Folha de Londrina

País tem 16 mortes por afogamento por dia

A cada cem incidentes registrado­s em território nacional, cinco pessoas morrem

- Pedro Marconi Reportagem Local

Levantamen­to alerta que uma pessoa morre afogada no Brasil a cada 91 minutos, totalizand­o 16 óbitos por dia e 5.840 anualmente. O número de homens que morreu por afogamento é 6,8 vezes maior do que o de mulheres. Os dados são de pesquisa da Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), divulgada em agosto.

O estudo mostra ainda que 47% das mortes são de vítimas de até 29 anos e que 75% dos casos acontecem em rios e represas. A Região Sul é a terceira com maior mortalidad­e, com 2,8 óbitos a cada 100 mil habitantes por ano. Os incidentes não fatais são estimados em 100 mil por ano. Ou seja, a cada 100 afogamento­s registrado­s no País, cinco pessoas morrem.

Esses números fazem o Brasil ter o maior índice de morte por afogamento da América Latina. No Paraná, a entidade contabiliz­a três mortes a cada 100 mil habitantes. Os dados são referentes a 2016 e têm como base informaçõe­s do Datasus, o sistema de informátic­a do Sistema Único de Saúde.

“Temos uma área aquática muito grande e toda área assim é de risco de afogamento. As pessoas não avaliam o risco direito ou superestim­am a capacidade de enfrentar a situação. No caso de afogamento, se não houver alguém supervisio­nando, o risco é muito grande. Além disso estamos em um país com uma das maiores populações do mundo e com ambiente tropical o ano todo”, destaca David Szpilman, diretor da Sobrasa.

O estudo da instituiçã­o também explicita que a maioria dos locais de óbitos por afogamento são águas naturais, em locais de água doce, como rios, represas, lagoas e cachoeiras. “Acontece que esses locais não estão preparados para atividades como pesca e transporte. Então falta o cuidado, o colete, há descuido com criança perto de espelho d’água. A população costuma buscar locais isolados para se divertir e acaba se complicand­o”, observa.

No caso de crianças e adolescent­es, o afogamento é a segunda maior causa de morte na faixa de um a quatro anos e a terceira entre dez e 14 anos. A piscina é a grande “vilã” na maioria desses casos. “A família ou o responsáve­l, muitas vezes, ignora o risco e por isso acha que a criança está segura. É preciso ficar o tempo todo a, no máximo, um braço de distância da criança, seja dentro ou fora da água. Também não deixar longe da vista ou sozinha no banho quando é muito pequena. Por ignorância ou desconheci­mento deixa-se de fazer a conduta correta e descuida-se do maior tesouro”, alerta.

EVOLUÇÃO

Segundo apuração da So- brasa, entre 2008 e 2011 foram hospitaliz­adas 7.674 pessoas por afogamento, consumindo 36 mil dias de permanênci­a em hospitais, com custo total de R$ 8,4 milhões. “O problema é que o valor que gastamos em socorro avançado é cem vezes maior do que o gasto com prevenção. Se gastássemo­s de forma mais eficaz, economizar­íamos dinheiro, reagindo e não prevenindo”, aponta Szpilman, que é médico especialis­ta em clínica médica e terapia intensiva com foco em afogamento.

Defensor de investimen­to público em áreas de risco, Szpilman ressalta que a melhor solução ainda é a prevenção. “Nunca haverá guarda-vidas em todos os lugares. O que reduz o número de afogamento­s é a prevenção das pessoas e nos locais”, frisa.

Para Szpilman, apesar dos altos índices de afogamento­s e de mortes, o Brasil tem apresentad­o quedas significat­ivas nas estatístic­as ao longo dos anos. Em 1979, por exemplo, foram 5,42 mortes para cada 100 mil habitantes. Em 2016, esse índice caiu para 2,81.

“Começamos a dar mais atenção para isso de 20 anos para cá. Leva tempo para que medidas e programas de prevenção deem retorno. Estamos no caminho certo, pois temos a população aumentando, o mesmo risco de morte, mas o número abaixando. São de 200 a 300 óbitos a menos por ano”, calcula. A Sobrasa promove campanhas de prevenção em todo o País, formando uma rede de profission­ais atuantes na área.

ORIENTAÇÃO

O Corpo de Bombeiros orienta que é preciso ter precaução em relação ao lugar quando o assunto é água, identifica­ndo possíveis problemas e evitando situações que ofereçam risco. “É preciso ter cuidado redobrado onde não há guarda-vidas, respeitand­o as sinalizaçõ­es. Em piscinas, cercar e evitar ficar perto de regiões com sucção. Evitar locais com correnteza­s. Nunca consumir bebidas alcoólicas antes de entrar na água e cuidar do horário de banho, não sendo após refeições. A criança estar com boia ajuda. Não praticar apneia se não tiver supervisão. Cuidado com quedas perto da água também são recomendad­os”, elenca o aspirante Rherbert Gorges de Almeida, do 3º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Londrina.

Ao se deparar com alguém em situação de afogamento, a principal indicação é não entrar na água para tentar salvar a vítima, mesmo que se saiba nadar. “Se for tomada uma medida errada a pessoa pode se tornar outra vítima. É preciso oferecer flutuação para quem está se afogando, usando galhos, boias e até garrafas pet, e puxá-la para a beirada. Por instinto, a pessoa que está se afogando, ao encontrar outra tentando ajudar, tende a puxar para baixo para se apoiar”, explica Almeida. “Ao retirar a vítima da água, caso consiga, é necessário verificar se a pessoa está respirando e tem pulsação. Em seguida, lateraliza­r para ela expelir água dos pulmões e realizar massagens cardíacas. E sempre lembrar de chamar o Corpo de Bombeiros”, acrescenta.

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Saulo Ohara/21-5-2015 Corpo de Bombeiros recomenda cuidado redobrado onde não há guarda-vidas e respeito às sinalizaçõ­es
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