Foco de candidata é ‘denunciar o golpe’
Candidata do PCO ao governo pretende utilizar tempo de televisão e espaço em entrevistas para defender a liberdade do ex-presidente Lula
A FOLHA apresenta nesta quarta-feira, na série de sabatinas com os postulantes ao governo do Estado, Priscila Ebara (PCO). Candidata pretende usar tempo de TV e espaço em entrevistas para defender liberdade do ex-presidente Lula. Ela critica partidos “da esquerda pequeno-burguesa” e apoia o armamento da população
As mulheres devem lutar ao lado dos trabalhadores, pelo direito dos trabalhadores”
Curitiba - Formada em Direito e Artes Visuais, mas desempregada atualmente, Priscila Ebara (PCO) tem 42 anos. Filiou-se ao PCO (Partido da Causa Operária) em março de 2018, justamente com o objetivo de disputar, pela primeira vez, as eleições. É mãe de uma menina de quatro anos e natural de Santa Mariana, no norte do Paraná. Seu objetivo, destaca, é utilizar o tempo de televisão e as entrevistas na imprensa para denunciar “o golpe” que diz ter sido cometido contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT ), preso desde 7 de abril. Sexta entrevistada na saabtina da FOLHA com os candidatos e candidatas ao governo do Paraná, ela fala também sobre as bandeiras do PCO, critica os partidos “da esquerda pequeno-burguesa”, inclusive o PT, e defende “o direito da população se armar”.
POR QUE A CANDIDATURA
“Nosso partido segue o centralismo democrático . Decidimos lançar candidatos pelo Brasil todo, para denunciar o golpe. As propostas dos candidatos - tanto da esquerda pequeno-burguesa como da direita - nesse momento não são praticáveis, porque estamos num regime golpista.”
APOIO A LULA
Neste ano, o PCO não lançou nome próprio à presidência porque decidiu apoiar a candidatura de Lula, que acabou sendo barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral ( TSE). Priscila Ebara foi questionada pela FOLHA se não considera contraditório o partido defender um governo da classe trabalhadora e apoiar o PT, que esteve no poder por 13 anos. “Nós estamos defendendo a candidatura do Lula. O PCO não está coligado com o PT. Consideramos o Lula um candidato que representa a classe trabalhadora, porque ele vem de uma vida proletária. É um candidato do povo”, respondeu. A entrevista foi realizada antes de o TSE vetar a candidatura do ex-presidente. “A gente considera que o Lula fez um governo para os trabalhadores dentro da democracia burguesa. Para fazer mais não dá para fazer conciliação com a burguesia. Tem que derrubar. O Lula foi fazendo o que era possível, aos pouquinhos, até que chegou um ponto em que mesmo esse pouquinho a burguesia não queria mais aceitar, e deu um golpe. A Dilma não cometeu crime de responsabilidade. No dia seguinte que ela caiu, as pedaladas foram legalizadas. E esse processo do Lula está sendo mais ridículo ainda. Se não fossem esses monopólios de comunicação que trabalham para a burguesia, esses jornais de grande circulação, da mídia, tanto faz se aberta ou não ... . ”
DIVISÃO ENTRE AS ESQUERDAS
A candidata do PCO fala sobre a pulverização dos partidos de esquerda nestas eleições. “A gente considera o PSOL, no caso, um partido pequeno-burguês, aquele partido que é de esquerda, mas defende as pautas da direita. Uma delas é essa questão de lançar candidatura. A gente sabe que o Boulos (PSOL-SP) não vai ganhar, está com 2%. A Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) é vice do vice, uma coisa ridícula. O certo seria esse pessoal se unir e derrubar o golpe. Esses são os candidatos abutres. Ficam esperando a morte do Lula para comerem a carcaça do que sobrar - Boulos, Manu e outros mais que surgirem na esquerda nesse momento. E tem ainda o PSTU, que nem reconhece o golpe.”
TEMPO DE TV
Mesmo com o pouco tempo de TV destinado ao PCO, Priscila Ebara afirma que a propaganda eleitoral é uma oportunidade de o partido expor o programa de governo e fazer com a sociedade conheça melhor a legenda. “Se todos os trabalhadores resolverem parar de trabalhar, a burguesia para de ganhar e os direitos vão ser atendidos. É lógico que vão usar o aparelho repressivo do Estado, que é a polícia. Mas é a conscientização de classe. Apoiamos a greve geral, as ocupações e qualquer ação que propulsione o enfrentamento geral com os detentores do poder - banqueiros, multinacionais, petroleiras e países imperialistas. A gente usa esse espaço para isso. Temos consciência de que não vamos ganhar as eleições. A gente tem uma visão realista. Mas nós temos direito de utilizar, de fazer parte. A gente participa porque consegue se comunicar com um número maior de pessoas”.
ESTRUTURAÇÃO DO PARTIDO
A candidata do PCO admite que o partido ainda não tem uma militância mais ativa, mas avalia de forma positiva o número de filiados da legenda. “Fizemos uma campanha de filiação durante a Caravana do Lula. Filiamos um número bom. Mas de ação, militância, não temos muito. São oito pessoas em Curitiba. Tem também os simpatizantes. Estamos com o comitê no acampamento Marisa Letícia e queremos montar um no centro.”
EXPERIÊNCIA POLÍTICA
A eleição para o governo do Estado é a primeira experiência de Priscila Ebara como candidata. “Nunca disputei (outros cargos eletivos). Não tenho muita experiência com política. A primeira vez que me filiei a um partido foi ao PCO, em março deste ano. Estou estudando.”
REPRESENTATIVIDADE FEMININA
A FOLHA questionou a candidata sobre como ela avalia a baixa representatividade feminina na corrida ao Palácio Iguaçu, já que ela e a atual governadora são as únicas mulheres entre os dez candidatos ao governo. “No PCO a gente defende uma questão mais profunda. As mulheres devem lutar ao lado dos trabalhadores, pelo direito dos trabalhadores. A inspiração é a Revolução Russa; não o modelo, porque a Rússia ainda era um país muito camponês. Segundo Marx, o Estado precisa ser mais modernizado, como hoje”, afirma. “Na Revolução Russa, essas coisas ficaram muito claras. Aconteceu a revolução, o governo foi tomado, as terras foram divididas e as mulheres tiveram direito ao divórcio de uma hora para outra. A democracia que temos hoje é uma democracia burguesa. O que às vezes leva anos e anos para se resolver na Revolução Russa foi resolvido ‘assim’ . Então, a gente chama as mulheres para lutar pelos direitos dos trabalhadores e, juntamente com isso, os direitos das mulheres vão ser adquiridos.” “Primeiro vem a questão de classe. Se você consegue uma lei que pune um homem que te xinga, por exemplo, o que isso vai mudar exatamente na minha vida como oprimida? Vai impedir que eu chegue em casa, tenha que lavar a roupa, fazer almoço e dar banho na minha filha? Vai resolver alguma questão prática na minha vida?”.
LEIS RELACIONADAS AO FEMINICÍDIO
“Nós defendemos armamento da população. Não assim como alguns políticos defendem, da população sem dinheiro, mas o armamento de todas as pessoas que queiram, como direito democrático. Se uma mulher quiser se armar, ela pode. População rural, da cidade... Tem gente que fala: ‘então vocês apoiam que vire uma selvageria?’ Não sei. Por mim, não pelo partido, acredito que quem quer se armar para matar o outro já está armado. A gente vê tanta situação de briga... O pensamento do partido é que o direito ao armamento é um direito democrático de autodefesa. Se uma pessoa vier me bater, eu posso pelo menos dar um tiro no pé do cara.”
As entrevistas também podem ser ouvidas na íntegra no formato podcast utilizando aplicativo capaz de ler QR Code e posicionando no código abaixo: