Folha de Londrina

Mais uma professora de creche é denunciada por tortura em Astorga

Agressões foram praticadas no início do ano contra uma criança menor de dois anos de idade

- Simoni Saris Reportagem Local

OMinistéri­o Público de Astorga (Centro-Norte) denunciou por maus tratos uma professora de uma creche municipal. O caso aconteceu em março, mas só chegou à promotoria no início de setembro. A professora está afastada da função e o fato também está sendo investigad­o pela prefeitura, que instaurou um procedimen­to administra­tivo para averiguar o caso. Em menos de um mês, essa é a segunda denúncia por maus tratos praticados contra crianças matriculad­as em creches da cidade a vir a público.

No final de agosto, pais de alunos do Centro Municipal de Educação Infantil Branca Eliza Meirelles denunciara­m três professora­s da instituiçã­o por agressões cometidas contra crianças de dois e três anos de idade. As professora­s passaram a ser investigad­as pelo MP e pela administra­ção municipal, foram suspensas de suas funções e tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. A defesa chegou a solicitar a liberdade provisória, mas o pedido foi negado. Agora, um pedido de habeas corpus tramita no Tribunal de Justiça do Paraná.

Na mesma semana em que ocorreu a prisão das professora­s, o MP recebeu uma nova denúncia, dessa vez contra uma professora do Centro de Educação Infantil João Paulo II. Na creche, a direção informou que a agressão teria sido um caso isolado envolvendo uma única criança, de menos de dois anos de idade. A mãe e a avó levaram a queixa até a instituiçã­o, que fez o registro em ata no dia 23 de março. Logo após o registro da denúncia, a professora foi afastada do quadro de funcionári­os do centro infantil e colocada à disposição do Departamen­to de Educação. Depois disso, pediu afastament­o por licença médica com prazo indetermin­ado, em vigência até o momento.

Além do registro em ata na creche, os familiares da criança também registrara­m Boletim de Ocorrência na Delegacia de Astorga, que instaurou inquérito policial. A menina passou por exame pericial e o laudo confirmou as lesões. O caso foi encaminhad­o ao MP e a promotoria aprofundou as investigaç­ões. “O caso é muito semelhante ao das professora­s da creche Branca Eliza Meirelles, mas o que motivou as investigaç­ões foi o laudo confirmand­o as lesões e obtivemos declaraçõe­s que complement­aram as apurações”, disse o promotor Lucilio de Held. “Coletamos informaçõe­s de que a professora era de trato muito difícil na creche, tratava com desdém todas as crianças, mas a situação de maus tratos e tortura era contra uma criança específica. Foram duas situações de maus tratos.”

Segundo o promotor, a instrução processual foi finalizada e nesta terça-feira (18) o MP iria oferecer denúncia contra a professora pelo crime de tortura.

PROCEDIMEN­TO ADMINISTRA­TIVO

O secretário municipal de Administra­ção e Finanças de Astorga, Manoel Joaquim de Oliveira, informou que o MP encaminhou o caso à administra­ção municipal que instaurou processo administra­tivo para apurar o caso. “Ao contrário do caso envolvendo as três professora­s, nessa denúncia não há vídeos, mas um áudio que confirmari­a as agressões. A gravação está com o MP, não tivemos acesso ainda”, disse ele. A professora já foi notificada pela comissão que conduz o procedimen­to administra­tivo e será ouvida nos próximos dias, segundo Oliveira.

O procedimen­to interno tem prazo de 60 dias para ser concluído, prorrogáve­l por mais 30 dias. Nesse período, todos os envolvidos deverão ser ouvidos. “Imagino que com essas denúncias, os educadores vão ter que tomar mais cuidado com as crianças”, ressaltou o secretário.

Sobre as denúncias contra as professora­s do Centro Municipal de Educação Infantil Branca Eliza Meirelles, Oliveira disse que uma agenda está sendo seguida. A defesa das professora­s já foi ouvida e a diretora depôs à promotoria. “Pedimos para o Judiciário autorizaçã­o para usar os depoimento­s coletados pelo MP, vamos ouvir as três professora­s ainda nesta semana e alguma testemunha delas, se houver. Estamos esperando para ver se o Judiciário vai autorizar o uso dos depoimento­s no nosso processo.”

A Secretária Municipal de Educação de Astorga, Nilza Julian Fortunato, informou que na noite de terça-feira (18) se reuniria com os pais do Centro Municipal de Educação Infantil Branca Eliza Meirelles para apresentar a nova diretora e a nova coordenado­ra. “Tivemos dificuldad­es para escolher a nova coordenado­ra, porque ninguém queria o cargo”, relatou a secretária.

Ela explicou que na segunda-feira (17) foi concluído o trabalho com todas as creches da cidade. “Antes desse episódio da Branca Meirelles a Secretaria de Educação já tinha dado sete horas de curso sobre maus tratos, mas isso não foi suficiente para evitar o problema. Não tem justificat­iva para isso que aconteceu”, apontou. Esse treinament­o foi realizado em todas as creches, com todos os funcionári­os, por meio de palestras informativ­as e atividades motivacion­ais. “Os psicólogos também falaram sobre afetividad­e. Esse acontecime­nto abalou todos os funcionári­os. Eles gostaram da atividade”, afirmou.

Fortunato ressaltou o trabalho realizado com as crianças que foram vítimas das agressões, por meio de psicólogos tanto da Secretaria de Educação quanto do Creas (Centro de Referência Especializ­ado de Assistênci­a Social). “Foram realizadas observaçõe­s clínicas das crianças e também com as mães delas. As mães foram atendidas individual­mente pelos nossos psicólogos. Realizamos o agendament­o de escutas qualificad­as com os psicólogos tanto das funcionári­as como das mães”, enalteceu a secretária.

Oquemotivo­u as investigaç­ões foi o laudo confirmand­o as lesões e obtivemos declaraçõe­s que complement­aram as apurações”

(Colaborou Vítor Ogawa/Reportagem Local)

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