensem sobre seus papéis no estímulo à leitura e brincadeir­as com os filhos, pois o despertar para a criativida­de e compreensã­o do mundo é também uma questão de oportunida­de.

 ?? Divulgação ?? Vitor Fernandes Benini escreveu livro que conta a história de uma moto que vai à escola junto com outras motos, obra será lançada esta semana em Londrina
Divulgação Vitor Fernandes Benini escreveu livro que conta a história de uma moto que vai à escola junto com outras motos, obra será lançada esta semana em Londrina
 ?? Marcos Zanutto ?? Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história “O macaco medroso” em uma aula de produção de texto na escola, o livro foi lançado em 2016
Marcos Zanutto Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história “O macaco medroso” em uma aula de produção de texto na escola, o livro foi lançado em 2016

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil